Com a ameaça de deputados do
Centrão de obstruir votações na Câmara e os sinais de desembarque dados pelo
PSDB, o presidente Michel Temer avalia antecipar para janeiro de 2018 a reforma
ministerial, a princípio prevista para abril, quando candidatos às eleições
terão de deixar os cargos. Auxiliares do presidente dizem que o governo não vai
ficar refém do bloco formado por partidos médios, como PP, PR e PTB, mas está à
procura de uma solução para o impasse.
A crise política se agravou
nesta terça-feira, 7, quando aliados da base deram ultimato ao Palácio do
Planalto, exigindo a exclusão do PSDB do primeiro escalão. Os tucanos controlam
quatro ministérios e se dividiram no apoio a Temer durante a votação da segunda
denúncia contra ele, por obstrução da Justiça e organização criminosa.
“Ou muda (o Ministério) ou não
vota mais nada aqui”, afirmou ao Estado o deputado Arthur Lira (AL), líder da
bancada do PP, a quarta maior da Câmara, com 45 parlamentares. Na véspera, em
sinal de protesto, Lira chegou a faltar à reunião convocada por Temer com
outros líderes aliados no Planalto.
A quem lhe pergunta sobre
trocas na equipe, Temer afirma que “tudo vai depender das circunstâncias
políticas”. A ideia, agora, é fazer as mudanças no início de 2018. A exceção
seria o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que, mesmo se decidir
concorrer, fica até abril.
Na prática, o presidente está
à espera do PSDB, que fará uma convenção em 9 de dezembro para decidir o seu
destino. Se o encontro fosse hoje, os defensores da entrega dos cargos – entre
eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Tasso Jereissati
(CE), que comanda interinamente o partido – sairiam vitoriosos.
A cobiça do Centrão se
concentra em duas pastas controladas por tucanos – a Secretaria de Governo,
responsável pela articulação política e dirigida por Antônio Imbassahy (BA), e
o Ministério das Cidades, nas mãos de Bruno Araújo (PE). O PSDB também comanda
os ministérios das Relações Exteriores e dos Direitos Humanos.
O Centrão reúne cerca de 200
deputados. Mais recentemente, a cúpula do PMDB passou a cobrar de Temer uma
reforma ministerial e a antecipação da saída dos ministros que vão disputar as
eleições. Dos 28 ministros, pelo menos 18 serão candidatos em 2018.
O PMDB quer que o ministro da
Casa Civil, Eliseu Padilha, acumule as funções hoje ocupadas por Imbassahy.
Além disso, se houver dança de cadeiras, vai reivindicar a Saúde, hoje com o
PP. A pasta detém um orçamento robusto, assim como o Ministério das Cidades.
Previdência. Considerada uma
prioridade para o governo, a reforma da Previdência fica cada vez mais difícil
de ser aprovada no Congresso. Para Lira, mesmo a mudança na Esplanada não
ajudará na aprovação da proposta. “O governo teve seus erros. O
(ex-procurador-geral da República Rodrigo) Janot é o grande culpado. O governo
se comunicou mal. É uma reforma necessária, mas não tem mais tempo”, disse o
deputado.
A dificuldade com a base é
admitida até mesmo pelo líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP). “Se não tem
alguém satisfeito, não tem por que permanecer (no governo)”, afirmou, em um
recado ao PSDB.
Para o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), Temer precisa “reorganizar” sua base de sustentação
rapidamente. Na avaliação de Maia, o governo não tem como cobrar mais nada dos
aliados agora, após o desgaste que eles sofreram com a votação das duas
denúncias contra Temer na Casa. “Quem votou para adiar a investigação teve um
atitude corajosa”, afirmou o deputado.
O líder do PTB na Câmara,
Jovair Arantes (GO), disse que pensa “parecido” com Lira sobre a rebelião do
Centrão, mas se recusou a discutir o “assunto pela imprensa”.
Além da reforma ministerial,
integrantes do Centrão dizem que o mal-estar na base também decorre do não
cumprimento de promessas de liberação de cargos e emendas feitas pelo governo
na época da votação das denúncias. “O governo precisa atender os partidos com
os pedidos dos deputados. Tem emenda não paga, cargos menores nos Estados que
foram prometidos, mas não foram cumpridos”, observou o líder do PR, José Rocha
(BA).
Deputado licenciado, o
ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra (PMDB-RS), avaliou
que é natural a pressão por trocas no primeiro escalão, mas disse não acreditar
que Temer terá dificuldades de aprovar matérias no Congresso. “O presidente já
é calejado neste tipo de pressão.”
Estadão Conteúdo
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