A Polícia Federal encontrou
planilhas que mostram doações feitas pela Odebrecht a mais de 200 políticos de
18 partidos.
Os documentos foram apreendidos
na residência do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa da
Silva Junior, que foi preso temporariamente na 23ª fase da Operação Lava Jato e
liberado posteriormente pela Justiça.
Nesta quarta-feira (23),
depois de as planilhas terem sido divulgadas na imprensa, o juiz federal Sérgio
Moro, responsável pelos processos da Lava Jato em primeira instância,
determinou o sigilo sobre os documentos (leia mais ao final desta reportagem).
Não é possível, porém, afirmar
que se tratam de doações legais de campanha ou feitas por meio de caixa 2, já
que os documentos não detalham se os valores foram, de fato, repassados e se
foram pagos em forma de doação oficial. A avaliação sobre a legalidade das
supostas doações apontadas nas planilhas não contam dos documentos divulgados
pelo Ministério Público.
Nas tabelas que relacionam o
nome de políticos, os valores repassados ultrapassariam os R$ 55 milhões.
Em depoimento à Polícia Federal
no último dia 24 de fevereiro, o presidente da Odebrecht Infraestrutura
explicou que as doações da empreiteira nunca eram destinadas a políticos, mas
sempre a partidos "de modo a evitar pressões e constrangimentos de
candidatos".
No depoimento, Benedicto
Barbosa nega ter repassado vantagens ilícitas a políticos.
Na lista, estão políticos de
diversos partidos, tanto da base aliada ao governo federal quanto de oposição.
Entre os políticos citados
estão o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o ex-governador
de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), morto durante a campanha presidencial de
2014, e o os ministros Aloizio Mercadante (Educação) e Jaques Wagner (Chefia de
Gabinete da Presidência).
Também são citados como
destinatários de doações da empreiteira o senador José Serra (PSDB-SP), o
ministro da Defesa, Aldo Rebelo, os governadores tucanos Beto Richa (Paraná) e
Geraldo Alckmin (São Paulo) e o ex-governador do Distrito Federal Agnelo
Queiroz (PT).
Apelidos
Ao lado de alguns nomes, a
Odebrecht utiliza apelidos para se referir a políticos. É o caso do
ex-presidente da República José Sarney (PMDB), apelidado de
"Escritor". Outros peemedebistas, como os presidentes da Câmara,
Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), também têm apelidos.
Cunha é tratado como "Caranguejo" e, Renan, como "Atleta".
O prefeito do Rio de Janeiro,
Eduardo Paes (PMDB), é apelidado de "Nervosinho", de acordo com a
tabela de repasses da Odebrecht. O deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) é
tratado como "Bruto".
Outras figuras conhecidas e
que recebem apelidos são os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), o
"Lindinho"; o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), o
"Drácula"; e a deputada estadual Manuela d'Ávila (PCdoB-RS),
apelidada de "Avião".
Segundo o juiz Sérgio Moro, as
tabelas apreendidas pela PF que citam políticos não têm, em princípio, relação
com o que a força-tarefa da Lava Jato chama de "estrutura
profissional" de pagamento de propina em dinheiro no Brasil.
A empresa, ainda conforme a
investigação, tinha funcionários dedicados a uma espécie de contabilidade
paralela que visava pagamentos ilícitos. A área era chamada de "Setor de
Operações Estruturadas".
O Ministério Público Federal
(MPF) afirma que os pagamentos feitos pela Odebrecht estão atrelados a diversas
obras e serviços federais e também a governos estaduais e municipais.
Dentre elas está a construção
da Arena Corinthians, segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.
A estimativa é de, ao menos,
R$ 66 milhões em propina distribuída entre 25 a 30 pessoas. Esse valor, segundo
a Polícia Federal (PF), estava disponível em apenas uma das contas identificada
como pertecente à contabilidade paralela da empresa.
Além do estádio, a operação
também investiga irregularidades no Canal do Sertão, na Supervias, no Aeroporto
de Goiânia e na Trensurb, do Rio Grande do Sul.
De acordo com a força-tarefa,
o setor da Odebrecht responsável pelas vantagens indevidas tinha um sistema
informatizado próprio utilizado para armazenar os dados referentes ao processamento
de pagamentos ilícitos e para permitir a comunicação reservada entre os
executivos e funcionários envolvidos nas tarefas ilícitas.
Outro sistema, no qual os
envolvidos usavam codinomes, permitia a comunicação secreta entre executivos,
funcionários da Odebrecht e os doleiros responsáveis por movimentar os recursos
irregulares.
Sigilo
Nesta quarta-feira (23), após
as planilhas terem sido divulgadas na imprensa, o juiz federal Sérgio Moro,
responsável pelos processos da Lava Jato em primeira instância, determinou o
sigilo sobre os documentos.
"Aparentemente, na
residência de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, foram apreendidas listas com
registros de pagamentos a agentes políticos. Prematura conclusão quanto à
natureza desses pagamentos. Não se trata de apreensão no Setor de Operações
Estruturadas da Odebrecht e o referido Grupo Odebrecht realizou, notoriamente,
diversas doações eleitorais registradas nos últimos anos", diz o juiz no despacho.
"De todo modo,
considerando o ocorrido, restabeleço sigilo neste feito e determino a intimação
do MPF para se manifestar, com urgência, quanto à eventual remessa ao Egrégio
Supremo Tribunal Federal para continuidade da apuração em relação às autoridades
com foro privilegiado", conclui Moro.
G1
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