Caracterizado por um
resfriamento acima da média da superfície do Oceano Pacífico, o fenômeno La
Niña mal se estabeleceu e já se dissipou, anunciou esta semana a Administração
Nacional para Oceanos e Atmosfera dos EUA (Noaa, na sigla em inglês). Com isso,
o clima no Brasil vai ficar mais imprevisível nos próximos meses, já que estas
épocas de neutralidade na temperatura da água do Pacífico deixam o tempo no
país mais ao sabor de outras variáveis transitórias, como o comportamento dos
ventos no Atlântico, alerta Renata Tedeschi, climatologista do Centro de
Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (CPTEC/Inpe).
— Nestes períodos de
neutralidade é muito difícil prever o que vai acontecer porque o clima no
Brasil passa a estar sujeito a muitos outros fatores — explica Renata. — Sem El
Niño ou La Niña, não temos um fenômeno de grande influência que guie a previsão
numa direção. E isto dificulta fazer prognósticos, principalmente para períodos
de mais de três meses.
Renata ressalta, no entanto,
que, diante da baixa intensidade que apresentava esta ocorrência do La Niña, o
CPTEC, em conjunto com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa), já trabalhava suas previsões como se o fenômeno não tivesse se
estabelecido. Segundo ela, para influenciar perceptivelmente o clima no país,
trazendo, por exemplo, mais chuvas para o Norte e Nordeste e menos no Sul, o La
Niña tem que ser no mínimo moderado, com as águas do Pacífico pelo menos 1º C
mais frias que o normal. De acordo com o monitoramento da Noaa, porém, esta
anomalia não passou de -0,8º C nas médias trimestrais móveis registradas na
região central do oceano desde o período de julho-setembro do ano passado,
metodologia e local usados como referência pela instituição para declarar a
ocorrência do fenômeno e, no caso de aquecimento anormal das águas, seu
inverso, o El Niño.
— Um La Niña fraco como este
afeta muito pouco o clima no Brasil — justifica Renata.
Ainda de acordo com a Noaa, a
maioria dos modelos aponta que as condições de neutralidade devem continuar
pelo menos até o fim do verão no Hemisfério Norte, inverno aqui no Brasil. Mas
a partida do La Niña também abre caminho para a volta do El Niño, que tem um
impacto maior no clima brasileiro, trazendo, por exemplo, mais chuvas para o
Sul e Sudoeste e provocando secas no Norte e Nordeste, além de aumentar a
temperatura média no país de forma generalizada. Segundo a Noaa, já a partir do
trimestre setembro-novembro são de 50% as chances de o Pacífico equatorial
ficar mais quente que o normal e o El Niño recomeçar.
— Mas este trimestre ainda
está muito longe, então é muito difícil afirmar que o El Niño vai voltar. Temos
que acompanhar para ver se ele se desenvolve ou não — conclui Renata.
O Globo
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