E agora, depois da detecção de
fluxos de água na superfície de Marte, para onde vão os planos da agência
espacial americana na exploração do planeta vermelho? Esse foi um dos temas
mais debatidos durante a entrevista coletiva promovida nesta segunda-feira (28)
no quartel-general da agência espacial, em Washington.
De acordo com Jim Green,
diretor de ciência planetária, o estudo valida a estratégia da Nasa adotada nos
últimos anos de compreender em detalhes o ciclo hidrológico passado e presente
de Marte. E avança na direção da eventual coleta de amostras para que sejam
trazidas de volta para a Terra. No momento, não há nos planos nenhuma missão
capaz de trazer de volta material de Marte. Mas a descoberta deve motivar
estudos a respeito.
“Os cientistas estão de acordo
que provavelmente só conseguiremos ter certeza sobre a existência de vida em
Marte com a análise de amostras em laboratório”, afirmou. Segundo Green, é
extremamente complicado incluir em veículos robóticos a instrumentação
necessária para fazer essas sondagens.
É justamente por isso que, até
hoje, as únicas sondas que levaram experimentos cujo objetivo era detecção de
vida foram as Viking-1 e 2, que foram ao planeta vermelho em 1976 (os
resultados até hoje são controversos, embora a maioria dos cientistas os interprete
como negativos). Na prática, é muito complicado desenhar um instrumento para
detectar algo que você não sabe exatamente o que é. No caso de vida alienígena,
só podemos supor que ela seja suficientemente parecida com a terrestre para
permitir ser reconhecida. Ainda assim, é uma premissa delicada.
O jipe que a Nasa mandará a
Marte em 2020 terá por objetivo colher algumas amostras promissoras. Mas elas
terão de esperar até que uma outra espaçonave vá até o planeta vermelho e tenha
a habilidade de mandar esse material de volta para a Terra.
O que conduz a outro ponto crítico
discutido durante a coletiva: proteção planetária.
VIDA QUE VAI, VIDA QUE VEM
Quando trouxermos uma amostra
de Marte, certamente haverá uma discussão acalorada sobre como lidar com esse
material. Poderia haver vida nele? Essas formas biológicas alienígenas poderiam
de algum modo “contaminar” a biosfera da Terra?
A Nasa possui um Escritório de
Proteção Planetária, voltado para essas questões. A ideia é evitar ao máximo
contaminação entre mundos — o que, conforme o próprio Green admite, é
complicadíssimo.
“Esterilizamos nossos veículos
que vão até Marte, porque não queremos correr o risco de contaminar o planeta
com formas de vida da Terra”, diz. “As Vikings, que tinham como objetivo
detectar vida, foram as que passaram pelo processo mais rigoroso de
descontaminação, porque não queríamos ir até lá para detectar a vida que nós
mesmos levamos para lá.”
Ainda assim, o pesquisador
admite que é impossível realizar um processo 100% eficaz. A vida é difícil de
exterminar. O que significa que pelo menos um punhado de bactérias da Terra já
foi levado até Marte. Se elas sobreviveram lá? Os cientistas acreditam que não.
Aliás, parte do dilema de
procurar vida em Marte é este: eles precisam pousar as naves em lugares que
supostamente não são capazes de abrigar vida, para evitar a contaminação do
planeta vermelho com bactérias terrestres. Mas então o que eles encontrarão por
lá, se o lugar não é propício à vida?
Esse é um argumento que também
ajuda a defender o envio de missões tripuladas a Marte — uma das bandeiras da
Nasa no momento. O ex-astronauta John Grunsfeld, administrador associado do
Diretório de Missões Científicas, também participou da coletiva e desta vez
vestindo seu velho macacão de astronauta — ele é veterano de cinco voos com o
ônibus espacial, com duas visitas ao Telescópio Espacial Hubble. “Hoje vesti
meu macacão de astronauta para enfatizar que estamos de fato numa jornada a
Marte.”
Grunsfeld destacou que os
locais onde estão as ranhuras com água corrente são de difícil acesso para
jipes robóticos. “Mas seria trivial para um astronauta num traje espacial
alcançá-los”, completou.
No momento, a Nasa trabalha
com um esboço de realizar as primeiras missões tripuladas ao planeta vermelho
em meados da década de 2030. Mas é importante frisar que não há plano definido
ou orçamento para isso. A agência espacial conta com a empolgação e o apoio do
governo e do Congresso americanos para conseguir desenvolver esses planos.
Se vai rolar? Só o futuro
dirá.
Mensageiro Sideral
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