Pela primeira vez, a previsão para a inflação no ano que
vem ficou abaixo da meta do governo de 4,5%. Com isso, foi aberto o caminho
para o Banco Central começar a cortar os juros. Segundo o relatório de
inflação, a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
usado oficialmente no sistema de metas, passou de 4,7% para 4,4%. No entanto, o
BC alertou que há condicionantes para começar a aliviar a política de juros. A
principal dela é o prometido ajuste dos gastos públicos e o equilíbrio das
contas públicas.
“As projeções aqui apresentadas dependem ainda
de considerações sobre a evolução da política fiscal. Na conjuntura atual, os
principais efeitos desta política estão associados ao processo de ajuste da
economia, que envolve encaminhamento de importantes reformas propostas pelo
Governo para apreciação pelo Congresso Nacional”, disse o BC, que lembrou que o
ajuste influenciará nas expectativas e confiança.
Na contramão da melhora para o
ano que vem, a previsão para este ano piorou e a probabilidade de estourar o
teto da meta (que é de 6,5%) aumentou. A projeção do BC saltou de 6,9% para
7,3% em 2016. No entanto, os efeitos dos juros altos — mantidos em 14,25% ao
ano desde setembro do ano passado — serão sentidos daqui para frente.
Em 2018, a projeção é de IPCA
em 3,8%. A divulgação da estimativa da inflação para o fim de 2018 foi uma
inovação da nova diretoria do BC. Normalmente, a autoridade monetária só divulgava
as expectativas para nove trimestres à frente. Desta vez, informou a projeção
para os próximos dez períodos.
Esse é o primeiro relatório de
inflação do Banco Central divulgado após a troca de comando da instituição
depois que a presidente Dilma Rousseff foi afastada do poder. A autarquia
reformulou toda a sua comunicação para deixar mais claro o caminho que deve
seguir na política de juros para controlar os preços.
O dado tão baixo para 2018
pode ter um efeito importante: influenciar os economistas que divulgam
semanalmente suas projeções para a inflação. Se estão altas, contaminam a
economia e _ na prática _ boicotam o trabalho do Banco Central de trazer a
inflação da meta porque parte da remarcação dos preços é a perspectiva de que
esses preços vão aumentar.
CRESCIMENTO
Outra mudança relevante do
relatório trimestral de inflação foi a retirada das projeções para a atividade
econômica do principal capítulo, que trata das perspectivas para a inflação. Em
todo o trecho, não há sequer uma única menção ao Produto Interno Bruto (PIB,
conjunto de bens e serviços produzidos pelo país). Com isso, o BC de Ilan dá um
recado muito claro: o crescimento econômico não é o foco da autarquia.
Em um box à parte, o BC
informou que a estimativa para o comportamento da economia neste ano foi
mantida em uma retração de 3,1%.
Já para o ano que vem, a
aposta é de uma retomada do crescimento. A expectativa é de expansão de 1,3% da
atividade.
O texto não teceu muitos
comentários sobre o assunto. Apenas deu projeções feitas com base nos dados
divulgados pelo IBGE até agora.
O foco estava no controle da
inflação. Desde que assumiu, o presidente do BC manteve, entretanto, o
compromisso de entregar a inflação na meta no ano que vem. Por outro lado, tem
feito de tudo para distanciar-se de seu antecessor, Alexandre Tombini.
No relatório publicado nesta
terça-feira, além de o texto ser menor e muito mais claro — mudanças já
imprimidas aos demais instrumentos de comunicação do Banco Central — até mesmo
os gráficos estão com cores diferentes.
O Globo
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