O ministro da Previdência,
Carlos Gabas, e o da Fazenda, Joaquim Levy, divergiram sobre o tema
Foto: Antônio Cruz/Agência
Brasil
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Com o aperto das contas, o
governo decidiu que não vai pagar em agosto o adiantamento do 13º salário de
aposentados e pensionistas do INSS. A medida, ainda não anunciada oficialmente,
veio a público às vésperas das manifestações contra Dilma Rousseff, previstas
para este domingo.
A decisão foi tomada sob
atritos entre os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e da Previdência Social,
Carlos Gabas, que divergiam sobre o tema. Levy não quis assinar o pagamento.
Com resultados fiscais ruins nos últimos meses, o ministro da Fazenda defendeu
que não havia recursos disponíveis no momento para os repasses.
Apesar de não ser obrigatório,
o adiantamento de 50% do valor do 13º tem sido feito pelo governo desde 2006,
após um acordo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com centrais
sindicais. Na avaliação de alguns integrantes do governo ouvidos pela
reportagem, a decisão não foi em boa hora, já que vem dois dias antes dos
protestos contrários ao governo Dilma que devem tomar o País no domingo.
Nesta semana, Gabas se reuniu
com representantes de entidades de aposentados e pensionistas. No encontro,
demonstrou preocupação e disse que estava quase convencido de que o pagamento
não seria feito neste mês. O ministro teria garantido que daria um retorno por
escrito sobre o assunto até ontem.
Segundo o Sindicato Nacional
dos Aposentados, que participou da reunião, nenhuma resposta foi dada e nenhum
representante do ministério atendeu ligações. "Acho que eles não queriam
divulgar essa informação hoje", disse João Inocentini, presidente do
sindicato.
Consequências
Inocentini ressaltou que os
aposentados costumam tomar crédito ou fazer compras já contando com o
adiantamento. "Vai ser um caos", afirmou. Segundo ele, o sindicato
tem audiência agendada para segunda-feira com o ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF), Gilmar Mendes. No encontro, será feita uma consulta sobre possíveis
ações judiciais para garantir o pagamento.
Na opinião do advogado da
Associação Brasileira de Apoio aos Aposentados, Pensionistas e Servidores
Públicos (ASBP), Evaldo Oliveira, o aumento de 30% para 35% no limite do
crédito consignado feito em julho pelo governo foi uma forma de preparar o
terreno para que o adiantamento do 13º não fosse feito. "Foi preparado não
para resguardar o bolso da categoria, mas sim para proteger o setor bancário
quanto à inadimplência", avaliou. "Para que os aposentados e
pensionistas venham utilizar essa margem para saldar dívidas contraídas junto
às instituições de crédito." Fontes do Ministério da Fazenda informaram
que a pasta tenta encontrar uma solução para o problema ainda este mês. Pela
lei, o pagamento do benefício deve ser feito até o fim do ano, sem impedimento
para que seja feito de forma integral em um único mês.
Poupança será impactada se
INSS não pagar
Sangrando por causa do baixo
rendimento e da piora do mercado de trabalho, a poupança deve receber mais um
duro golpe em agosto. Os depósitos que ainda são feitos na caderneta nos
últimos tempos têm vindo justamente da parcela de recursos extras de trabalhadores
e aposentados. Tanto que o grosso das aplicações tem sido concentrado no último
dia de cada mês, quando muitas baixas automáticas são realizadas.
Confirmado esse não pagamento,
aumenta a chance de, com menos sobra ainda de recursos, a poupança sofrer mais
este baque. Desde o começo do ano, os resgates têm superado as aplicações. De
janeiro a julho de 2015, os saques já superam os depósitos em R$ 41 bilhões. A
falta desses recursos atingiu diretamente duas áreas importantes de crédito
para o País: o imobiliário e a agricultura.
Tradicionalmente, agosto é
mais fraco para a poupança na comparação com mês anterior. Julho é um período
em que muitos trabalhadores tiram férias e podem receber adiantamento do 13º
salário, além dos demais benefícios. Há, portanto, mais chances de sobra dos
rendimentos para investimento. Com a situação crítica da caderneta, o quadro
tende a piorar. Em julho, o volume de resgates foi R$ 2,5 bilhões maior do que
o de aplicações. Nos primeiros 10 dias deste mês, o resultado já está negativo
em R$ 2,3 bilhões.
Vários fatores têm contribuído
para a fuga de recursos da poupança em 2015. Em primeiro lugar, a alta da Selic
(taxa básica de juros da economia) – atualmente em 14,25% ao ano - tornou a
poupança menos atraente que outras aplicações.
Agência Estado
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