Foto: José Aldenir/Agora Imagens |
Foi, sob todos os aspectos,
uma calorosa recepção. Um sol escaldante e um agitado público estimado em 4 mil
pessoas receberam Flávio Rocha neste sábado, 10, em Parelhas. A cidade é a
terceira do Rio Grande do Norte a receber a visita do empresário em apenas uma
semana. Antes, ele esteve em Natal e Mossoró. Outras viagens já estão sendo
planejadas.
Parelhas, município da região
Seridó distante 240 Km de Natal, é um dos polos do Pró-Sertão, programa de
interiorização da indústria têxtil idealizado por Rocha. Por lá, foram
instaladas dezenas das chamadas facções têxteis, pequenas fabriquetas de roupa
que compartilham a produção de peças com a gigante de Guararapes.
A passagem de Flávio Rocha
teve dois principais objetivos: a celebração do êxito do Pró-Sertão e o
lançamento no município da nova agenda do empresário, o movimento “Brasil 200”,
que prega a adoção de medidas liberais no próximo mandato presidencial – que
vai se encerrar em 2022, quando o país completará dois séculos de independência
da Coroa portuguesa.
O dono do Grupo Guararapes
(que inclui as lojas Riachuelo) foi recebido com honras de presidente.
Literalmente. Vestidos de camisetas amarelas e gritando “Brasil pra frente,
Rocha presidente”, costureiras, autoridades políticas e empresários da região
estenderam o tapete vermelho para aquele que, na visão deles, ajudou com o
Pró-Sertão a transformar a vida de pessoas que, até bem pouco tempo, tinham
pouca perspectiva de trabalho.
A oficina de costura F e L
Azevedo é um exemplo de como o programa tem ajudado a desenvolver a região.
Localizada na zona rural de Parelhas, mais precisamente no Distrito de
Cachoeira, a facção têxtil emprega pelo menos 30 pessoas. Como esta, há pelo
menos outras 60 oficinas espalhadas pelo Seridó, em municípios como Acari, São
José e Santana do Seridó e São Vicente.
Por dia, a fabriqueta de
Parelhas costura uma média de 500 peças, ou 15 mil por mês. Finalizado o
trabalho, as roupas retornam à Guararapes, que paga pelo serviço executado no
interior e dá conta do restante do processo. O compartilhamento da produção gera
benefícios para ambas as partes: enquanto a Guararapes desconcentra sua
produção, as fabriquetas no interior têm trabalho garantido, o que gera emprego
e renda na região.
A F e L tem 2 anos e meio de
atuação e só foi erguida graças ao Pró-Sertão. “Sou muito grato ao Pró-Sertão,
pois assim conseguimos dar oportunidades de trabalho em uma região tão
difícil”, destaca o empresário Luís Andrade, de 25 anos, administrador da
oficina.
A costureira Liliana Azevedo
conta que, se não fossem as facções têxteis, dificilmente haveria tantas
oportunidades de emprego na região. “Aqui somos bem tratadas. Não tenho do que
reclamar. Sou muito feliz por esse projeto, pois há poucas oportunidades”, diz
a empregada.
Apesar disso, o Pró-Sertão tem
sido alvo de ações do Ministério Público do Trabalho. No início do ano, um
grupo de procuradores deu entrada em um processo contra o modelo de
terceirização idealizado por Flávio Rocha. Na avaliação deles, a Guararapes
deve ser responsabilizada por todos os direitos trabalhistas dos funcionários
das facções. Na Justiça, o MPT pede que a empresa pague R$ 38 milhões a título
de indenização coletiva. O caso ainda não foi julgado. Em outras ações, a
Guararapes é acusada de impor aos seus funcionários condições análogas à da
escravidão.
A ida de Flávio Rocha a
Parelhas foi indisfarçavelmente uma afronta aos procuradores. Em um discurso
que remeteu em vários momentos ao clássico “Nós contra eles”, o CEO do Grupo
Guararapes escrachou o MPT, chamando os representantes do órgão de “detratores”
e “aristocracia burocrática”. “Eles são meio por cento da população brasileira,
que se apropriou do Estado brasileiro para manter os seus privilégios. Eles são
os inimigos da prosperidade. É clara a perseguição. Fizeram uma ação que vale
praticamente toda a receita da nossa operação aqui no Rio Grande do Norte, com
a intenção claramente intimidatória. Mas eu tenho um sentimento de compromisso
com o Pró-Sertão, com o Seridó. A minha reação foi botar a boca no trombone. Eu
não ia me conformar”, acrescenta.
Muitas das pessoas empregadas
nas facções têxteis de Parelhas, região castigada pela seca há seis anos, nunca
sequer haviam tido a carteira de trabalho assinada antes da instalação das
oficinas. “Historicamente, essa região só tinha a previdência social, o Bolsa
Família e algum apoio da prefeitura local. Agora, essas pessoas podem prover as
suas famílias com o suor do próprio rosto. O trabalho as emancipou”, frisa o
deputado federal Rogério Marinho (PSDB), que era secretário de Estado do
Desenvolvimento Econômico quando o Pró-Sertão foi criado.
Antes de se dirigir ao Clube
Acampar, onde um palco foi montado e uma recepção foi organizada, Flávio Rocha
visitou a oficina de costura da comunidade de Cachoeira. Lá, o empresário
destacou a essência do projeto. “Essa oficina mostra a capacidade
transformadora do Pró-Sertão. É o meu sonho de vida, transformar essa região na
Galícia potiguar”, disse, em referência à região da Espanha que, que graças à
indústria têxtil, sobreviveu à crise que arrasou a Europa na década passada.
No centro da cidade, Flávio
foi recebido com festa e com pinta de candidato. No palco, a dupla sertaneja
paulista Mateus e Cristiano cantava música composta especialmente para o líder
da Riachuelo e da Guararapes. Para ser jingle de campanha, falta o número. “Com
Flávio Rocha tudo vai ser novo / É a esperança, é a vontade do povo / Vou ter
orgulho de ser brasileiro”, diz um trecho da letra.
Questionado pelo Agora RN se
será candidato nas próximas eleições, como tem demonstrado em eventos como o de
Parelhas, Flávio desconversou, mas não rejeitou a ideia.
“Eu estou dando a minha
contribuição através do Brasil 200, que é uma forma extremamente eficiente de
pautar o debate político. Mas, onde tenho andado, tenho sido agraciado com a
generosidade das pessoas, sobre essa possibilidade de partir para uma
candidatura. Não serei candidato apenas para marcar posição. Mas, se a coisa
continuar crescendo como está crescendo, vou fazer o que for melhor para o
movimento”, afirmou.
Mais tarde, durante discurso
para o público que lotou o Acampar, ele repetiu as palavras. “O Brasil 200 está
mudando o Brasil mesmo sem candidatura à Presidência. Ninguém se lança
candidato a presidente. É preciso haver convocação, um chamamento. Se não
houver, nós vamos mudar o Brasil do jeito que estamos fazendo. Mas, se acontecer,
com este apoio, com este carinho, com essa energia, podem contar comigo, que eu
sou soldado do movimento”.
Agora RN
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