O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse na tarde de hoje (15), em entrevista coletiva em São Paulo,
estar “indignado com as coisas que estão acontecendo no país”. Lula concede a
entrevista um dia após ter sido denunciado pelo Ministério Público Federal
(MPF) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro dentro da Operação Lava Jato.
“[Esta coletiva] É de um
cidadão indignado com as coisas que aconteceram e estão acontecendo neste país.
Penso que, neste país, tem pouca gente com a vida mais pública, mais
fiscalizada que a minha”, disse o ex-presidente, em entrevista em um hotel na
capital paulista.
Ele iniciou o discurso
elogiando os advogados de defesa e disse que a esposa, Marisa Letícia, não
compareceu à coletiva porque os “filhos pediram para almoçar com ela”.
Lula também elogiou o PT, partido
do qual é um dos fundadores. “Tenho orgulho profundamente de ter criado o mais
importante partido de esquerda da América Latina”, disse. “Nós fomos elegendo
prefeitos, vereadores e, com apenas 20 anos de existência, ganhamos as eleições
[presidenciais] neste país. Era uma coisa inesperada”, acrescentou.
O ex-presidente disse ainda
que tentaram fazer com ele, em 2005, enquanto presidente da República, “o mesmo
que fizeram com Dilma”, em referência ao processo de impeachment. “Inventaram
uma mentira e tornaram essa mentira uma verdade aos olhos da opinião pública e
fizeram com que deputados, em uma noite que nunca o Brasil esquecerá,
recomendassem que a Dilma fosse passar pela admissibilidade do Senado. Sempre
entendi que o Senado tinha um nível superior”, disse. “Eles conseguiram dar um
golpe tranquilo e pacífico, sem militares nas ruas”, acrescentou.
Lula comparou-se aos
ex-presidentes Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas e João Goulart. “Juscelino
foi vítima de mais inquéritos que eu. Não tenho a vocação de Getúlio para me
dar o tiro, do Jango, para sair do Brasil. Portanto, se eles querem me tirar,
vão ter que disputar comigo, na rua. Eles achavam que eu estava vencido. Não
sangrei e fui reeleito em 2006 embaixo da maior baixaria eleitoral acontecida
até então. Meu adversário com cara de santinho, estava nervoso. Eu me 'quedei'
tranquilo e ganhei as eleições. Tenho consciência de que meu fracasso teria
agradado meus adversários e não teria despertado tanto ódio com o PT. O que
despertou a ira foi o sucesso do meu governo, a maior política de inclusão
social desse país”, disse.
Denúncia
Ontem (15), o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva foi denunciado à Justiça pela primeira vez no âmbito
da Operação Lava Jato. A denúncia também inclui a esposa dele, Marisa Letícia
da Silva, e outras seis pessoas: o presidente do Instituto Lula, Paulo
Okamotto, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e quatro pessoas relacionadas à
empreiteira OAS: Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Paulo Roberto Valente
Gordilho, Fábio Hori Yonamine e Roberto Moreira Ferreira. Lula foi denunciado
por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e falsidade ideológica.
Os procuradores afirmam que o
ex-presidente recebeu vantagens indevidas referentes à reforma de um triplex em
Guarujá (SP) feita pela empreiteira OAS. Segundo o MPF, a reforma foi oferecida
a ele como compensação por ações do ex-presidente no esquema de corrupção da
Petrobras.
A coletiva foi aberta por Rui
Falcão, presidente do PT, que leu uma nota do partido em que diz que a denúncia
do Ministério Público Federal foi um “espetáculo midiático”. Segundo a nota, a
denúncia faz “um julgamento sumário” contra Lula e teria, segundo o PT, o
objetivo de retirar Lula da disputa pela presidência da República em 2018.
“Conclamamos todos os democratas a resistirem”.
Lula chegou à entrevista no
Novotel Jaraguá com 30 minutos de atraso. Foi recebido por militantes com
gritos de “Lula guerreiro do povo brasileiro” e “Fascistas não passarão”.
Do lado de fora do hotel, onde
ocorre a entrevista, algumas pessoas se reuniam em um ato de apoio a Lula.
Diversos ex-ministros petistas, deputados, vereadores, artistas e advogados
acompanham a entrevista, tais como a senadora Gleise Hoffmann, o senador
Humberto Costa, o senador Lindbergh Farias, Alexandre Padilha [atual secretário
de saúde municipal de São Paulo], Jaques Wagner, Juca Ferreira, Marco Aurélio
Garcia, os advogados José Roberto Batochio e Cristiano Zanin Martins, além do
presidente nacional da CUT Vagner Freitas, o líder do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos, o líder do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Gilmar Mauro, o ex-presidente nacional do
PCdoB Renato Rabelo.
Agência Brasil
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