Escolas públicas com melhor
desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) formam estudantes desde o
1º ano do ensino médio, têm maior parte dos professores formados na área que lecionam
e atendem estudantes de nível socioeconômico alto ou muito alto. Os dados foram
divulgados hoje (4) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep).
Nove das dez escolas têm 80%
dos estudantes matriculados na instituição desde o 1º ano do ensino médio e têm
mais de 70% dos professores formados na disciplina que lecionam. “Isso
demonstra que o Brasil sabe fazer uma escola pública extremamente estruturada
com professores mais valorizados e isso acaba tendo resultado”, diz o
coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.
Sete das dez escolas com as
melhores médias gerais são federais. Integram a lista escolas militares e
escolas técnicas estaduais. Cara ressalta que são, na maioria, escolas que
selecionam os estudantes, mas, segundo ele, não são boas porque os estudantes
são selecionados, mas selecionam, segundo ele, porque a qualidade é alta e a
procura por essas instituições é grande.
Desigualdade
No ranking geral, considerando
também as escolas privadas, a primeira escola pública aparece na 33ª posição, o
Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa (MG). A
primeira escola pública estadual a despontar entre as melhores médias está em
147º lugar, o Colégio Estadual Tiradentes, em Porto Alegre (RS), que atende a
alunos de nível socioeconômico alto.
Entre as privadas, seis das
dez com melhores médias têm menos de 20% dos estudantes formados pela
instituição desde o 1º ano do ensino médio. Também atendem alunos de nível
socioeconômico muito alto ou alto -
quatro das escolas estão sem informações.
“O que é preocupante é que o
Enem por escola demonstra o quanto o Brasil reproduz desigualdades, entre as
privadas, entre as públicas. As escolas que vão bem, são escolas de elite”, diz
Cara.
“A larga maioria das escolas
ainda deixa muito a desejar”, diz o diretor de articulação e inovação do
Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. “Para mim, mudar o currículo é
apenas um lado da moeda. Outro fator muito importante para reduzir a desigualdade
que começa na alfabetização é que é preciso ter qualidade e equidade para todos
os estudantes e isso passa pela formação do professor”.
Ramos acrescenta que é preciso
atrair jovens para a carreira de magistério, sobretudo para as áreas de exatas,
cujo desempenho dos estudantes é mais baixo.
Ranking
Ao todo, foram divulgados pelo Inep os resultados de 14.998 escolas,
que são aquelas nas quais pelo menos 50% dos alunos do terceiro ano
participaram no Enem e esse número equivale a pelo menos dez estudantes. No
país, são 25.777 escolas com alunos matriculados no 3º ano do ensino médio
regular.
As médias foram calculadas
pela Agência Brasil com base nas notas das escolas em cada uma das quatro
provas objetivas do Enem - linguagens, matemática, ciências da natureza e
ciências humanas. A prova de redação foi excluída do cálculo por ser subjetiva
e por não seguir a Teoria de Resposta ao Item (TRI), como as demais.
Contextualização
O presidente da Câmara de
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE ) e ex-presidente do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep),
Francisco Soares, defende que os dados precisam ser contextualizados. Segundo
ele, rankings colocam escolas que selecionam seus estudantes no topo e deixam
de considerar projetos pedagógicos que merecem ser conhecidos e podem inspirar
mudanças na educação brasileira.
“Divulgar os dados sem dizer
que por trás daquele dado existe uma diferença é complicado”, diz à Agência
Brasil. “Há escolas que não selecionam seus alunos, que são de nível
socioeconômico baixo que precisam ter os projetos conhecidos e inspirar outras
escolas”, acrescenta.
Agência Brasil
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