As mortes violentas fizeram 58
mil vítimas no Brasil em 2015. Desdobrados, os números parecem mostrar de forma
ainda mais enfática o tamanho da violência no país: foram 160 pessoas
assassinadas por dia, ou uma a cada 9 minutos. A taxa nacional de mortes chega
a 28,6 para cada grupo de 100 mil habitantes, segundo análise do 10º Anuário
Brasileiro de Segurança. Os dados, divulgados pelo Fórum Brasileiro de
Segurança, tratam da contabilidade de casos de homicídios dolosos
(intencionais), latrocínios, lesões corporais seguidas de morte, assassinatos
causados por confrontos com a polícia e policiais assassinados, no trabalho ou
fora dele.
Considerando apenas as mortes
de policiais e as mortes provocadas por eles, o documento revela um retrato que
mais parece o de um faroeste, segundo o diretor nacional do Fórum, Renato Sérgio
de Lima. No país, 3.345 pessoas — 9 por dia — foram mortas por policiais em
2015, 6,3% mais que no ano anterior. Os estados do Rio de Janeiro e de São
Paulo concentram quase 45% dessas mortes. São 645 e 848 casos, respectivamente,
segundo o anuário.
O embate também resultou no
assassinato de 393 policiais, 16 a menos em 2014. Se o recorte for no número de
policiais mortos em serviço (103), porém, em 2015 houve um aumento de 30,4% de
casos. Outro dado revelado pelo anuário é que, proporcionalmente, os policiais
são três vezes mais assassinados fora do horário do expediente do que durante o
trabalho. Os estados onde a quantidade de policiais mortos mais cresceu em
números absolutos foram Maranhão, que teve 44 policiais mortos em 2015 ante 13
em 2014; e Pernambuco, que viu o número de policiais mortos subir de 17, em
2014, para 27, em 2015.
No outro sentido, o estado de
São Paulo registrou a maior redução de mortes de policiais no período, 24 a
menos do que em 2014. No Rio, em números absolutos, a vitimização de policiais
é a maior do Brasil. No estado, 98 policiais foram mortos no ano passado. São
Paulo ficou em segundo lugar, com 60 casos.
— É um enorme mata-mata —
disse Lima.
O filho da operadora de caixa
Fátima, de 33 anos, morreu no contexto que os números da pesquisa descrevem.
Anderson Bento da Silva, de 17 anos, dirigia um carro roubado em São Bernardo
do Campo (SP), quando foi abordado pela polícia, segundo a mãe, que não quer
ser identificada.
— Ele não estava armado e saiu
do carro implorando para não ser morto. Eu vi tudo. A polícia deu três tiros
tiros nele, um deles na cabeça.
DISCRETA RETRAÇÃO
Embora o total de assassinatos
de 2015 tenha registrado uma queda de 1,2% em relação a 2014, o cenário no país
é trágico, avalia o diretor do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
— O número de mortes, nos dois
últimos anos, se manteve estável, mas ele vem em um movimento ascendente. Ainda
assim, os números pouco sensibilizam as pessoas. É uma tragédia pelo volume. Já
supera a guerra da Síria.
As mortes violentas passaram
de 278 mil casos no Brasil, entre 2011 e 2015. Mais ou menos no mesmo período,
256 mil pessoas foram mortas na guerra da Síria, de acordo com o Observatório
de Direitos Humanos do país. A questão, porém, é que a mobilização e comoção em
torno da Síria não se repete nem mesmo entre os brasileiros quando o assunto
são os assassinatos no país.
Detalhadas por estado, as
mortes violentas a cada 100 mil brasileiros ganham contornos ainda piores.
Sergipe, por exemplo, assumiu no ano passado o primeiro lugar do ranking das
mortes violentas com uma taxa de 57,3 assassinatos a cada 100 mil habitantes,
um aumento de 18,2% em relação a 2014. Na sequência, vem Alagoas (50,8), que
conseguiu a maior redução de mortes violentas de 2015 (20,8%). No terceiro
lugar, ficou o Rio Grande do Norte (48,6).
Na outra ponta, entre os
estados com o menor número de mortes violentas, estão São Paulo (11,7), Santa
Catarina (14,3) e Roraima (18,2). No Rio de Janeiro, a taxa caiu 12,9% em 2015
e ficou em 30,3, contra 34,7 de 2014. No estado, ocorreram 5.719 mortes
violentas em 2014 e 5.010, no ano passado. No ranking, 16 unidades da Federação
estão acima da média nacional de 28,6 assassinatos a cada 100 mil habitantes,
mais da metade dos 27 estados.
Na quinta-feira, a polícia
encontrou, dentro de uma mala boiando, às margens do Lago Paranoá, em Brasília,
o corpo de um homem de 39 anos. Segundo a polícia, ele era condenado por
pedofilia e estava em liberdade provisória desde 2011.
O Globo
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