A comunidade internacional
adotou neste sábado (15), em Kigali, um acordo que visa à eliminação
progressiva dos hidrofluorocarbonos (HFC), um dos gases do efeito estufa
considerados muito nocivos para o clima.
"No ano passado, em Paris
[durante a COP21], prometemos proteger o mundo dos piores efeitos da mudança
climática. Hoje honramos esta promessa", afirmou o diretor do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Erik Solheim, citado em um
comunicado.
Juridicamente vinculante, o
acordo de Kigali supõe um passo importante na luta contra o aquecimento
climático e permite dar um sinal positivo a menos de um mês da próxima grande
conferência anual sobre o clima, a COP 22, em Marrakesh (Marrocos).
Alcançado depois de uma noite
inteira de negociações, o acordo, que introduz uma emenda ao Protocolo de
Montreal sobre a proteção da camada de ozônio, foi amplamente celebrado, apesar
de alguns lamentarem que países como a Índia ou os do Golfo tenham decidido
iniciar sua transição mais tarde que outros.
"Não era totalmente o que
desejávamos, mas continua sendo um bom acordo", declarou o representante
das Ilhas Marshall, Mattlan Zackhras. "Todos sabemos que temos que fazer
mais e faremos mais".
A eliminação dos HFC, usados
em geladeiras, frigoríficos e aparelhos de ar condicionado, é um tema espinhoso
para a Índia, e foram requisitadas várias reuniões bilaterais na sexta,
inclusive com a participação do secretário de Estado americano, John Kerry,
para desbloquear as conversações.
Primeiro teste sério
O calendário adotado este
sábado prevê que um primeiro grupo de países, os chamados desenvolvidos, reduza
sua produção e consumo de HFC em 10% antes do final de 2019 em relação aos
níveis de 2011-2013, e 85% antes de 2036.
Um segundo grupo de países em
vias de desenvolvimento, entre eles a China - o maior produtor mundial de HFC -
e os africanos, se comprometeu a iniciar sua transição em 2024. Deverão
alcançar uma redução de 10% em relação aos níveis de 2020-2022 para 2029 e de
80% para 2045.
Um terceiro grupo de países em
desenvolvimento, incluindo Índia, Paquistão, Irã, Iraque e os países do Golfo,
não começará, por sua parte, até 2028, para chegar a uma redução de 10% em
relação ao período 2024-2026 em 2032 e de 85% em 2047.
"É uma vergonha que a
Índia e alguns países tenham escolhido um programa mais lento", criticou a
ONG Christian Aid, admitindo, no entanto, que a comunidade internacional em seu
conjunto "superou seu primeiro teste sério" em termos de política
climático desde a COP21.Com o Pacto de Paris, a comunidade internacional se
comprometeu em atuar para conter o aumento da temperatura médiua a menos de
dois graus centígrados em relação à era pré-industrial e vai continuar com os
esforços para limitá-la a 1,5ºC.
A eliminação dos HFC, também
utilizados em alguns aerosóis ou na fabricação de espuma isolante, poderá
reduzir em 0,5 ºC o aquecimento mundial até 2100, segundo um estudo publicado
em 2015.
Até 2030, permitirá evitar a
cada ano até 1,7 gigatoneladas de equivalente de CO2, ou seja, as emissões do
Japão.
Alternativas
Os HFC são gases de efeito
estufa sumamente nocivos, proporcionalmente muito piores que o dióxido de
carbono, e as emissões aumentam a um ritmo de 10-15% por ano.
São utilizados desde os anos
1990 em substituição ao CFC (clorofluorocarbonos), principais responsáveis pela
destruição da camada de ozônio.
Mas apesar de serem bons para
o ozônio, são desastrosos para o clima.
Segundo Paula Tejón Carbajal,
do Greenpeace, o acordo de Kigali só terá êxito se a comunidade internacional
optar por soluções de mudança que preservem o meio ambiente.
Os participantes confirmaram,
além disso, seus compromissos para financiar a transição. No final de setembro,
16 países e 19 organismos e doadores privados reunidos em Nova York prometeram
uma ajuda de 80 milhões de dólares para os países em desenvolvimento.
O custo da transição, avaliado
em milhares de milhões de dólares em escala mundial, voltará a ser discutido no
final de 2017, dentro do Protocolo de Montreal.
G1
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