A estratégia seria a mesma que
agentes russos usaram para manipular o debate online nas eleições dos EUA no
ano passado, e que obrigou Mark Zuckerberg a pedir desculpas pelo papel do
Facebook nessa história. Aparentemente, a mesma ideia está em prática no Brasil
desde 2012.
O salário dos chamados
"ativadores" ia de R$ 800 a R$ 2.000 por mês. Um deles chegou a
gerenciar 17 perfis ao mesmo tempo no Facebook. Além de postar a favor e contra
certos políticos, ele precisava também fazer postagens genéricas, como
"bom dia", "boa noite" e comentários do cotidiano, para
driblar o sistema anti-fakes do Facebook.
Além disso, os fakes também
adicionavam pessoas reais para influenciar o debate nas redes. A prática é um
pouco diferente da utilizada pelos chamados bots, que são perfis gerenciados
por máquinas e programados para influenciar determinados assuntos online,
inflando o volume de certas hashtags, por exemplo.
Neste caso, porém, o que esta
empresa teria usado são os chamados "ciborgues": perfis robôs
gerenciados por humanos, e não por um programa de computador. Desse modo, eles
tinham menos chances de serem pegos no pente fino do Facebook e ainda tinham
mais chance de enganar outros usuários.
De acordo com a BBC Brasil, ao
menos 13 políticos brasileiros teriam se beneficiado destas ações de fakes. No
entanto, "não há evidências de que os políticos soubessem" da atuação
dessa empresa. Os nomes citados pelos perfis falsos incluem os senadores Aécio
Neves (PSDB-MG) e Renan Calheiros (PMDB-AL) e o atual presidente do Senado,
Eunício Oliveira (PMDB-CE).
A empresa supostamente
responsável pelo tal exército fake seria a Facemedia, uma agência de
comunicação digital sediada no Rio de Janeiro. O empresário Eduardo Trevisan,
dono da companhia, negou que tenha contratado pessoas para criar perfis fakes e
manipular o debate político nas redes dessa forma.
"A gente nunca criou
perfil falso. Não é esse nosso trabalho. Nós fazemos monitoramento e
rastreamento de redes sociais", disse Trevisan à BBC Brasil. "Os
serviços em campanhas eleitorais prestados pela Facemedia estão descritos e
registrados pelo TSE, de forma transparente. Por questões éticas e contratuais,
a Facemedia não repassa informações de clientes privados."
Os políticos e partidos
citados também negaram saber do que se trata o tal exército de fakes, mas
alguns admitiram ligação com a Facemedia. A assessoria do PSDB disse que
contratou a empresa de Trevisan em 2014 para o "monitoramento e análises
de movimentos e tendências em redes sociais", e que "desconhece o
suposto uso de perfis falsos".
Eunício Oliveira, Renan
Calheiros e Aécio Neves disseram que não conhecem a Facemedia e nem têm
conhecimento do uso de perfis falsos em campanhas do tipo. Ainda de acordo com
a reportagem, há risco de essa tática ser enquadrada no crime de falsidade
ideológica.
Olhar Digital
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