O cenário político contribuiu
para que o dólar comercial perdesse força nesta terça-feira, encerrando os
negócios em queda. A moeda americana fechou o pregão cotada a R$ 3,600 na
compra e a R$ 3,602 na venda, um recuo de 0,22% ante o real. Na máxima, chegou
a atingir R$ 3,653. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 0,32%,
aos 51.010 pontos.
Pressionaram os negócios na
abertura dos negócios os atentados terroristas em Bruxelas e a nova atuação do
Banco Central no mercado de câmbio. A alta chegou a 1,19%. No entanto, essa
pressão começou a se dissipar no início da tarde e a divisa entrou em terreno
negativo após a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber negar
habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
— O dólar também perde um
pouco de força no exterior. Internamente, há a questão da perspectiva da mudança,
que ajuda o dólar a cair — avaliou Rapahel Figueredo, analista da Clear
Corretora.
Os investidores repercutiram
também as declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, na Comissão de
Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, onde afirmou que não há discussões
para a flexibilização da política monetária e que não há busca por um patamar
de câmbio.
Pela manhã, o BC fez pelo
segundo dia consecutivo um leilão de “swap cambial reverso”, que tem como
efeito a venda da moeda no mercado futuro e por isso há uma pressão de alta
sobre as cotações. Dos 14,5 mil contratos ofertados, foram vendidos 10 mil, em
um valor equivalente a US$ 495 milhões. Na operação do dia anterior, foram
vendidos dos 5,5 mil dos 20 mil contratos ofertados, o equivalente a US$ 272,7
milhões. A autoridade monetária não realizava esse tipo de operação há três
anos.
Na avaliação de Jefferson Luiz
Rugik, analista da Correparti Corretora de Câmbio, o fato do BC não conseguir
vender a integralidade dos contratos indica que a demanda por esse tipo de
ativo está baixo.
— Se o BC não consegue colocar
a totalidade do que ofertou, a conclusão é de que o mercado está sem apetite
para comprar dólares, e aposta no impeachment de Dilma e na queda da moeda
americana por aqui — avaliou.
Após o fechamento do mercado,
a autoridade monetária anunciou que fará novos leilões de “swap cambial
reverso” nesta quarta-feira. Serão dois lotes de 20 mil contratos cada (US$ 1
bilhão cada) com vencimentos em 1º de julho e 3 de outubro. Nesse tipo de
operação, o BC ganha se o dólar sobe e perde se cai. No swap cambial
tradicional (que acumulam um estoque em torno de US$ 108 bilhões) ocorre o
contrário, ou seja, a autoridade monetária ganha dinheiro se a cotação cai.
Na segunda-feira, a a moeda
americana interrompeu uma sequência de três quedas consecutivas e fechou com
valorização de 0,75%, a R$ 3,61.
BOLSAS EUROPEIAS CAEM COM
ATENTADO
No exterior, o “dollar index”,
calculado pela Bloomberg, operava em alta de 0,37% no momento do encerramento
dos negócios do mercado de câmbio no Brasil. Essa valorização tem forte
influência da mairo aversão ao risco global desencadeada pelos atentados no
aeroporto e metrô de Bruxelas (Bélgica), que deixaram mais de 30 mortos e foram
assumidos como sendo de autoria do Estado Islâmico.
No mercado acionário, os
principais índices, após perdas no início dos negócios, reverteram a tendência
e, na Europa, encerraram o pregão em alta mesmo com os atentados. O DAX, de
Frankfurt, subiu 0,42%, e o CAC 40, da Bolsa de Paris, teve pequena variação
positiva de 0,09%. O FTSE 100, de Londres, registrou elevação de 0,13%. Nos
Estados Unidos, o Dow Jones recuou 0,23% e o S&P 500 tem leve queda de
0,09%.
PETROBRAS CAI APÓS BALANÇO
A recuperação dos preços do
petróleo ajudou a conter a queda do Ibovespa. O barril do tipo Brent registrava
alta de 0,70%, a US$ 41,83, em horário próximo ao do fechamento da Bolsa. Essa
valorização da commodity ajuda a fortalecer a moeda dos países produtores,
assim como as empresas dessa cadeia do negócio. Para os investidores, a
recuperação do preço também é um alívio, após o barril ser negociado abaixo de
US$ 30 em janeiro.
Com esse recuperação, as ações
da Petrobras fecharam em alta apesar do prejuízo registrado no balanço de 2015
- o resultado ficou negativo em R$ 34,8 bilhões. As ações preferenciais da
petrolífera (PNs, sem direito a voto) fecharam em alta de 0,62%, cotadas a R$
8,11, e as ordinárias (ONs, com direito a voto) avançaram 2,24%, a R$ 10,48.
Devido ao prejuízo, o segundo
consecutivo, a estatal não irá distribuir dividendos. Com isso, as
preferenciais têm uma recuperação mais lenta - é essa categoria de papel que
tem prioridade na distribuição de proventos aos acionistas.
— Quem estava exercendo maior
pressão era a Petrobras. O resultado foi ruim, mas alguns analistas apontam uma
melhora para os próximos trimestres — disse Luis Gustavo Pereira, analista
chefe da Guide Investimentos, acrescentando que a nova fase da operação
Lava-Jato reforçam as expectativas de mudanças no campo político.
Apesar do prejuízo bilionário,
o Morgan Stanley elevou a recomendação das ações da estatal para em linha com o
mercado. Já o UBS acredita que o câmbio e a redução dos investimentos vão
melhorar os resultados da estatal.
No caso da Vale, as
preferenciais tiveram alta de 0,89% e as ordinárias avançam 1,84%. No entanto,
o setor bancário, que possui o maior peso no Ibovespa, registrou forte recuo.
As ações preferenciais do Itaú Unibanco e do Bradesco caíram, respectivamente,
2,56% e 1,03%. Banco do Brasil fechou em queda de 1,44%.
Figueredo, da Clear Corretora,
avalia que esse recuo nas ações de bancos é uma correção de preços, uma vez que
esses papéis acumulam forte alta nos últimos pregões.
Analistas veem com cautela a
perspectiva de um novo ciclo de alta na Bolsa. Isso porque, apesar da maior
probabilidade de um impeachment, o processo pode não ser tão rápido. Por outro
lado, há uma redução dos juros no mercado futuro, o que tende a beneficiar os
negócios com renda variável.
O Globo
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