Mais da metade dos domicílios
brasileiros (54%) contam com pelo menos um automóvel ou uma motocicleta para o
deslocamento dos seus moradores. Essa proporção, relativa a 2012, representa um
aumento de 9 pontos percentuais na comparação com 2008, quando 45% dos lares
tinham um veículo particular. A tendência, segundo comunicado divulgado hoje
(22) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é que o número
aumente ainda mais nos próximos anos.
O cenário, segundo o Ipea,
aponta, de um lado, para o maior acesso da população, inclusive os segmentos de
menor renda, aos automóveis. De outro, indica intensificação dos desafios para
os gestores dos sistemas de mobilidade, uma vez que a maior taxa de motorização
dos brasileiros contribui para elevação no número de acidentes, de
congestionamentos e dos índices de poluição.
Problemas relativos à
mobilidade urbana, especialmente em regiões metropolitanas, foram apontados
como estopim das mobilizações que levaram às ruas, em diversas cidades do país,
milhares de brasileiros, em junho.
De acordo com o documento, o
fato de grande parte da população ainda não ter a propriedade de veículos pode
contribuir para uma piora ainda mais intensa nesse quadro nos grandes centros
urbanos, sobretudo nas regiões com menor percentual de motorização (Norte e
Nordeste).
"Cada vez mais, os
domicílios de baixa renda terão acesso ao veículo privado, já que metade deles
ainda não tem automóvel ou motocicleta, e as políticas de incentivo à sua
compra são muito fortes", diz o texto. "Resta ao poder público
estabelecer políticas para mitigar as externalidades geradas pelo aumento do
transporte individual, já que as tendências apresentadas corroboram a tese de
piora das condições de trânsito nas cidades brasileiras", acrescentam os
técnicos do Ipea, no comunicado.
Considerando a posse de
veículos privados por estado, o levantamento revela que os maiores índices são
verificados em Santa Catarina (onde 75% dos domicílios têm carro ou moto), no
Paraná (68%) e no Distrito Federal (64%). Por outro lado, Alagoas (32%) tem o
menor índice de motorização por domicílio.
O levantamento também traz
dados sobre o tempo de deslocamento entre casa e trabalho. Dois terços (66%) da
população gastam até 30 minutos diariamente nesse trajeto, "mas há uma
clara tendência de piora, em função do crescente aumento da taxa de motorização
da população conjugado com a falta de investimentos públicos nos sistemas de
transporte público ao longo das últimas décadas". Ainda segundo o
documento, 10% gastam mais de uma hora nesse deslocamento.
O estudo do Ipea mostra ainda
que as políticas de auxílio ao transporte, como o vale-transporte, atingem
pouco as classes sociais mais baixas. Aproximadamente 40% dos trabalhadores
brasileiros recebem esse tipo de auxílio, mas os menores percentuais de cobertura
estão nas famílias com renda per capita inferior a meio salário mínimo. Segundo
o estudo, apenas 11% das famílias nessa condição recebem auxílio-transporte,
enquanto entre as famílias com renda superior a cinco salários mínimos o
percentual é 36%.
De acordo com o comunicado,
esse cenário "levanta questões sobre a eficácia desse tipo de medida,
especificamente para os trabalhadores informais e os desempregados".
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