O Rio Grande do Norte é o quarto estado
brasileiro que menos solucionou crimes de homicídio de autoria desconhecida
praticados até 31 de dezembro de 2007.
Dos 1.171 inquéritos investigados dentro da Meta 2 da Estratégia Nacional de
Justiça e Segurança Pública (Enasp), que incluem os crimes com tal perfil, 673
foram finalizados, correspondendo a 57,5% do estoque inicial. Deste montante,
porém, 66% foi arquivado sem a indicação do possível autor do homicídio à
Justiça e 33% foram encaminhados à justiça com oferecimento de denúncia. No
Brasil, o índice de arquivamento de inquéritos relativos aos crimes dolosos –
com intenção de matar – chega a 78%, conforme dados do Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP) recentemente atualizados.
Após enviar agentes investigadores da Força
Nacional para o estado potiguar ainda em 2011 para reforçar o cumprimento da
Meta 2, a previsão da Enasp era de que, pelo menos, 90% dos inquéritos
potiguares fossem concluídos até junho de 2012. Não restasse o atraso de quase
três anos em relação ao prazo inicialmente determinado, a última movimentação
nos inquéritos relativos à Meta 2 localmente ocorreu em fevereiro passado. O
estoque atual é de 498 processos em tramitação
entre a Delegacia de Homicídios e a Promotoria Criminal do Ministério
Público Estadual, responsável pelo oferecimento das denúncias ao Judiciário.
Indagado sobre o elevado percentual de
arquivamento de inquéritos sem a elucidação do crime, a assessoria de imprensa
do Ministério Público Estadual informou, à TRIBUNA DO NORTE, que o órgão “tem
apresentado ações contínuas que evidenciam o comprometimento institucional com
o cumprimento da Meta 2 – Enasp”. Não foram detalhadas, porém, que “ações” são
essas, visto que, o percentual de denúncias ofertadas à Justiça é exatamente a
metade do volume de inquéritos baixados para arquivamento. Em nota, o órgão
ministerial ressaltou que somente promove “o arquivamento dos inquéritos
policiais após assegurar a realização de investigações mínimas em cada caso”.
Na tentativa de equacionar a discrepância entre
denúncias e arquivamentos, além da finalização do trabalho de investigação nos
processos estocados, a Coordenadoria de Apoio Operacional às Promotorias
Criminais agendou visita, para o início do próximo mês de maio, de
representantes do Conselho Nacional do Ministério Público a Natal. “A partir
das dificuldades vivenciadas na fase investigatória local, traçar alternativas
para viabilizar seu cumprimento, atualmente em vias de ampliação do prazo de
referência”, frisou o Ministério Público em nota. A vinda dos representantes do
CNMP para a elaboração das referidas “alternativas” para o cumprimento da Meta
2 se dará mais de cinco anos após o lançamento da própria Meta pela Enasp e
quase três anos depois de encerrado o prazo inicial para conclusão dos
trabalhos.
O Ministério Público Estadual apontou, ainda,
que as questões envolvendo os homicídios são complexas e sua resolutividade não
depende apenas da atuação do promotor de Justiça. “É preciso que o assunto seja
concretamente pautado como prioridade por todas as instituições envolvidas na
estratégia nacional”, acrescentou o órgão ministerial. Em nota enviada à
TRIBUNA DO NORTE, o Ministério da Justiça informou que “a Força Nacional
concluiu 795 Inquéritos Policiais que se encontravam na Delegacia de Homicídios
da Capital do Rio Grande do Norte, com remessa devida às autoridades
competentes”.
De acordo com os dados apresentados pela
assessoria de imprensa do Ministério da Justiça, o índice de resolutividade dos
Inquéritos apreciados pelos investigadores da Força Nacional alcançou 68%, com
a indicação de autor(es) do crime.
Bate-papo - José Augusto Perez Filho
Promotor-membro auxiliar da Enasp
Por quais motivos as investigações relativas
aos processos de mortes violentas e de autoria desconhecida são tão vagarosos?
Quais são as argumentações do MPRN encaminhadas ao CNMP?
Os MPs não precisam apresentar justificativas
ao CNMP sobre motivos que atrasariam o cumprimento das metas. No entanto, a
promotora de justiça Luciana D’Assunção sempre mantém contato conosco e aponta,
como principais motivos, atrasos nas conclusões dos inquéritos policiais. O que
remete à necessidade de se indagar à Secretaria de Segurança sobre tais razões.
Os IPs (inquéritos policiais) de mortes violentas precisam de celeridade, pois
quanto mais tempo separar a morte da investigação, menores são as
possibilidades de sucesso.
Em relação ao elevado índice de arquivamentos,
por quais razões ocorrem?
O CNMP não tem dados sobre os motivos dos
arquivamentos, mas a prática aponta o que mencionei anteriormente. Ou seja, se
há uma demora grande em se começar a investigação, fica mais difícil encontrar
testemunhas, provas científicas e, também, como muitas mortes são causadas por
envolvidos em crimes, o homicida de hoje, pode ser a vítima de amanhã. E o é várias
vezes, o que gera o arquivamento do IP que investigava o crime ou crimes
praticados pelo falecido.
O CNMP sabe quantos crimes não-solucionados
ocorreram no Rio Grande do Norte a partir de 2007?
Não. Impossível saber pois não temos tais
dados.
A Meta 2, de fato, se tornou eficaz contra a
impunidade, mesmo diante de tantos arquivamentos?
A Meta 2 é uma resposta à sociedade. É
inaceitável que crimes da gravidade dos homicídios não sejam investigados ou
que as investigações não sejam concluídas. Uma vez concluídos os IPs,
oferecidas as denúncias, julgados e condenados os autores, temos sim, um meio
para a redução da criminalidade, ou pelo menos, redução da impunidade.
Como o CNMP avalia a produtividade do
Ministério Público do Rio Grande do Norte no que tange à Meta 2?
Está aquém do esperado. Em razão disso, o CNMP
estará se reunindo com o MPRN e a Polícia Civil, em maio/2015, para buscarmos
soluções para os entraves no andamentos dos IPs.
Tribuna do Norte
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