Com a posse do presidente
Donald Trump em 20 de janeiro próximo, o governo brasileiro pretende
intensificar as relações com os Estados Unidos visando a ampliar o comércio
bilateral, resolver questões que permitam aumentar os investimentos
norte-americanos no Brasil e acelerar a cooperação entre os dois países em
projetos nas áreas de defesa e de energia, disse o embaixador do Brasil em
Washington, Sergio Amaral, em entrevista ao programa Revista Brasil,
transmitido pela Rádio Nacional de Brasília, Rádio Nacional do Rio de Janeiro,
Rádio Nacional da Amazônia e Rádio
Nacional do Alto Solimões.
"Temos uma presença nos
Estados Unidos que está muito aquém da nossa potencialidade e do que
somos", acrescentou o embaixador. Sergio Amaral disse que, desde que
assumiu o posto de embaixador em Washington, em setembro do ano passado, ficou
impressionado com a "subrepresentação" do Brasil em setores
importantes da vida norte-americana, particularmente o Congresso Nacional.
Segundo o embaixador, o
Congresso norte-americano, que tem maioria republicana, vai desempenhar, nos
próximos anos, papel "muito importante" no futuro dos Estados Unidos.
Por essa razão, disse ele, o Brasil precisa aproveitar o momento para "ter
maior proximidade", para discutir os assuntos de seu interesse e
apresentar propostas que aproximem os dois países.
Em um contexto de relações
internacionais em que o Brasil não é parte de nenhum problema levantado por
Donald Trump, durante a sua campanha eleitoral, as propostas brasileiras
"são muito positivas", de acordo com o embaixador. Ele disse que,
além do Congresso, o Brasil pretende aprofundar relações também com o setor
acadêmico e do pensamento norte-americano.
De acordo com o embaixador, a
comunidade brasileira que vive nos Estados Unidos também pode ter papel
relevante em uma maior aproximação do Brasil com os Estados Unidos. "São 1
milhão e 100 mil pessoas, que estão presentes em várias cidades, em várias
regiões, são ativas, participam da vida comunitária, e podem ser um ativo
quando buscamos aproximação maior com os congressistas. Porque nas suas
comunidades elas já têm um peso político que pode se traduzir em questões de
interesse do Brasil.", acrescentou Amaral.
Convergência
Ao falar sobre o anseio que
existe em ambos os países para o aumento do comércio, o embaixador afirmou que,
atrás dos problemas que surgem, há oportunidades. "Muitas pessoas e países
estão preocupados com as restrições do novo governo em relação ao Tratado de
Cooperação Transpacífica, que aparentemente não vai ser ratificado, ou muito
provavelmente não vai ser ratificado".
"Isso, para nós, não é
necessariamente um problema", disse Sergio Amaral. E acrescentou:
"Não éramos participantes desse processo de negociação. Acho até que, se
não houver esse Acordo Transpacífico, será mais natural que as duas grandes
regiões - a da América do Sul, do lado do Atlântico - que tem o Mercosul, e a
da América do Sul - que está do lado do Oceano Pacífico, organizada em torno
desse acordo Transpacífico - se aproximem mais e promovam um processo de
convergência da América do Sul".
O embaixador Sergio Amaral
disse que toda grande mudança pode apresentar dificuldades. "Felizmente,
no caso atual, essas dificuldades não são grandes. Mas elas apresentam muito
boas oportunidades que temos de saber aproveitar".
Donald Trump
O embaixador brasileiro também
analisou as razões que levaram Donald Trump a ganhar as eleições para a
presidência dos Estados Unidos. Ele disse que a vitória de Trump representa uma
série de mudanças que ocorrem não só nos Estados Unidos, como na Europa.
"São mudanças muito grandes que mostram nova posição da sociedade perante
o governo. A sociedade não está satisfeita, ela quer mudanças. Ela desenvolveu
uma atitude antigoverno, antipolíticos, porque a sociedade está buscando novos
caminhos perante essas mudanças. Isso nós notamos muito claramente aqui. O que
o presidente Trump fez na sua campanha foi basicamente capturar esse sentimento
de insatisfação da sociedade. E soube se comunicar com a sociedade e buscar dar
uma resposta a ela".
Sobre o receio de muitos
países de serem afetados pelas mudanças que Trump pretende imprimir em seu
governo, Sergio Amaral afirmou que "não cabe à embaixada avaliar o governo
americano". Ele disse que pode, porém, comentar como essas mudanças podem
ou não afetar o Brasil. "Eu digo que, de forma geral, somos pouco afetados
por essas mudanças. O Brasil não é parte de nenhum dos problemas que foram
levantados na campanha. na área de comércio, não temos grande superávit com os
Estados Unidos. Temos é um déficit de ano a ano de US$ 2 bilhões a US$ 3
bilhões".
Em sua análise, Sergio Amaral
observou que o Brasil não está capturando investimentos nos Estados Unidos em
detrimento do trabalhador americano. "Ao contrário, nós investimos aqui
até uma soma expressiva, US$ 24 bilhões nos últimos anos, e estamos gerando
empregos aqui. Não somos um problema nem na área de tráfico de drogas, nem de
armas, nem mesmo de terrorismo. A nossa contribuição à relação Brasil-Estados
Unidos é positiva", finalizou.
Agência Brasil
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