O Ministério Público Federal
deverá apresentar denúncia contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) ainda nesta quarta-feira, segundo disse ao GLOBO uma fonte que acompanha
o caso de perto. O presidente da Câmara será acusado de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro. A denúncia a ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal
(STF) tem como base a acusação do empresário Júlio Almeida Camargo, que
confessou em juizo ter pago US$ 5 milhões em propina para o deputado. Cunha
nega participação nos crimes. Se o STF aceitar a denúncia, o parlamentar
passará a ser réu no escândalo de corrupção. O Globo mostrou também hoje que o
presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), deve constar na lista apresentada
ao Supremo como outro denunciado.
Um dos principais delatores da
Operação Lava-Jato, Camargo teria pago o suborno para facilitar a assinatura de
contratos de afretamento de navios-sonda entre a Samsung Heavy Industries e a diretoria
de Internacional da Petrobras. Pelo aluguel de dois navios, o Sonda Petrobras
100000 e o Vitoria 10000, a Petrobras teria desembolsado US$ 1,2 bilhão. O
pagamento de propina para Cunha e outros envolvidos nas transações seria
superior a US$ 40 milhões.
À época da assinatura do
primeiro contrato, no valor de US$ 586 milhões, a diretoria Internacional
estava sob o comando de Nestor Cerveró, condenado no início da semana a 12 anos
e 3 meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. O
negócio teria sido intermediado pelo lobista Fernando Soares, o Baiano. No
mesmo processo, o lobista foi condenado a 16 anos e 1 mês de prisão no mesmo
processo, que resultou na condenação de Cerveró.
Camargo foi condenado a 14
anos de prisão, mas como fez acordo de delação premiada, ficará em regime
aberto diferenciado. A parte relacionada a Cunha foi enviada a Procuradoria
Geral da República e deu origem a abertura de um inquérito contra o deputado no
STF no início deste ano. Cinco meses depois desta nova etapa da investigação, o
grupo de trabalho que auxilia o procurador-geral Rodrigo Janot, concluiu a
apuração.
MP DA SUÍÇA AJUDOU NA OBTENÇÃO
DE PROVAS
A denúncia contra o presidente
da Câmara está sendo redigida. Os procuradores concluíram pela
responsabilização criminal de Cunha por corrupção e lavagem. Na investigação da
primeira instância, liderada pela força-tarefa de Curitiba, procuradores
obtiveram provas da movimentação do dinheiro da propina no exterior com a ajuda
do Ministério Público da Suíça.
"A cooperação jurídica
com a Suíça foi fundamental para a comprovação do fluxo do dinheiro no exterior
e comprovação documental dos fatos. Por meio dela, obteve-se documentos
irrefutáveis que comprovaram a transferência do dinheiro da Samsung para as
empresas de Julio Camargo e, em seguida, para as de Fernando Soares e Cerveró,
bem como para a contas de terceiros indicadas por eles", informou a
força-tarefa em nota divulgada na segunda-feira.
As acusações contra Cunha
surgiram num depoimento do doleiro Alberto Youssef, o principal operador da
propina no esquema de corrupção na Petrobras. Youssef disse que ajudou Julio
Camargo a repassar propina para Cunha e outros políticos para facilitar o
contrato com a Samsung.
Youssef disse ainda que, o
presidente da Câmara até usou requerimentos de informação de uma das comissões
da Câmara para pressionar Camargo a liberar parcelas do suborno, que estavam
atrasadas por conta de desacertos com a Samsung. Os requerimentos da chantagem
teriam sido apresentados em nome da ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), hoje
prefeita de Rio Bonito.
Nos primeiros depoimentos da
delação premiada, Camargo nada disse sobre as transações com Cunha. Ele se
limitou as acusações contra Cerveró e Fernando Baiano. Depois, quando
confrontado com depoimentos de Youssef, decidiu abrir o jogo. O empresário
confirmou e ainda ofereceu mais detalhes sobre o suposto suborno de Cunha.
O Globo
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