Funcionários contam as cédulas em Iraklio -
STEFANOS RAPANIS / REUTERS
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A maioria dos gregos disse "não" à
adoção de mais medidas de austeridade no país propostas pelos credores do país,
a chamada troika — Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu
(BCE) e a Comissão Europeia (CE) — em troca de um novo pacote de socorro
financeiro. Em referendo realizado neste domingo, com mais de 80% das urnas
apuradas, a opção "não" vencia com 61,5% dos votos, contra 38,5% do
"sim". Com isso, o país voltará a negociar com os credores.
Os resultados mostraram uma vitória ainda mais
elástica que as primeiras pesquisas informais divulgadas após o fechamento das
urnas, às 13h (de Brasília). Mais cedo, a sondagem do GPO, encomendada pela TV
Mega, por exemplo, indicava ligeira vantagem para o "não", com 51,5%
dos votos. Já o “sim” tinha 48,5% dos votos.
Em pronunciamento à TV, o premier Alexis
Tsipras afirmou que o governo volta a negociar com os credores nesta
segunda-feira.
— Estamos prontos para continuar a negociar com
um plano de reformas, e o objetivo de levar nosso sistema bancário à
normalidade rapidamente.
No domingo, foram adotadas medidas de controle
de capitais para proteger o sistema bancário nacional, que vinha sofrendo
pesados saques por parte da população. O governo determinou que os bancos no
país permanecessem fechados até esta segunda-feira, 6 de julho. A Bolsa de
Atenas também ficou fechada. O ministro das Finanças, Yanis Varoufakis,
informou neste domingo que os bancos reabrem nesta terça-feira.
— Todos nós sabemos que soluções fáceis não
existem, mas soluções justas existem.
O presidente da França, François Hollande, e a
chanceler federal alemã, Angela Merkel, pretendem se reunir nesta segunda-feira
em Paris para discutir o resultado. Ainda é incerto, no entanto, se a Grécia
permanecerá na zona do euro.
CREDORES QUERIAM MAIS CORTES
O referendo foi convocado pelo governo grego no
sábado, 27 de junho, diante da posição inflexível dos credores em mais um
encontro de emergência sem acordo. As negociações eram uma corrida contra o
tempo antes do vencimento, na última terça-feira, dia 30, de uma parcela de €
1,6 bilhão do atual pacote de resgate. Sem acordo, a parcela não foi paga e o
país se tornou a primeira nação desenvolvida a dar calote no FMI.
Em termos gerais, a troika cobrava da Grécia
mais austeridade. Imposto sobre vendas, pensões e reformas no mercado de
trabalho estão entre as medidas incluídas nos termos dos credores. O plano
cobra das autoridades gregas que “reconheçam que o sistema de pensões é
insustentável e precisa de reformas fundamentais”, para implementar totalmente
uma lei de pensões de 2010 e começar a introduzir cortes a partir de 2015.
Salários de funcionários públicos, cobrança de
impostos e tributação das empresas também foram incluídos. As medidas estão em
uma lista de “ações prévias” com as quais a Grécia precisa se comprometer, a
fim de permanecer no programa de resgate e obter novos desembolsos de ajuda.
Outras medidas da proposta de resgate rejeitada
pela Grécia são: as metas para o superávit primário são de “1%, 2%, 3% e 3,5%
do PIB em 2015, 2016, 2017 e 2018”; mudanças no imposto sobre valor agregado a
partir de 1º de julho de 2015, para elevar a receita para 1% do PIB ao ano;
mudanças no sistema previdenciário que gerariam uma “poupança permanente
estimada em 1,25% a 1,5% do PIB em 2015 e em 1% do PIB em uma base anual em
2016”; comprometimento com a lei para desencorajar a aposentadoria precoce;
elevação do imposto corporativo de 26% para 28%; introdução de um imposto sobre
propagandas de televisão; extensão do aumento de impostos sobre embarcações de
luxo; mudanças na lei de falências; e alterações na grade salarial da administração
pública.
Em relatório, o próprio FMI admitiu que a
dívida do país é impagável e insustentável. O documento apontou a necessidade
de € 60 bilhões em ajuda para que o país se mantivesse até 2018.
POBREZA AVANÇA
Os números mostram a dura realidade vivida
pelos gregos. Entre os quase 11 milhões de habitantes, a crise econômica já
deixou 2,5 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza. Eles integram um
grupo de 3,9 milhões, segundo dados da agência estatística Eurostat, em risco
de pobreza ou exclusão social, o que corresponde a 35,7% da população grega —
na União Europeia (UE), apenas Bulgária e Romênia estão pior nesse indicador.
O desemprego disparou de 8,3% em 2007 para
26,5% no ano passado e chega a 55% entre os jovens. Nesse quadro, os aposentados
acabam se tornando um arrimo de família, já que têm renda garantida, em parte
graças ao Ekas, um programa especial de Previdência que complementa as pensões
de valor mais baixo — algo com o que a troika — formada por Comissão Europeia,
Banco Central Europeu (BCE) e FMI — que acabar.
Sob o controle de capitais, em vigor até a
próxima terça-feira, os idosos podem fazer saques diários de € 120, o dobro do
permitido aos demais cidadãos. Mas, à medida que a crise se agrava, muitas
pessoas poderão não ter nem € 60 em suas contas para sacar.
É com base nesses números que Tsipras argumenta
não ser mais possível adotar novos cortes em aposentadorias. Para seu partido,
o Syriza, a Grécia enfrenta uma catástrofe humanitária.
O Globo
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