Dobro de turistas e visitantes, aumento de utilização pela população para esportes náuticos e de areia e aumento de faturamento para comércio, vendedores e ambulantes. Esses são os resultados obtidos anos após a conclusão de obras de aumento de faixa de areia e aterros hidráulicos em duas das principais cidades brasileiras: Fortaleza, no Ceará e Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Em Natal, a Prefeitura busca o licenciamento para instalar o canteiro de obras e iniciar as atividades em Ponta Negra, principal praia urbana do Rio Grande do Norte. Segundo autoridades locais dessas duas cidades ouvidas pela TRIBUNA DO NORTE, as obras de engorda trouxeram impactos positivos para as cidades na área do turismo e qualidade de vida para a população, além de valorização imobiliária nas regiões das praias de Iracema e Central.
As engordas feitas nas praias
do Ceará e em Santa Catarina custaram entre R$ 120 e R$ 85 milhões,
respectivamente, e foram feitas com recursos próprios das prefeituras. Os
projetos incluíram aumento da faixa de areia, urbanização do entorno da praia,
obras de drenagem, viabilização de quiosques, espaços para ciclovia e
atividades físicas entre outros equipamentos urbanos. Há ainda registros de
engordas feitas em outras cidades brasileiras, como Matinhos (PR), Jaboatão dos
Guararapes (PE), Guarapari (ES), Conceição da Barra (ES) e Rio de Janeiro. Ao
todo, foram alargados quase 40km em praias de todo o Brasil.
No caso específico de Fortaleza, foi a segunda engorda feita em Iracema, tendo uma já feita em 2000. Nesta nova obra, foram mais 80 metros de faixa de praia em 1,2km de extensão. Com a finalização do projeto, entregue em maio de 2022, o calçadão da Av. Beira-Mar se consolidou como um dos mais completos em infraestrutura do país, com 63 pontos comerciais distribuídos em quiosques, 7 complexos de banheiros públicos com chuveirões para os banhistas e atletas, contando com mais de 3 km destinadas à prática de atividades físicas ao ar livre com novo calçadão que hoje interliga as orlas da Praia de Iracema, Beira-Mar e Mucuripe.
De acordo com o secretário de
Turismo de Fortaleza, Alexandre Pereira, uma pesquisa feita entre banhistas e
trabalhadores da praia constatou que a “Beira-Mar de Todos” é aprovada pela
maioria dos entrevistados, com 99,5% dos respondentes afirmando que voltariam à
praia após a experiência e 98,8% disseram que as mudanças na Beira-Mar
atenderam as expectativas. Entre os comerciantes, há relatos de que o
faturamento cresceu em 80% após as obras. Ele lembra ainda que no ano passado
as festas de fim de ano, incluindo o reveillon, levaram mais de 3 milhões de
pessoas na orla, um dos maiores do Brasil.
“O turismo de sol e mar não é
mais suficiente. O turista está mais exigente. Uma cidade que quer ser uma
cidade de referência turística e ser um destino consolidado precisa ter uma
infraestrutura turística de qualidade na cidade”, disse. “Nossa Beira-Mar aqui
é nosso maior cartão postal. São 3km e estamos requalificando outros 3km onde
nós fortalezenses curtimos muito para esportes na praia, calçadão para pedalar,
esportes náuticos como caiaque, kyte surf, surfe. São mais de 700 box de
artesanatos, gastronomia e cultura e eventos gratuitos”, disse Alexandre.
“Durante a obra, mesmo com
todas as licenças, tivemos contestação do MP e de movimentos ambientalistas.
Tivemos que fazer uma série de complementações nessas licenças para atender a
todos os questionamentos. Optamos por fazer todos os estudos que foram pedidos,
mesmo que não concordássemos, mas optamos por fazer. Foi exaustivo o processo
de licenciamento e monitoramento durante a obra para nos certificarmos de que a
obra era segura do ponto de vista ambiental”, acrescentou o secretário de
Infraestrutura de Fortaleza, Samuel Dias.
Valorização
Uma das obras de engorda de
maior destaque nos últimos anos foi a de Balneário Camboriú, litoral de Santa
Catarina. Segundo menor município do estado, a cidade é conhecida por grandes
prédios e coberturas e atualmente tem o metro quadrado mais caro do Brasil.
