Marcha. Pesquisadores
protestam contra corte de verbas Foto:
Felipe Rau/Estadão
|
Os cortes orçamentários em
Ciência e Tecnologia “comprometem seriamente o futuro do Brasil” e precisam ser
revistos “antes que seja tarde demais”, segundo um grupo de 23 ganhadores do Prêmio
Nobel, que enviou nesta sexta-feira, 29, uma carta ao presidente Michel Temer,
recomendando mudanças na postura do governo com relação ao setor.
O documento, enviado por
e-mail ao gabinete da Presidência, faz referência ao corte de 44% no Orçamento
deste ano do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
(MCTIC), assim como à perspectiva de um novo corte em 2018 - que deverá ser da
ordem de 15%, caso o Projeto de Lei Orçamentária Anual enviado pelo governo ao
Congresso seja aprovado como está.
“Isso danificará o Brasil por
muitos anos, com o desmantelamento de grupos de pesquisa internacionalmente
reconhecidos e uma fuga de cérebros que afetará os melhores jovens cientistas”
do País, escrevem os pesquisadores.
A carta, à qual o Estado teve
acesso com exclusividade, é assinada pelo físico francês Claude Cohen-Tannoudji
e outros 22 laureados com o Prêmio Nobel nas áreas de Física, Química e
Medicina. “Sabemos que a situação econômica do Brasil é muito difícil, mas
urgimos o senhor a reconsiderar sua decisão antes que seja tarde demais”,
conclui a carta.
Repercussão
“É uma iniciativa que mostra a
importância da ciência brasileira e a gravidade da situação”, disse o presidente
da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich, que também recebeu uma
cópia da carta. A Presidência da República foi procurada pela reportagem, mas
não respondeu até as 21 horas.
“A situação é trágica, não há
outra palavra para descrevê-la”, disse ao Estado o pesquisador David Gross, da
Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, vencedor do Nobel de Física em
2004 e também signatário da carta. Ele prevê que muitos jovens pesquisadores
brasileiros vão desistir da carreira científica ou migrar para outros países,
mais favoráveis à ciência. “Eles vão embora e não voltarão”, alertou. “É uma
política estúpida, autodestrutiva”, completou Gross, referindo-se aos cortes
horizontais aplicados pelo governo em todas as áreas, sem definição de
prioridades.
A ciência, de acordo com ele,
é uma área que precisa de investimentos consistentes e de longo prazo para
produzir resultados que são essenciais para qualquer sociedade moderna. “Não é
algo que você liga e desliga sem ter consequências graves.”
A carta dos laureados reproduz
argumentos que vem sendo usados exaustivamente pela comunidade científica
brasileira nos últimos anos. Em uma carta enviada à Presidência da República no
início da semana, mais de 250 pesquisadores da área de Matemática pedem também a
Temer que reconsidere os cortes orçamentários do setor.
“À fria luz dos fatos e além
de qualquer partidarismo, repudiamos os repetidos e substanciais cortes de
verba que sabotam o potencial transformador da ciência brasileira”, diz o
documento. Entre os signatários está o matemático Artur Avila, ganhador da
Medalha Fields, considerada o Prêmio Nobel da Matemática.
Cortes
O orçamento deste ano do MCTIC
é o menor de todos os tempos, com cerca de R$ 3,2 bilhões disponíveis (depois
do contingenciamento de 44% no início do ano) para o financiamento de pesquisas
e pagamentos de bolsas em todo o País. Isso equivale a um terço do que o
ministério tinha quatro anos atrás (antes de ser unificado com a pasta de
Comunicações), e a proposta inicial do governo para 2018 é reduzir esse valor
ainda mais, para R$ 2,7 bilhões.
Estadão Conteúdo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Reflita, analise e comente