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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O primeiro dia de aula de um professor: o que fazer? – Conversas com um Jovem Professor

Vai começar. Você estudou anos para isto. Preparou aquela aula. Leu e debateu autores que tratam do tema. Porém, nada no planeta pode substituir a experiência de enfrentar uma turma pela primeira vez. 

Uso o verbo enfrentar porque é esta a sensação: dezenas de olhos colocados sobre você. Um pouco mais de silêncio se for uma turma que não se conhece ou… muito barulho se for uma turma que se reencontra depois das férias. E, finalmente, cadernos e livros na mão, ei-lo entrando para o local privilegiado da sua profissão: a sala de aula.

A faculdade antecipa pouco essa experiência real. Onde eu enfio Piaget e Vigotsky quando vou fazer a chamada? Dúvidas banais substituem os grandes temas da psicopedagogia: coloco “P” ou “ponto” para a presença? E aqueles trabalhos imensos sobre a produção do conhecimento numa sociedade dependente periférica capitalista? Agora só ocorrem perguntas triviais e pouco nobres: é permitido rasurar o diário? Será que eu posso autorizar a ida ao banheiro daquele aluno que está de pé desde que eu entrei?

Na verdade, o banho realístico veio antes da sua solene entrada na turma. Começou na sala dos professores. Colegas deram conselhos práticos: “Não mostre os dentes no primeiro dia”. Para quem não está acostumado a essa linguagem, significa não sorrir de imediato para não perder o controle da sala. Os mais experientes soltaram risadinhas: “Você vai ver aquela sétima B”! A advertência é quase uma praga ou, talvez, um desejo velado de que você fracasse. Disseram-me há uns 30 anos: “Deus inventou o conhecimento e o diabo, invejoso, criou o colega…”. Na época, muito jovem, eu achava a frase amarga.

Aqui, um conselho prático: antes de entrar em sala, ouça os colegas, desde os muito interessantes até os indiferentes. Alguns querem ajudar. Outros não toleram sua juventude ou entusiasmo. Ouça a todos. Porém, nunca se esqueça: a fala do colega diz respeito, exclusivamente, à experiência dele e não à sua. O aluno-problema dele talvez seja apenas dele e a turma fácil talvez não flua tão bem com você.

Ouça sempre. A experiência tem valor, mas esteja atento a essa verdade pétrea que vale até para este livro: bons conselhos podem ser úteis, mas seu caminho será construído exclusivamente por você.

Passados quase 30 anos do primeiro momento que dei aula na vida, o impacto de entrar numa nova sala, com alunos novos, no primeiro dia de aula ainda me dá medo. Não é mais o medo de antes. Comecei a dar aulas no ensino fundamental e médio antes de me formar. Eu tinha pavor que meus alunos descobrissem que eu ainda não tinha diploma. Um pouco mais tarde, aos 23 anos, comecei a dar aulas na universidade e me vestia de forma a parecer mais velho. Eu tinha um dos medos mais ancestrais de um professor: perder o controle de uma turma. Definitivamente, o medo de parecer jovem demais desapareceu e foi quase substituído pelo receio oposto. Aqueles medos sumiram. Mas o friozinho na barriga continua. Continua o incômodo de não saber os nomes no começo. Estabelecer uma relação semanal com 30, 40, 50 jovens pensando neles apenas como: o de vermelho, a menina de saia, o cabeludo (ou coisas até um pouco pejorativas…). Pior: se eu tiver 10 turmas de 50 (número comum), terei 500 seres humanos para saber o nome a cada ano, e ainda devo considerar que novos entram como se fosse uma cistite permanente pingando no meu diário.

Aqui, nossa função tem vantagens sobre outras. Uma primeira aula ruim tem efeitos menos visíveis do que uma primeira cirurgia ruim ou uma primeira ponte mal projetada. Porém, o sutil da função de professor é que a primeira cirurgia ruim ou pontes ruins podem ter relação com… aulas ruins. Quando pego um aluno em pleno doutorado que ainda não domina regras básicas do uso da crase, penso: há uns 10 ou 15 anos um professor errou e eu noto isso só agora.

Regressemos para a aula. Vamos imaginar uma aula típica, de uns 40 a 50 minutos. Você entra e aquela dúvida volta: devo ser simpático ou seco? Sorrir ou mostrar cara de autoridade séria? Meu irmão psicólogo usa uma metáfora que aprecio: a relação profissional guarda semelhanças com o salva-vidas. Se ele se aproxima muito do afogado e o abraça fraternalmente, ambos afundam. Se ele fica muito distante, a vítima cumpre sua sina de afogar-se sem ajuda. É inútil fingir uma dureza que você não tem ou que nem quer ter. É perigoso usar de muita intimidade. A aula é um momento profissional e você não é amigo dos alunos. Amizade implica isonomia, igualdade, algo inexistente na sala de aula. Pelo mesmo motivo que você não é amigo, você não é o inimigo, pois amizade e inimizade implicam relações pessoais, frequentemente íntimas. Repita para si sempre: sou o professor (porque, em muitas ocasiões, alunos, direção e pais tentarão convencê-lo de outras coisas).

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