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Petrobras: ações com direito a
voto despencaram 8,83% ontem (Foto: Pedro Teixeira/ O Globo / Pedro Teixeira)
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A direção da Petrobras voltou
atrás e não vai mais reduzir os preços da gasolina e do diesel no curto prazo.
O recuo ocorreu após forte reação dos membros do Conselho de Administração da
estatal, que chegaram a classificar a queda nos preços dos combustíveis como
“barbaridade”. Para minimizar o estrago, o presidente da companhia, Aldemir
Bendine, passou boa parte do dia de ontem tentando contemporizar. Ele enviou
e-mail a todos os conselheiros, esclarecendo “que não houve qualquer decisão
tomada”.
Além do Conselho de
Administração, o mercado financeiro reagiu a uma possível redução nos preços.
Ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo, as ações preferenciais (sem direito a
voto) encerraram em queda de 9,33%, a R$ 7,58. Já as ordinárias (com voto)
tiveram recuo de 8,83%, a R$ 9,60 — o maior tombo desde 28 de janeiro do ano
passado, quando caíram 10,48%. Segundo Lucas Aristizabal, diretor sênior da
Fitch Ratings, uma redução nos preços afeta a qualidade de crédito da companhia
e reduz seu fluxo de caixa.
No domingo, o colunista do
Globo Lauro Jardim informou que a Petrobras iria reduzir os preços dos
combustíveis ontem. A notícia, confirmada por fontes, pegou de surpresa os
conselheiros, que reagiram imediatamente, cobrando explicações dos diretores da
companhia. Na avaliação de especialistas, apesar de existirem argumentos a
favor da redução de preços, paira a suspeita de que a medida seria resultado de
um pedido do governo, que tenta ganhar apoio popular no momento em que se
discute o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Segundo fontes, pelo lado
técnico, a estatal considerou reduzir os preços em razão da forte queda na
cotação do barril de petróleo no mercado internacional desde meados de 2014 e
da retração de 9% no consumo de combustíveis no ano passado e de 10% neste ano.
Após Nelson Carvalho,
presidente do Conselho de Administração da estatal, ter enviado mensagem à
direção da companhia no domingo, ontem foi a vez de Bendine responder aos
conselheiros para acalmar os ânimos. “Diante do noticiário dos últimos dois
dias sobre nossa política de preços, gostaria de deixar clara a posição que
temos sobre o tema. É dever desta diretoria monitorar permanentemente a
composição de todos os nossos custos e também o comportamento do mercado. São
estes os fatores que norteiam nossa política de preços. Não há qualquer tipo de
politização deste tema”.
EFEITO NO CAIXA DA EMPRESA
No e-mail enviado ontem à
tarde, Bendine confirma, pela primeira vez, que a redução dos preços foi
discutida. “A retração do mercado consumidor causou o debate se a redução nos
preços poderia influenciar na contenção dessas perdas. Não houve qualquer
avanço além disso — apenas um debate sobre a elasticidade do mercado neste
momento e seus efeitos na nossa estratégia de preços e nos nossos resultados”,
destacou o executivo no e-mail.
A mensagem de Bendine foi uma
resposta ao e-mail de Carvalho, enviado domingo, quando afirmou esperar que a
redução de fato não aconteça. Ele acrescentava, ainda, que a queda no preço da
gasolina e do diesel pode “macular o capital de credibilidade e de foco no
interesse da companhia”. Em outro trecho, ao qual O GLOBO teve acesso, Carvalho
é ainda mais duro e afirma que não tem “propensão a ser equiparado a
presidentes do Conselho de Administração do passado, que compactuaram com essa
barbaridade”.
— A reação do conselho foi
unânime. Todos são contra. Se houver queda nos preços, haverá reação — destacou
uma fonte do setor, em referência a uma possível debandada de integrantes do
conselho.
De acordo com um executivo
próximo à estatal, a mensagem de Bendine aos conselheiros foi importante para
“desfazer o ruído” sobre a redução de preços. Segundo ele, a venda da gasolina
e do diesel com preços acima dos cobrados no mercado internacional é importante
para recompor o caixa da estatal. De acordo com cálculos do Centro Brasileiro
de Infraestrutura (CBIE), a gasolina está sendo vendida 18% mais caro no Brasil
em relação ao mercado internacional. No caso do diesel, a diferença chega a
60%. Com isso, só em janeiro a estatal ganhou R$ 2,4 bilhões.
— Atualmente, parte do caixa
da companhia vem sendo gerado por sua política de preços. Se a gasolina e o
diesel ficarem mais baratos, isso vai afetar sua geração de caixa e sua
qualidade de crédito — disse Aristizabal, da Fitch Ratings.
A estatal enviou comunicado à
Comissão de Valores Mobiliários afirmando que “não há previsão, neste momento,
de reajuste nos preços de comercialização de gasolina e diesel. Sobre o
assunto, vale esclarecer que a Companhia avalia permanentemente a
competitividade de suas práticas e condições comerciais”.
Segundo Pedro Paulo Silveira,
economista-chefe da Nova Futura Corretora,uma redução não traria mudanças
significativas. Silveira ressalta que a Petrobras é “monopolista de fato” e
eventuais importações de combustível por distribuidoras não têm volume
suficiente para afetar a estatal. A queda nas vendas da Petrobras, para o
analista, é resultado da crise.
— Não é hora de baixar preços,
pois a Petrobras está com uma dívida gigantesca e um prejuízo enorme em 2015
para recuperar. A medida seria danosa para o processo de recuperação financeira
da Petrobras e não aumentaria suas vendas. O governo sempre usou a Petrobras
para fazer política de controle da inflação durante anos. Agora é hora de
recuperar a capacidade financeira.
MOTIVAÇÃO EM XEQUE
Thiago Biscuola, da RC
Consultores, lembra que a queda nos preços já era esperada, mas não nesse
momento.
— O mercado esperava uma
redução mais para frente, até para a companhia reduzir suas perdas. Óbvio que a
redução nos preços é boa para a economia.
Paulo Figueiredo, diretor de
Operações da FN Capital, disse que “em tese” o momento seria adequado para a
redução por causa da queda do petróleo, mas que a leitura do mercado é outra:
— O mercado entende que
reduzir os preços agora não é por questões estratégicas da companhia, mas uma
medida populista do governo.
Os analistas da Yield Capital
questionam, em relatório, a motivação da medida. “É apenas parte da política
interna da empresa de manutenção da paridade de preços (que não foi verdade
desde que a presidente tomou posse) ou seria uma resposta à queda de
popularidade e tentativa de manter o governo a poucas semanas da votação do
impeachment?”.
O Globo
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