A Assembleia Legislativa
discutiu, na tarde desta terça-feira (10), ações necessárias para o combate ao
suicídio no Rio Grande do Norte. Ouvindo autoridades e especialistas no assunto,
a audiência pública proposta pelo deputado Hermano Morais pontuou a necessidade
de que se trabalhe para ampliação ao atendimento aos transtornos mentais,
esclarecer a população sobre a importância de se respeitar e tratar as doenças
da mente.
Com o auditório lotado, o
deputado Hermano Morais falou sobre a importância da discussão, que tratou
sobre o "Setembro Amarelo: mês de prevenção ao suicídio". Para o
parlamentar, a Casa Legislativa cumpre o o seu papel ao ampliar o debate sobre
o tema, colaborando com a desmistificação acerca das mortes por suicídio.
"Observamos diariamente
dados alarmantes, inclusive recentemente, que é a segunda maior causa de mortes
entre jovens entre 15 e 29 anos no mundo. É preciso a conscientização para que
tenhamos o combate ao suicídio, já que é uma situação que está tomando
proporções preocupantes. É um fenômeno que precisa ser tratado também pela
sociedade como um problema de saúde público, que afeta pessoas de diferentes
origens, faixas etárias, sociais, e todos gêneros e orientações sexuais",
disse Hermano Morais.
De acordo com dados coletados
pelo Observatório da Violência Letal Intencional do Rio Grande do Norte
(Obvio), em estudos realizados em parceria com a Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), entre 2011 e 2019, a maior parte das pessoas que
perderam a vida devido ao suicídio era formada por agricultores, aposentados,
estudantes, trabalhadores da construção civil e desempregados. Pelo
levantamento, só no ano de 2018, a taxa de suicídios por 100 mil habitantes no
RN ficou em 6 por 100 mil.
No locais dos suicidios, 82,6%
ocorreram dentro da própria residência da vítima, 5,6% dentro de outras áreas
edificadas, 2,2% na Ponte Newton Navarro, enquanto 1,9% morreram em árvores em
áreas de mata. Segundo o levantamento, os homens são 82,8% dos das vítimas. As
principais formas de morte são por enforcamento (67,8%), envenenamento (9,7%),
uso de arma de fogo (8,2%), precipitação de pontes (2,4%) e precipitação de
prédios (1,4%).
Participando da discussão, o
psiquiatra Quirino Cordeiro Júnior, que é o atual secretário nacional de
Cuidado e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania, falou sobre a
necessidade de se ampliar a rede de atendimento às pessoas com doenças da
mente. Ele falou sobre ações do Governo Federal nos últimos anos para a
ampliação nas ofertas de atendimento a pessoas com problemas psíquicos, mas
lamentou ainda haver uma baixa oferta para receber essas pessoas.
"Hoje temos dificulades
em internar o indivíduo que diz que vai se matar e isso é um problema
seríssimo. Estamos sem ter como atender essas pessoas". O Brasil possui
aproximadamente 20 mil leitos em hospitais psiquiátricos, uma tava de aproximadamente
0,1 leitos a cada mil habitantes, o que é o um terço do mínimo de leitos que
deveria possuir, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Tem que se ter
os espaços para internar as pessoas quando elas se colocam ou colocam outras
pessoas em risco, e não podemos aceitar mais qualquer tipo de abordagem aos
nossos pacientes", disse Quirino Cordeiro, defendendo o tratamento
especializado.
Também na sua fala, o
secretário explicou que é importante se controlar os meios de acesso ao
suicídio. "Não é verdade essa máxima de que 'quem quer tirar a própria
vida, se não tirar aqui, tira em outro lugar'. Estudos internacionais mostram
que isso não é comum, uma pessoa ter uma tentativa de suicídio frustrada e
seguir imediatamente em busca de outra", disse.
"Tenho que parabenizar o
deputado Hermano Morais por trazer para a Assembleia um debate tão importante,
porque são resultados alarmantes que estamos enfrentando. Temos que mudar os
caminhos porque o atual não está dando o resultado", finalizou.
Psicóloga da UFRN, Milena
Câmara defendeu que é preciso que a sociedade comece a enxergar os transtornos
da mente como doenças. No entendimento da psicóloga, ainda é difícil para a
população saber o que fazer e até aceitar uma doença da mente. "Muitas
vezes, por negarmos essa possibilidade, fica ainda mais complicado de
observar", disse.
Para Milena Câmara, é preciso
se acreditar nos sinais dados pela doença e tratar os transtornos da mente de
maneira especializada. "Quando ouvimos alguém falar sobre suicídio, temos
uma responsabilidade e ajudar. Todos nós podemos morrer por suicídio, adoecer
psiquicamente e muitas vezes nos descuidamos. Quem aqui garante que não vai ter
câncer, um problema cardíaco? Adoecer psiquicamente também é uma possibilidade.
Quando mudarmos esse paradigma, acreditaremos em alguém que nos diz que quer
morrer", disse a psicóloga.
No entendimento de Hermano
Morais, a discussão foi proveitosa e contribuiu para o esclarecimento sobre o
tema. "Essa responsabilidade trabalhar pela redução dos suicídios pertence
a todos nós. Convergimos no entendimento de que precisamos melhorar as
políticas de saúde mental. Temos um passivo grande e precisamos acolher essas
pessoas. E precisamos estar juntos", disse Hermano.
ALRN
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