Há uma discussão muito grande
no País sobre os conteúdos dos vazamentos de conversas em redes sociais
privadas envolvendo os procuradores da Lava-Jato e o ex-juiz Sérgio Moro.
O site The intercept Brasil
vem divulgando este conteúdo e por isso mesmo seus editores têm sido alvo de
ataques os mais diversos, inclusive do próprio ex-juiz Sérgio Moro que
identifica os jornalistas como aliados de criminosos.
O ponto a ser discutido é se o
que os jornalistas do The Intercept estão fazendo é jornalismo ou não.
O fato jornalístico é todo
aquele acontecimento que tem repercussão na vida das pessoas em geral e que
merecem ser informados para o devido conhecimento.
O jornalista tem obrigação de
reportar os fatos que chegam ao seu conhecimento e tem essa repercussão na
sociedade em geral.
A Constituição assegura ao
jornalista o direito de preservar sua fonte, ou seja, se o informante não quer
ser identificado perante o público, o jornalista tem garantia constitucional de
preservação da fonte.
Quanto à possibilidade de a
fonte ter obtido as informações que repassou ao jornalista de forma ilegal, não
cabe ao jornalista responder por isso. Ele não tem obrigação sobre isso.
É bom lembrarmos aqui que boa
parte dos fatos que chegaram ao conhecimento público durante a operação
Lava-Jato foram oriundas de vazamentos ilegais. Processos que estavam sob
sigilo, áudios protegidos, autoridades que por lei não podiam ser gravadas e
captações obtidas sem a devida autorização legal.
Ninguém se importou muito se a
fonte da notícia obteve de forma ilegal os áudios e documentos que renderam as
principais manchetes da Lava-Jato. O que interessava era o conteúdo relevante.
O próprio ex-juiz Sérgio Moro
disse em entrevista a Pedro Bial depois da divulgação do áudio de Lula e Dilma
que o importante ali não era a forma de obtenção do áudio, mas o seu conteúdo.
Voltando então para a questão
do The Intercept e o jornalismo que o site está fazendo. Os editores do site
estão protegidos por lei e estão fazendo jornalismo. Eles têm obrigação
profissional de reportarem os fatos que chegaram ao seu conhecimento.
O que é mais importante nesse
momento é uma grave ameaça que se faz a liberdade de imprensa quando se tenta
de toda forma calar o The Intercept ameaçando seus editores e seus familiares.
Não estou aqui nem discutindo
o conteúdo das conversas.
Sim, porque é estranho a falta
de investigação dos órgãos federais sobre os conteúdos divulgados, a
investigação está restrita apenas a identificar quem vazou os áudios. Ninguém
está preocupado como de repente os muitos promotores citados nos vazamentos e o
próprio ex-juiz, todos sem exceção, relatam que apagaram tudo dos seus
celulares e nenhum deles se dispôs a entregar o celular para a devida análise
técnica.
O eixo da discussão é
ardilosamente desviado para questionar os jornalistas e suas revelações. A
estratégia é desqualificar a fonte e esquecer o conteúdo. Não foi assim que
funcionou na Lava-Jato. Os promotores e o e ex-juiz estão experimentando a
própria estratégia da qual antes se beneficiaram.
Chamo a atenção para uma
discussão do que é importante, o conteúdo divulgado. Se houve ou não conluio do
juiz com os promotores para direcionar a Lava-Jato no rumo de determinados
alvos.
Combater a corrupção no Brasil
é importante, necessário. Mas, isso não pode ser feito à margem da lei.
Blog do Neto Queiroz
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Reflita, analise e comente