A diferença de nota entre
candidatos que acertaram um número igual de questões em uma mesma prova do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode chegar a 343,9 pontos. O motivo da
variação é o modelo de correção do teste, a Teoria de Resposta ao Item (TRI),
em que a nota depende da coerência de acertos do candidato. Atentos a isso,
muitos alunos têm até estratégias para resolver a prova com base na TRI.
No Enem, os itens de múltipla
escolha são pré-testados e classificados em fáceis, médios e difíceis, com
pontuações diversas em uma escala de 0 a 1.000. As notas mínimas e máximas que
o estudante pode ter em cada prova, porém, não são 0 e 1.000 mas variam a cada
ano segundo calibragem feita pelos elaboradores do exame.
Alunos que acertam perguntas
médias e erram as fáceis, por exemplo, têm acréscimo menor de nota. Pela TRI, a
interpretação é de baixa coerência pedagógica: se o candidato entende bem itens
médios, deveria tirar os fáceis de letra. E o candidato que acerta só uma
pergunta complicada no chute ganha pontuação menor do que aquele que solucionou
várias de nível alto de dificuldade.
A diferença de mais de 340
pontos foi registrada entre candidatos que acertaram 17 itens (de 45) na prova
de Matemática do Enem 2013, o mais recente com microdados disponíveis. A nota
máxima, nesse patamar de acertos, foi de 694,4 pontos e a mínima de 350,5. Essa
foi a maior variação das quatro provas objetivas (Ciências Humanas, Ciências da
Natureza, Matemática e Linguagens). A redação não é corrigida pela TRI.
Nas provas de Ciências da
Natureza e Matemática, mostram os números, a variação de nota entre candidatos
que acertaram número igual de questões foi maior do que em Ciências Humanas e
Linguagens. Os dados foram tabulados pela Meritt Informação Educacional.
Dicas
Camila Gomes, de 18 anos, fará
o Enem pela segunda vez e planeja usar estratégia diferente da utilizada na
prova anterior. Para garantir melhor resultado, levando em conta a TRI, ela vai
resolver primeiro as questões fáceis e médias. Depois, vai se dedicar às
difíceis no tempo restante.
“O Enem não exige do candidato
apenas conhecimento, mas também maturidade para saber avaliar quais questões
são mais trabalhosas”, diz. “É preferível pular para não perder o tempo que
poderia gastar para resolver as mais fáceis”, diz Camila, interessada em cursar
Medicina.
Alexandre Oliveira,
especialista em educação da Meritt, também acredita que é melhor resolver a
prova por partes, começando por garantir acertos nas questões que parecem mais
simples, para garantir a coerência pedagógica. O nível de dificuldade de cada item
não fica explícito na prova.
Se o aluno faz as questões na
ordem em que aparecem na prova e sobra pouco tempo para responder as últimas,
pode ser penalizado. “Se chutar todas as últimas, há risco de errar um item
fácil. Isso pesa na definição da nota, pois implica menor coerência”, diz
Oliveira.
E embora o sistema seja mais
“sensível” ao chute, deixar questões em branco não vale a pena. “Questão em
branco é computada como erro”, afirma. Uma resposta incorreta também não anula
o acerto, como acontece em alguns concursos.
Atenção
Para Lilio Paoliello, diretor
pedagógico do Cursinho da Poli, a TRI é importante para compreender a prova,
mas ele faz ressalvas. “Identificar a complexidade da questão pode virar uma
preocupação a mais.” É importante, diz, testar essas técnicas antes, nos
simulados.
“E o candidato que se preparou
muito deve ter cuidado com as questões fáceis”, alerta. Muitas vezes, esses se
concentram em itens difíceis para ter pontuações maiores e erram outros banais
prejudicando a coerência de seus acertos e a nota.
Decifrar a TRI ainda é útil
para evitar frustrações depois do Enem. Como a nota só pode ser calculada por
um algoritmo, muitos se decepcionam na tentativa de adivinhar o resultado.
Comparações pelo número de
acertos não funcionam. Mauro Araújo, de 23 anos, passou a pesquisar mais sobre
a TRI após o Enem passado. “Um colega do cursinho acertou mais questões e eu
tirei nota maior. Só depois entendi que foi porque ele chutou algumas.”
Estadão Conteúdo
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