De olho em lucros inéditos e
em consolidar o futebol como principal esporte no mundo, a Fifa promove a maior
reforma da história de quase cem anos da Copa do Mundo e inicia uma mudança
completa no calendário internacional. Além de uma expansão para incluir 48
seleções, a entidade altera as regras do torneio e abre a possibilidade de que
continentes possam repartir os jogos em diversos países. Torneios como a Copa
das Confederações devem desaparecer e clubes terão maior participação nos
lucros.
O Estado havia antecipado que
uma decisão de princípios já havia sido tomada numa reunião informal no domingo
entre os cartolas. Nesta terça-feira, de forma oficial, a Fifa votou a favor da
decisão, incluindo 16 novos times a partir da edição de 2026 do Mundial. De
acordo com a entidade, a decisão do Conselho foi tomada de forma unânime e não
houve voto dissidente.
Na preparação para a decisão
desta terça-feira, a entidade havia realizado 10 mil simulações apontando que,
em termos de qualidade, o melhor seria manter a Copa com os atuais 32 países.
Mas, para atingir seu objetivo de expandir o futebol e elevar a renda da
entidade, a opção encontrada foi a de abrir mais vagas.
Assim, a Copa iniciará com 48
times, divididos em 16 grupos de três seleções cada. As duas melhores de cada
chave passam para a fase seguinte e, com 32 times, começaria um mata-mata.
A projeção é de que a renda
salte em 35%, com uma audiência recorde em novos territórios que jamais
sonhariam em se classificar para a Copa do Mundo, principalmente na Ásia. Com a
expansão, existem boas chances de que a China também entre na Copa, um sonho de
Pequim e dos dirigentes na Fifa.
Pelo projeto aprovado, serão 80
jogos e pelo menos seis horas de futebol por dia. Com quatro partidas por dia,
a própria entidade admite que será “um desafio” erguer uma infraestrutura capaz
de acomodar o projeto.
Para que isso seja possível, a
Fifa vai promover mudanças radicais nas regras do jogo. O primeiro é o fim do
empate, com todos os jogos sendo definidos em pênaltis. Além disso, até 2026, a
esperança é de que a tecnologia já esteja avançada e de que polêmicas de
arbitragem possam ser facilmente resolvidas por vídeo ou outros auxiliares.
Estão ainda em estudos medidas como a autorização de novas substituições, na
esperança de manter elevado o ritmo de jogo.
CONTINENTAL
Para garantir ainda que o novo
projeto possa encontrar uma sede capaz de ter doze estádios novos, 64 campos de
treinamentos, 48 hotéis para as seleções e uma segurança reforçada, a Fifa vai
abrir a possibilidade de que diversos países se apresentem de forma conjunta.
Um dos temores das federações
era de que, com o novo projeto, as futuras sedes da Copa se limitassem aos
grandes países: EUA, China, Alemanha ou Japão.
Mas a Fifa, a partir de 2026,
permitirá que uma Copa possa ocorrer em mais de três países ao mesmo tempo.
Isso, segundo a entidade, reduzirá o custo para cada uma delas. Se o Mundial
voltar para a Europa em 2030, por exemplo, ela poderia ser espalhada pelo
continente. No caso da América do Sul, o evento poderia ver uma aliança entre
Argentina, Uruguai e Chile.
O primeiro teste para o novo
modelo pode ocorrer nos EUA, país que quer sediar o evento em 2026. Mas a
proposta pode incluir também jogos no Canadá e México.
O pesadelo organizacional
ainda fica mais complicado se for considerado que o país ou continente sede
tenha de receber 48 torcidas diferentes e garantir a segurança de todos esses
grupos.
RISCOS
Entre os críticos das
propostas, o principal temor é de que o que parece ser um salto na renda acabe
sendo um tiro no pé na qualidade do torneio. Patrick Nally, o homem que montou
o esquema de marketing da Copa nos anos 70, alertou que a expansão pode acabar
reduzindo o valor do torneio, diante do exagero de jogos.
Em 2016, pela primeira vez em
30 anos, houve uma fatiga na audiência na Inglaterra em relação ao futebol. A
conclusão foi de que havia “muitos jogos” ao vivo. Para a Fifa, isso seria
compensado por novos territórios e populações que passariam a fazer parte da
“festa”.
A meta também é de ter 60% da
população mundial envolvida no futebol nos próximos dez anos, consolidando a
modalidade como o esporte mais popular – e rentável – do planeta.
PODER
Outro impacto será na divisão
de vagas por cada continente. Infantino havia prometido, para ser eleito, que
abriria espaço para novas regiões do mundo. A tática foi a mesma usada por João
Havelange nos anos 70 para conseguir se consolidar no poder. Com a aprovação,
Infantino tem grandes chances de se eleger uma vez mais em 2019.
Nos próximos meses, haverá um
debate sobre como serão repartidas as vagas para o torneio. Mas tudo indica que
a América do Sul possa ter 6,5 vagas, contra 9,5 para a África, 8,5 para os
asiáticos, 16 para europeus, 6,5 para Concacaf e uma para a Oceania.
Com a expansão, a Fifa ainda
vai distribuir US$ 1 bilhão às federações a partir de 2026 e apenas por entrar
no evento um país pode ficar com pelo menos US$ 8 milhões.
Para acalmar os clubes
europeus, a Fifa ainda promete uma série de medidas: limitar a nova Copa a 32
dias, o fim da Copa das Confederações e o fim da obrigatoriedade de liberar
jogadores para a Olimpíada.
Estadão Conteúdo
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