SUPERMERCADO J. EDILSON: O MELHOR PREÇO DA REGIÃO - Ligue: 3531 2502 - 9967 5060 - 9196 3723

SUPERMERCADO J. EDILSON: O MELHOR PREÇO DA REGIÃO - Ligue: 3531 2502 - 9967 5060 - 9196 3723

domingo, 14 de julho de 2024

Proibição de vapes não tem impedido o consumo das pessoas

Popular entre os jovens e com presença confirmada nas festas mais agitadas de Natal, o cigarro eletrônico, também conhecido popularmente como vape, tem a comercialização, fabricação, importação, transporte, armazenamento e propaganda vetados no Brasil, através de decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esse, no entanto, não vem sendo um impedimento para que o produto esteja na mão dos consumidores de forma constante.

De acordo com dados divulgados pelo levantamento da Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), até 2023, cerca de 2,9 milhões de pessoas consumiam vape no Brasil. Durante os últimos seis anos, o Instituto aponta um crescimento no uso do dispositivo de 600%.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversou com dois jovens: uma mulher de 24 anos e um homem de 29 anos, que não quiseram se identificar. Ambos já utilizaram o cigarro eletrônico, mas após constatarem mudanças significativas na saúde, decidiram abandonar o produto.

A mulher fez uso do vape entre os anos de 2020 e 2021, por pouco menos de dois meses. De acordo com ela, o pouco tempo já foi suficiente para perceber uma piora na rinite alérgica, crises de garganta e constantes faltas de ar. “Ele se tornou bem comum em festas e acabei provando em uma delas”, conta, sobre o contato com o cigarro eletrônico. Após perceber as mudanças respiratórias, ela explica que a decisão de abandonar o produto aconteceu “por conta própria”, sem interferência de amigos ou familiares.

Já o homem relata uma relação diferente. Ao ingressar no mercado de produtos de variedades como empresário, decidiu vender o vape, com visão diante da grande possibilidade de lucro, considerando a febre de compras. No entanto, o que deveria ser uma relação apenas comercial, entrou na vida pessoal dele durante festas e eventos.

O episódio durou cerca de seis meses, aproximadamente dois anos atrás. Na época, ele percebeu mudanças na saúde principalmente relacionadas aos fortes sabores de essência. “Não enxergo as pessoas sabendo usar o produto, ainda vejo o consumo em excesso e em diversas configurações diferentes”, avalia.

O Dispositivo Eletrônico para Fumar (DEF), nome técnico utilizado pela Anvisa, funciona à base de uma bateria que atua no aquecimento de uma solução líquida, produzindo um aerossol que será inalado pelo usuário. De acordo com o Ministério da Saúde, a solução é composta principalmente por nicotina, propilinoglicol ou glicerol e aditivos de sabor, podendo conter variações nas substâncias. Estes produtos possuem também elementos cancerígenos e com potencial explosivo, além de metais pesados e produtos utilizados na indústria alimentícia.

A pneumologista Suzianne Lima, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e membro da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, analisa os altos números de consumo do vape com preocupação. Para ela, esse é um regresso às baixas contínuas registradas no cigarro convencional, causado principalmente pelo grande apelo visual e as falsas informações.

“Muitos deles são bonitos, coloridos, têm vários designs, inclusive atrativos. Para combinar, o cigarro eletrônico possui um aromatizante, que deixa o gosto bom na boca de quem tá fumando, e não incomoda o fumante passivo, que agora nem sabe que tem alguém fumando perto dele”, explica. Com mais de 2 mil substâncias e altos níveis de nicotina, a médica aponta que o consumo do vape pode acarretar em doenças importantes no sistema respiratório, cardiovascular, neurológico, reprodutor, chegando até mesmo ao câncer.

“São destruições no sistema pulmonar que a gente encontra no paciente que fuma acima de 40 a 45 anos, porém temos encontrado em pacientes muito mais jovens”, alerta. Suzianne Lopes aproveita para ressaltar para que os pais e a comunidade escolar estejam atentos aos jovens, evitando a posse do dispositivo.

