Sob protestos e um forte esquema de segurança,
a comissão especial que analisa a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da
maioridade penal aprovou, nesta quarta-feira (17), o parecer apresentado pelo
relator, Laerte Bessa (PR-DF). O documento prevê a redução da maioridade penal
de 18 para 16 anos de idade para crimes hediondos, homicídio doloso, roubo qualificado
e lesão corporal grave seguida de morte. O relatório foi aprovado por 21 votos
favoráveis e 6 contra. Agora, a PEC segue para o plenário da Câmara dos
Deputados e deve ser votado, em primeiro turno, no próximo dia 30.
A sessão desta quarta-feira foi marcada pelo
forte aparato de segurança montado pela Polícia Legislativa. Apenas
parlamentares, assessores, jornalistas e convidados especiais puderam entrar na
sala. Militantes de movimentos estudantis foram barrados, mas fizeram apitaço
do lado de fora. Ao final da votação, Após a votação, deputados da
"bancada da bala" provocaram os manifestantes cantando "eu sou
brasileiro, com muito orgulho, com muito amor'. O grupo era encabeçado pelos
deputados Major Olímpio (PDT-SP), Delegado Waldir (PSDB-GO) e Marco Feliciano
(PSC-SP).
Entre os convidados especiais estavam o autor
da PEC, o ex-deputado federal Benedito Domingos e o vereador por São Paulo Ari
Friedenbach (Pros-SP), pai da jovem Liana Friedenbach, estuprada e morta em
2003 pelo então menor de idade Roberto Alves Aparecido Cardoso, conhecido como
Champinha.
O relatório apresentado por Bessa nesta
quarta-feira é resultado do acordo costurado pelo presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), publicamente a favor da medida.
Originalmente, o relatório pedia a redução da
maioridade penal para todos os crimes. O novo documento, no entanto, restringe
a redução da maioridade penal aos crimes hediondos e outros crimes considerados
de maior gravidade. O relatório também extingue a previsão de um referendo em 2016
durante as eleições municipais sobre o assunto.
O acordo costurado por Cunha foi uma resposta
às tentativas do PT e do governo de tentar evitar a aprovação a PEC. Na
terça-feira (16), o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou que o
governo apoiaria um projeto de lei do senador José Serra (PSDB-SP) que, em vez
de reduzir a maioridade penal, aumentaria as penas de internação previstas no
ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Atualmente, a pena máxima prevista pelo ECA é
de três anos de internação. De acordo com o parecer apresentado pelo relator do
projeto, senador José Pimentel (PT-CE), as penas poderiam chegar a oito anos de
internação.
Para entrar em vigor, a PEC da redução da
maioridade deve ser aprovada em dois turnos tanto na Câmara dos Deputados
quanto no Senado. Por ser uma PEC, não é necessária a sanção presidencial.
Em março deste ano, a CCJ (Comissão de
Constituição de Justiça) da Câmara aprovou a admissibilidade da proposta. Havia
o argumento de que a PEC feria uma "cláusula pétrea" da Constituição
e que, por isso, não deveria ser aceita. No entanto, a CCJ aprovou que o
assunto começasse a tramitar.
Deputados contrários à redução da idade penal
tentaram impedir a votação do relatório nesta quarta-feira. Weverton Rocha (PDT-MA)
alegou que o documento ao qual os deputados haviam tido acesso na última
quarta-feira era diferente do que foi colocado em votação por conta das
alterações feitas por Bessa.
Entre os deputados que se manifestaram a favor
da PEC, João Rodrigues (PSD-SC) disse que não é a favor da redução da
maioridade penal por "jogar para a torcida" e citou o caso da
Indonésia, onde a pena de morte é legalizada.
"A indonésia tem 130 pessoas no corredor
da morte pelo tráfico de drogas. O índice de homicídios é infinitamente menor
que no Brasil. Crimes cometidos por menores são quase inexistentes. Vamos
decretar pena de morte no Brasil? Inevitavelmente, é disso que falaremos no
futuro", afirmou.
A deputada Margarida Salomão (PT-DF), contrária
à medida, disse ser a favor do aumento das penas previstas no ECA e afirmou que
ainda não houve tempo para avaliar, adequadamente, a eficácia do Estatuto,
criado em 1990. "Em termos
históricos, isso (25 anos) não é nada. Para que possamos apreciar uma política
pública, é fundamental que se tenha prazo para que essa política seja
adequadamente avaliada", afirmou.
O deputado Glauber Braga (PSB-RJ), também
contrário à medida, também tentou impedir que o relatório fosse votado nesta
quarta-feira. Ele ingressou com um requerimento pedindo o adiamento da votação
por cinco sessões, mas o pedido foi rejeitado.
Tensão
Mesmo com o plenário fechado, a sessão foi
conduzida sob um clima de tensão. Um dos momentos mais tensos da sessão foi
durante o discurso do deputado Delegado Edson Moreira (PTN-MG) que citou o caso
de Liana Friedenbach. Durante o seu discurso, Ari Friedenbach se levantou e
interrompeu o discurso do parlamentar.
Foi necessária a intervenção do presidente da
comissão, André Moura (PSC-SE), para que Ari voltasse ao seu lugar. Moura
chegou a ameaçar retirar Ari da sessão caso ele não retornasse ao seu lugar.
Ari, que já defendeu a redução da maioridade, hoje é contrário à medida.
"Entre defender o convidado e o
parlamentar, fico com o parlamentar", disse Moura.
Do lado de fora do plenário onde a sessão foi
realizada, um grupo de aproximadamente 30 pessoas entoava refrões contra a
medida e fazia apitaço.
"Essa sessão ter sido realizada sem a
presença do público é um péssimo sinal para a nossa democracia. É uma
demonstração ditatorial da diretoria da Casa", disse Patrick Lima, membro
da diretoria da UNE (União Nacional dos Estudantes). Sempre que um deputado a
favor da redução da maioridade saía do plenário onde a sessão se realizava, os
manifestantes gritavam: "Não, não, não à redução".
No último dia 10, a sessão em que o relatório
de Bessa seria apresentado terminou em tumulto entre parlamentares,
manifestantes contrários à redução da maioridade e seguranças. A polícia usou
até spray de pimenta e pelo menos seis pessoas tiveram de ser atendidas pelo
serviço médico da Casa. O presidente da comissão determinou, então, que a
sessão fosse realizada a portas fechadas.
UOL
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