O governo avalia que a CPI anunciada pelo
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para investigar contratos do
BNDES pode paralisar a instituição e causar prejuízos à economia. O receio do
Palácio do Planalto é de que o impacto da comissão sobre a atividade econômica
seja ainda pior do que o provocado pela CPI da Petrobras, aumentando a
temperatura da crise política.
A avaliação foi feita ontem em reunião da
presidente Dilma Rousseff com ministros da coordenação política do governo. Na
tentativa de obter maior controle sobre as investigações, o governo vai
trabalhar para que a CPI seja mista, envolvendo não só deputados – muitos dos
quais sob orientação de Cunha – como senadores.
Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma
acreditam que até mesmo os empresários, financiadores de campanha, atuarão para
esvaziar a CPI.
Segundo informações obtidas pelo Estado, a
equipe econômica estuda abrir uma linha de crédito para capital de giro,
financiada pelo BNDES, para socorrer empresas em dificuldades após a Operação
Lava Jato, da Polícia Federal, e evitar demissões em massa. Ministros dizem,
porém, que nada disso será levado adiante se a CPI vingar.
Rompido com o governo desde que o lobista e
delator Júlio Camargo o acusou de ter cobrado propina de US$ 5 milhões, Cunha
quer pôr o PMDB na presidência e na relatoria da CPI do BNDES, o que preocupa o
Planalto. Para piorar o quadro, o governo sabe que o grupo de Cunha e a
oposição tentarão constranger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na CPI
e temem o agravamento da crise. Na semana passada, a Procuradoria da República
no Distrito Federal abriu investigação contra Lula, acusando-o de tráfico de
influência.
A suspeita levantada pelo Ministério Público é
a de que Lula, após deixar a Presidência, tenha usado seu poder para facilitar
obras da Odebrecht em países da África e da América Latina, com financiamento
do BNDES. Em nota, o Instituto Lula disse que o procedimento aberto contra ele
é “irregular, intempestivo e injustificado”.
“Não há possibilidade de ingerência política no
BNDES”, afirmou Luciano Coutinho, presidente do banco.
Recesso
A estratégia do Planalto é tentar pacificar a
relação com o Congresso durante o recesso, liberando emendas parlamentares e
acertando nomeações de segundo e terceiro escalões. Embora o governo ache que
Cunha “passou dos limites”, a ordem é isolá-lo, e não partir para o ataque.
“Eu quero ver isso como uma questão de momento,
em que ele (Cunha) se sentiu injustiçado”, disse o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo. “Espero que essas iniciativas não se traduzam na busca de
desestabilização das relações políticas e do próprio quadro institucional. Não
creio que ele faria isso.”
Por ordem de Dilma, ministros também tentarão
se reaproximar do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Na
sexta-feira, Renan chamou de “tacanhas e ineficientes” as medidas de ajuste
fiscal do governo. “Ele pode fazer a crítica que quiser porque é aliado”,
amenizou o ministro das Relações Institucionais, Eliseu Padilha. (Colaboraram
Talita Fernandes, Beatriz Bulla e Victor Martins).
Estadão
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