Segundo o prefeito, Fabrício Oliveira (PL), as obras da engorda, que ampliaram
a faixa de areia de 25m para 70m, valorizaram terrenos e o mercado imobiliário.
A empresa que tocou a obra numa extensão de 6km é a mesma que fará a engorda em
Natal, a DTA Engenharia.
“Aumentou muito a movimentação
financeira em Balneário Camboriú, nos tornamos o m² mais valorizado do Brasil
por conta da faixa de engorda”, disse, acrescentando que a movimentação
econômica cresceu em torno de 40%.
A discussão em torno da
engorda em Balneário remonta ao começo do século, quando um plebiscito feito em
2001 decidiu a favor da obra. No entanto, só em 2018 a prefeitura conseguiu
pleitear a Licença Prévia, com o início das obras em 2021. O projeto executivo
chegou a ser doado pelo setor produtivo catarinense. A obra foi feita entre
março e dezembro de 2021.
Natal busca licenciamento e
quer obra ainda em 2024
Com expectativa de iniciar as
obras ainda em 2024, a ideia de se fazer um aterro hidráulico em Ponta Negra
surgiu há 12 anos, época em que o calçadão da praia ruiu após a força da maré.
Desde então, diversos estudos, audiências e discussões foram feitas para se
chegar em alguma possibilidade de recuperar a praia. A conclusão delas, após
estudos da empresa paulista Tetratech, era de que a engorda era a melhor
alternativa para a principal praia de Natal.
As conversas se intensificaram
nos últimos anos e a Prefeitura conseguiu o licenciamento prévio para a obra em
julho do ano passado, tendo o Instituto do Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente (Idema) elencado 52 condicionantes a serem cumpridas.
O impasse, intensificado nesta
semana com discussões diárias entre Prefeitura, Idema, Funpec e a DTA
Engenharia (empresa vencedora da licitação) é com relação às últimas 12
condicionantes. Em paralelo a isso, o Idema segue analisando o projeto
executivo para o início da obra, mas a Licença de Instalação e Operação (LIO)
só será emitida após as respostas desses itens.
A engorda
A engorda de Ponta Negra é
considerada primordial para a praia, que há anos sofre com a erosão costeira
provocada pelo avanço do mar e que tem modificado a estrutura do Morro do
Careca, um dos principais cartões postais da capital potiguar, descaracterizando
sua paisagem.
O tema vem sendo acompanhado
com várias reportagens pelo jornal TRIBUNA DO NORTE. O projeto está em
discussão há vários anos em Natal e será um alargamento na faixa de areia da
praia, com até 50 metros na maré cheia e 100 metros na maré seca.
Atualmente, em situações de
maré cheia, bares, barracas e banhistas ficam praticamente impedidos de
frequentar a areia e o mar. Segundo os estudos feitos pela empresa paulista
Tetratech, a engorda será feita a partir de um “empréstimo” de areia submersa trazida
de uma jazida em Areia Preta para Ponta Negra.
A engorda é, na prática, um
aterro que será colocado ao longo de 4 quilômetros na enseada de Ponta Negra. O
objetivo final é de que a faixa de areia nas praias de Ponta Negra e parte da
Via Costeira seja alargada para até 100 metros na maré baixa e 50 metros na
maré alta. É a última etapa do projeto maior que contou com o enrocamento da
praia, pelo qual foram implantados centenas de blocos de concreto que darão
sustentação à engorda.
Um artigo científico produzido
por professores e pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), apontou que o morro diminuiu 2,37 metros na altura em 17 anos. No
levantamento ficou constatado que a altura do Morro do Careca atualmente é de
63,63 metros. Esse número, em 2006, era de 66 me-tros. Conforme o levantamento,
a redução se deve a uma convergência de fatores, entre eles o avanço do mar e a
redução da faixa de areia em Ponta Negra, o que faz com que a energia das ondas
alcance a base do Morro.
Cidades que fizeram/estão
fazendo engordas nos últimos anos
Fortaleza (CE)
Balneário Camboriú (SC)
Balneário Piçarras (SC)
Florianópolis (SC)
Matinhos (PR)
Jaboatão dos Guararapes (PE)
Vitória (ES)
Guarapari (ES)
Conceição da Barra (ES)
Rio de Janeiro (RJ)
Tribuna do Norte
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