O Ministério Público
possivelmente erra em sua datação sobre o início da formação do cartel na
prestação de serviços de realização e manutenção da iluminação pública de
Natal. Estas empresas não estão aqui desde 2008 (leia aqui), mas vieram em
gestões anteriores. E há uma razão antiga para a ponte PE-RN: afinidade
partidária entre os dois líderes nos dois entes federados, me contou uma fonte
experiente.
As investigações do Ministério
Público vêm de longa data. Sua peça é bem fundamentada no que tange a
abundância de provas. Um dos advogados de um dos investigados com quem
conversei me disse que será perda de tempo tentar negar a existência dos
crimes. Melhor será colaborar com o MP. As investigações do MP não começaram
recentemente e, após a deflagração da operação cidade luz e a vontade já
constatada dos presos provisórios de delatarem, muita coisa ainda virá à tona.
Só que, certamente, os esqueletos da SEMSUR foram postos na rua, a partir da
renhida disputa entre Raniere e Carlos Eduardo Alves em torno da presidência da
Câmara Municipal do Natal.
Jerônimo Melo, que liderou a
Semsur por cinco meses e hoje se encontra preso, assumiu a pasta diante de uma
queda de braço contra cargos em comissão da secretaria. A SEMSUR é uma
secretaria imensa, com dezenas de comissionados e outras tantas indicações
políticas nas terceirizadas. Jerônimo se ressentia de não ter pego o espaço de
“porteira fechada” e passou a tentar retirar alguns dos indicados. É aí que a
briga começa. Todos os passos do secretário passaram a ser alvo de todo tipo de
contestação de servidores, terceirizados e cargos em comissão, que temiam pelas
suas próprias permanências com Jerônimo na secretaria.
Lembro bem que, na época,
publiquei algo a respeito desta disputa política. Denúncias de todo tipo foram
encaminhadas para diversos blogueiros e portais. Jerônimo entrou num combate
estéril com àqueles que fazem o dia-a-dia da Semsur. Ou seja, estava destinado
a perder e a se desgastar no cargo. Como me disse certa vez um comissionado da
pasta, “é ele ou a gente”. São batalhas normais da política miúda de uma gestão
pública ou de qualquer espaço que envolve poder. Como falou acertamente
Churchill, “o inimigo mora na base”. Daí as reclamações públicas dos servidores
da Semsur na época que Jerônimo era um “Hitler”.
O entrevero ganha força, no
entanto, com dois ingredientes adicionais. Primeiro, a percepção de Jerônimo
Melo, que passou a acreditar piamente que os ataques eram orquestrados por
Raniere Barbosa, que já havia sido secretário da SEMSUR. Foi um ponto de
partida errado, pois que ele não percebia que as críticas e contestações
surgiam da própria burocracia da SEMSUR, com pessoas preocupadas em perder seus
cargos. Mas a partir de então, ele passou a contra atacar seu “inimigo”.
Funcionários da Semsur alegam que foi o próprio Jerônimo quem encaminhou alguns
contratos antigos da secretaria para o Ministério Público, possivelmente na
esperança de enfraquecer Raniere.
Diante do imbróglio e tendo
conhecimento da confusão, conforme conversas interceptadas pelo ministério
público em que Carlos Eduardo Alves é citado como ciente da história, ele nada
fez (leia aqui). Por qual razão? Algumas hipóteses circulam nos bastidores. Mas
a mais plausível é a de que, ao contrário de um passado não muito distante
(leia aqui), CEA deixou o circo pegar fogo para ver se Raniere não conseguiria
assumir à presidência da Câmara Municipal do Natal. Críticas e ataques contra
Raniere também deram o ar da existência durante o pleito pela presidência da
câmara e logo após – seu patrimônio pessoal foi lembrado, além de menções a um
apartamento declarado em seu impsto de renda a um possível valor inferior ao de
mercado (leia aqui). Este apartamento tornou a ser citado, agora já na peça do
Ministério Público. O rompimento entre CEA e Raniere era real e não mero jogo
de cena, conforme alguns analistas levantaram na época. Raniere foi destituído
da liderança na CMN em 2016 sem se quer ser comunicado (leia aqui). Enfim, uma
tipica disputa em que, a movimentação de cada um tentando matar o oponente
visto como inimigo, provocou provavelmente a implosão geral.
O Potiguar
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