Para frear esse consumo, a saúde mental merece um cuidado redobrado. Thaís Pinheiro, psicóloga clínica e social, explica que a adoção de novos hábitos pode ser um grande aliado durante esse processo de abandono do vape. “A forma que vai se dar o processo de desintoxicação é intersingular, depende de cada contexto e de articulações acessíveis”, conta. A profissional, que atua desde crianças a adultos, reforça que ações básicas como focar em uma alimentação nutricional adequada, ingerir água na quantidade ideal, ter noites de sono com qualidade e encaixar exercício físico são essenciais.

“A psicologia entra nesse processo de abandono do cigarro eletrônico para torná-lo menos desafiador e mais sólido. Um dos primeiros passos é identificar os pontos que levam a recaída. Após isso, é possível tentar evitá-los até que a base desse processo esteja mais resistente”, afirma. Thaís ainda ressalta que o acompanhamento psicológico é uma articulação que pode abranger outras áreas da vida, possibilitando o reconhecimento de outros potenciais para desenvolvimento.

Comercialização é considerada irregular

Os DEFs são vetados no Brasil desde 2009 e tiveram a proibição mantida em decisão publicada no dia 19 de abril deste ano. O não cumprimento é considerado uma infração sanitária e levará à aplicação de penalidade, como advertência, interdição, recolhimento e multa.

Durante pesquisa através das redes sociais, não é difícil encontrar lojas virtuais em Natal que se propõem a vender esse produto. Na grande maioria dos casos são perfis fechados, obrigando o usuário a enviar uma solicitação para seguir e visualizar a propaganda do vape.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com um desses perfis, que possuía na descrição o termo “vapeshop”. No entanto, ao identificar que a informação seria para uma publicação jornalística, o responsável negou comercializar o cigarro eletrônico. “Trabalhamos apenas com tabacaria e charutaria. Já trabalhamos com ‘vapeshop’, mas hoje não mais”, explica. Questionado se o cancelamento do produto aconteceu após a última decisão da Anvisa, o responsável confirma. “A gente resolveu parar recente devido a alguns problemas”, responde.

Horas depois do contato, a loja retirou o termo “vapeshop” da descrição na rede social.

Hoje, a resolução da Anvisa não alcança a proibição individual, mas veta qualquer modalidade de importação, inclusive para uso próprio e na bagagem de mão do viajante. Independente ser eletrônico ou convencional, o consumo do cigarro é proibido pela Lei 9.294/1996 em qualquer ambiente coletivo fechado.

Senado discute regulamentação de vendas

No último dia 9 de julho, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) Senado Federal decidiu pelo adiamento da votação do Projeto de Lei (PL) 5.008/2023, que regulamenta o cigarro eletrônico no Brasil. Agora, a previsão é que a matéria retorne à pauta no dia 20 de agosto.

O PL, de autoria da senadora Soraya Thronick (Podemos-MS), estabelece uma série de exigências para a comercialização dos DEFs, incluindo a apresentação de laudo de avaliação toxicológica para registro na Anvisa, cadastro na Receita Federal de produtos fabricados, Importados ou exportados, além de cadastro no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).

De acordo com o texto, a adição de vitaminas, cafeína, taurina, corantes, aditivos com vitamina E, óleos minerais, vegetais ou gordura animal nos cigarros eletrônicos será proibida. Além disso, substâncias consideradas impróprias para aquecimento e inalação também estarão vetadas.

Caso a regulamentação seja aprovada, o consumo de cigarros eletrônicos será sujeito às mesmas restrições do cigarro convencional. A venda e fornecimento do produto para menores de 18 anos permanecerá proibida, conforme o PL.

A pneumologista Suzianne Lima critica o projeto. “Não se pode arrecadar impostos de maneira alguma com algo que faz mal a saúde. É trocar seis por muito mais que meia dúzia. Sabemos que se algo faz mal, ele vai causar danos, e isso vai gerar um gasto que já foi projetado como muito maior do que irá se arrecadar”, defende.

Tribuna do Norte

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Reflita, analise e comente