Todo mundo conhece alguém que
conta uma história similar: estava falando sobre um produto ou serviço em voz
alta com outra pessoa enquanto o celular estava por perto. Em alguns instantes,
você vê um anúncio sobre aquele mesmo serviço na internet. Será que os
microfones dos smartphones são usados para ouvir tudo o que você diz com o
objetivo de servir anúncios?
Essa crença é bastante comum,
e uma pesquisa da Consumer Reports, organização dedicada à defesa do consumidor
mostra que cerca de 43% dos americanos que possuem um smartphone acreditam que
os dispositivos estão sendo usados para gravação não-autorizada de conversas.
Acontece, no entanto, que nenhum estudo (e já houve vários) conseguiu provar
que essa crença é real.
Em um desses testes, realizado
entre 2017 e 2018, pesquisadores da Northeastern University liderados pelo
professor de ciência da computação David Choffnes analisaram 17 mil dos
aplicativos mais populares para Android, mas não conseguiram encontrar um único
caso em que o microfone tenha sido ativado indevidamente e transmitido dados de
voz. Outro experimento, desta vez focado apenas nos maiores aplicativos (como
Instagram, Facebook, Google, Chrome, Amazon), realizado pela empresa de
segurança Wandera, teve o mesmo resultado.
Tudo indica, portanto, que
trata-se de uma teoria da conspiração. Choffnes indica que a coleta massiva de
dados de voz e o processamento dessa informação dependeria de um salto no poder
computacional dessas plataformas, tornando a operação menos viável. Ele aponta
que esse tipo de monitoramento pode ser mais interessante para casos
específicos, geralmente em ações de ciberespionagem direcionadas para figuras
de alto escalão, e não tanto para nós, usuários comuns.
Mas se os aplicativos não
estão pegando suas conversas, de onde vêm essa impressão de que estamos sendo
vigiados? Os anúncios não podem ser coincidência, podem? O fato é que existem
outros métodos de monitoramento aos quais estamos sujeitos online e que são tão
ou mais efetivos para entender nossas preferências do que coletar nossas
conversas.
Google e Facebook, por
exemplo, monitoram basicamente tudo o que você acessa na internet graças a
ferramentas incorporadas aos sites e aplicativos que você usa cotidianamente.
Além disso, sua localização pode ser facilmente deduzida pelos apps graças a
informações de GPS e das torres de celular com as quais seu dispositivo se
comunica. Sabendo onde você está, os lugares que você frequenta e o tipo de
coisa que desperta o seu interesse, fica mais fácil direcionar anúncios de uma
forma precisa para o seu gosto.
Além disso, o fato de não
estarem ativando seu microfone sem permissão não quer dizer que os aplicativos
não apresentem comportamentos indevidos. Choffnes menciona em seu estudo que 9
mil aplicativos estavam capturando a tela dos celulares e transmitindo a
informação para outras empresas, o que pode revelar informações altamente
privativas, como endereço, número de cartão de crédito e tantas outras coisas.
Assim, o mais provável é que,
se você viu um anúncio de um tênis sobre o qual você estava conversando com um
amigo, que você em algum momento tenha procurado sobre esse tênis na internet.
Olhar Digital
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