O relator da reforma da
Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA) e o presidente Michel Temer – (Foto:
EVARISTO SA / AFP)
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Na luta para conseguir a
maioria dos votos necessários para aprovar a reforma da Previdência no plenário
da Câmara dos Deputados, o governo está atuando paralelamente junto ao Senado,
onde pretende concluir em até três semanas a reforma trabalhista e, assim,
estimular os deputados a aprovarem a segunda e mais complexa proposta, que muda
as regras de aposentadoria dos brasileiros. A tática no Senado será a mesma
adotada para pressionar os deputados a votar com o governo: cobrança de
fidelidade dos aliados e exoneração de indicados por rebeldes.
O presidente Michel Temer
passou os últimos dias costurando apoio dos senadores para dar celeridade à
tramitação da proposta trabalhista — que passou pela Câmara e acabou de chegar
ao Senado — como condição fundamental para aprovar a previdenciária no
Congresso até julho. Caso contrário, o governo teme que as mudanças no regime
de aposentadoria se estendam para o segundo semestre.
— O presidente está com um
olhar muito atento para o Senado, porque o que acontecer lá terá um rebatimento
na Câmara — disse um assessor de Temer.
Ontem, Temer teve duas
reuniões a respeito das reformas. Pela manhã, foi à residência do presidente do
Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), onde ficou durante cerca de três horas. No
fim da tarde, o presidente da República convocou ministros e líderes do governo
para uma reunião no Palácio da Alvorada. Lá, foi discutida uma ação mais ampla
de governo, inclusive de comunicação, para aprovar as duas reformas.
A estratégia é mostrar para a
população que o objetivo da mudança é salvar a Previdência, sem prejudicar os
mais pobres, e que o projeto agora não é mais só do Executivo, mas da
sociedade, devido aos ajustes feitos pelos congressistas à proposta original. O
Planalto vai mudar nesta semana a forma como divulga a reforma para a
sociedade. As novas peças de publicidade vão destacar que o texto “combate os
privilégios” e “protege as pessoas vulneráveis”.
Segundo o ministro da
Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, não há ainda prazo para levar a
proposta da Previdência ao plenário da Câmara, quando a votação do texto for
concluída amanhã, na comissão especial que analisa o tema. Diante das dificuldades
em consolidar uma maioria favorável à reforma previdenciária, o governo vai
aguardar a incerteza diminuir para marcar a votação.
— Tão logo o texto seja
aprovado na comissão, vamos iniciar essa comunicação. A nossa expectativa é
que, na medida em que haja um conhecimento amplo e uma articulação com as
bancadas e com os partidos, o projeto seja levado a plenário. O que a gente não
pode é precisar a data, que depende de uma avaliação permanente — disse o
ministro, ao deixar a reunião.
Apesar das concessões ao texto
original da Previdência, os deputados continuam resistentes, porque não querem
arcar sozinhos com o desgaste político de dar o primeiro passo nas reformas
impopulares. Os parlamentares querem ter segurança de que o Senado vai votar,
disse um assessor do presidente.
Segundo uma fonte, a abordagem
junto aos senadores também precisa ser cuidadosa, porque eles não querem passar
a impressão de que serão apenas “carimbadores” das propostas vindas da Câmara.
Por isso, o prazo de três semanas é considerado razoável pelo governo para
realização de debates e votação da trabalhista no Senado. Se der tudo certo,
disse um assessor do presidente, a previdenciária pode ser colocada em votação
no plenário da Câmara no fim deste período.
Com a aprovação célere da
reforma trabalhista no Senado, o Planalto espera conseguir o placar mínimo
constitucional, de 308 deputados, para aprovar a reforma da Previdência na
Câmara nas próximas semanas. A missão dada aos líderes governistas é concentrar
esforços para derrotar todos os destaques ao texto final da Previdência na
comissão especial, amanhã. Eventuais novas concessões somente serão feitas
quando o texto for submetido ao plenário da Câmara, diante de risco de derrota
para o governo.
Temer se reunirá na manhã de
hoje com os partidos da base para tratar especificamente da reforma
previdenciária, no Palácio do Planalto. No encontro, o governo fará uma análise
de comportamento dos seus aliados nas redes sociais, o que eles estão dizendo
sobre a proposta. Nos bastidores, o governo avalia que está havendo uma
inflexão e que alguns parlamentares já começam a defender a reforma. A ordem é
que eles intensifiquem esse movimento.
Na reunião entre Temer e
Eunício, também ficou claro que há uma preocupação com a atuação do líder do
PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), que vem se posicionando sistematicamente
contra as reformas. Segundo relatos, na conversa com Eunício, Temer disse que a
intenção do governo é acalmar e, ao mesmo tempo, deixá-lo isolado em sua posição
contra as reformas. Fala-se no governo que as declarações de Renan já não
provocam mais um “terremoto”na Câmara, mas apenas um “desconforto” entre os
deputados.
O Globo
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