Percentual de perda de distribuição de água por conta de vazamentos, fraudes e falhas por estado — Foto: Guilherme Pinheiro/Arte
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Oito estados do país perdem
metade ou mais da água que produzem com problemas de vazamentos, ligações
clandestinas e falhas de leitura de hidrômetro, segundo estudo do Instituto
Trata Brasil com a GO Associados, obtido pelo G1 e divulgado nesta quarta-feira
(5).
Em Roraima, estado com o pior
índice, a perda na distribuição chega a 75%, o que significa que, a cada 100
litros de água captada, tratada e pronta para ser distribuída, 75 litros ficam
pelo caminho. Em seguida, estão Amazonas (69%) e Amapá (66%).
Dos oito estados, cinco estão
no Norte e três, no Nordeste, regiões que, historicamente, apresentam os piores
índices de saneamento do Brasil.
Enquanto 83,5% dos brasileiros
são atendidos com abastecimento de água tratada, a média da região Norte para o
mesmo indicador é de 57,5%. A do Nordeste é a segunda pior, com 73%. Em relação
ao acesso à coleta de esgoto, a situação é ainda mais grave: apenas 10,2% da
população do Norte e 26,9% da do Nordeste são atendidas, contra a média
nacional de 52,4%.
O estudo utiliza os dados mais
recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), referentes
ao ano de 2017.
O estudo ainda destaca que:
Considerando o país, a média
de perda de água potável é de 38%. Isso representa uma perda de 6,5 bilhões de
m³ de água, o equivalente a mais de 7 mil piscinas olímpicas por dia
Analisando apenas as perdas
físicas do sistema, ou seja, a água que não chegou à casa das pessoas por conta
de vazamentos, o volume desperdiçado seria suficiente para abastecer 30% da
população brasileira por um ano
Em termos financeiros, a perda
de faturamento custou para o país R$ 11,3 bilhões em 2017, valor superior ao
total de recursos investidos em água e esgoto no Brasil no ano (R$ 11 bilhões)
Segundo Pedro Scazfuca, da GO
Associados, o índice de perda na distribuição é um indicador de eficiência, o
que deixa claro problemas estruturais no setor de saneamento básico do país.
A perda de distribuição é
medida através da diferença entre a água produzida pela concessionária
responsável pelo setor e o volume que chega às casas das pessoas de forma
oficial. Essa diferença significa desperdício através de vazamentos, roubos e
furtos de água e erros de leitura ou leituras imprecisas de hidrômetros antigos.
Assim, quanto menor é o índice, menores são os problemas de serviço e gestão.
“Perda baixa envolve fazer boa
manutenção nas redes, ter processo de faturamento adequado, fazer combate às
fraudes. Ou seja, as perdas estão associadas a uma melhor gestão da companhia e
mostram a eficiência na prestação do serviço. Isso deixa claro que diversos
estados têm gestão muito ineficiente. Perda de 50% mostra uma ineficiência
grande”, diz Pedro Scazfuca, da GO Associados.
O estudo destaca ainda que o
indicador de perda de água potável nos sistemas é um dos mais negligenciados do
país. Entre 2015 e 2017, por exemplo, é possível perceber que houve um aumento
na produção de água do país, movimento natural para conseguir atender a uma
população crescente. Ao mesmo tempo, porém, as perdas também aumentaram.
“O aumento da produção de água
pode nos levar a crer que está havendo um consumo maior pela população e demais
usos da água potável, mas, na verdade, podemos estar tirando mais água apenas
para compensar o aumento das perdas. Isso seria péssimo para a sustentabilidade
do próprio sistema e para os usuários”, destaca Édison Carlos, do Instituto
Trata Brasil, no estudo.
Para Scazfuca, há um problema
de visão de melhoria de gestão em algumas concessionárias que atuam no setor de
distribuição de água. Isso porque, segundo ele, para diminuir as perdas de
água, é preciso fazer investimentos, mas os retornos são muito maiores.
“Para reduzir a perda, tem que
investir na manutenção de rede, implantar controle e troca de hidrômetros,
fazer programa de caça à fraude. Vai ter que gastar. Mas os estudos mostram que
é um gasto que tem um retorno alto de maior arrecadação e diminuição de custos.
Ou seja, atende as pessoas produzindo menos”, diz Scazfuca.
As empresas ficam presas a um
“falso dilema”, segundo ele, entre fazer mais ligações de água ou uma estação
de tratamento ou reduzir a perda. Geralmente, as concessionárias acabam
escolhendo investir na expansão da rede — sem fazer melhorias e manutenções na
que já existe.
“Eu entendo que, para uma
companhia saudável, isso é um falso dilema, pois investir em perda vai ter um
retorno e vai sobrar mais espaço para investir em outras coisas. Mas, para
empresas em situação financeira difícil, quando tem a opção entre eficiência e
expansão, vão escolher a expansão. Perda não é prioridade, prioridade é levar
água para a região que não tem.”
Ganho com queda das perdas
Para deixar as vantagens em
investir na diminuição das perdas claras, o estudo fez a estimativa dos ganhos
do país no caso de redução das perdas para 20%. A meta não é tão baixa quanto
os índices encontrados em locais como Tóquio ou Cingapura, cujos níveis de
perda estão abaixo de 10%, mas é considerada realista pelos especialistas para
o Brasil.
Os cálculos mostram que, mesmo
com os gastos com trocas de tubulações e hidrômetros e operações caça-fraudes,
o ganho líquido nacional seria de quase R$ 31 bilhões até 2033.
“Num cenário de
imprevisibilidade do clima e consumo de água, não cabe mais manter o assunto
perdas de água apenas na esfera técnica. A sociedade, a imprensa, formadores de
opinião e outros precisam se apropriar do assunto, pois, no fim, o que resulta
é a diminuição da água para todos os usos”, diz Édison Carlos.
G1
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