O governo quer o fim do monopólio do Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS) na cobertura dos chamados benefícios de risco não
programados (como auxílio-doença , acidente de trabalho e salário-maternidade )
e já prepara um projeto de lei para abrir esse mercado ao setor privado. O
volume que o INSS gasta com esse tipo de benefício chega a R$ 130 bilhões por
ano, o equivalente a 22% da despesa anual do instituto.
A concorrência na gestão dos benefícios de risco foi
aberta com a reforma da Previdência, aprovada pela Câmara dos Deputados e
encaminhada ao Senado na semana passada. A medida já estava prevista no texto
enviado pelo governo e não enfrentou resistência dos parlamentares. O INSS
teria exclusividade apenas sobre as aposentadorias e parte das pensões.
A mudança afetaria parte das pensões, que poderia ser
enquadrada como benefício de risco não programado e, portanto, administrada
pelo setor privado. Enquadra-se neste caso a morte de um trabalhador por evento
inesperado, como doença grave ou acidente de trabalho. Não se considera nesta
classificação a pensão por morte de um aposentado.
A proposta altera um artigo da Constituição (201,
parágrafo 10) e permite que uma lei complementar de autoria do Executivo
discipline “a cobertura de benefícios de riscos não programados, inclusive os
de acidente do trabalho, a ser atendida concorrentemente pelo Regime Geral de
Previdência Social e pelo setor privado”.
Hoje, a Constituição já traz a possibilidade de
concorrência entre o INSS e seguradoras, mas somente no caso de acidentes de
trabalho. No entanto, não houve iniciativa dos governos passados de enviar um
projeto ao Congresso para pôr a medida em prática.
Segundo integrantes do governo a par das discussões, as
empresas vão poder optar se querem contratar o serviço do INSS — que continuará
existindo — ou de uma seguradora. Para quem migrar parte dos benefícios ao
setor privado, a alíquota previdenciária patronal de 20% — que cobre
aposentadoria, pensão e todos os benefícios não programados — será reduzida.
Além do pagamento do empregador, o trabalhador também
arca com uma contribuição mensal ao INSS, mas o percentual varia de acordo com
a faixa de renda. O montante pago por trabalhadores e empresas é destinado a
aposentadorias e demais benefícios.
As regras de acidente de trabalho também vão mudar e o
Fator Acidentário de Prevenção (FAP), criado em 2010, será extinto. O FAP é um
multiplicador aplicado sobre as alíquotas de 1%, 2% ou 3%, que variam conforme
o risco da atividade.
MUITO ALÉM DA APOSENTADORIA
O INSS administra não só a previdência dos trabalhadores
da iniciativa privada, mas também uma série de benefícios não programados
Ele penaliza ou dá desconto às empresas, dependendo do
índice de ocorrência de acidentes ou doenças ocupacionais. Quem fica acima da
média do setor, paga mais. Quem fica abaixo, tem benefício. Se não houver
nenhum acidente, por exemplo, há desconto substancial na alíquota.
Quem fica acima da média do setor, paga mais. Quem fica
abaixo, tem benefício. Se não houver nenhum acidente, por exemplo, há desconto
substancial na alíquota.
O mecanismo foi criado para incentivar os empregadores a
investir em ações de prevenção, mas tem distorções, segundo técnicos do
governo. Quando a nova sistemática estiver em vigor, não fará sentido o FAP
continuar existindo, disse um técnico.
Na visão do governo, com abertura e competição no
mercado, as empresas vão investir na prevenção de acidentes e no ambiente de
trabalho para ter acesso a seguros mais baratos. O custo do produto dependerá
do perfil do cliente e do potencial de risco.
As seguradoras, por sua vez, vão focar em ações de
reabilitação para permitir que o trabalhador volte à atividade o mais rápido
possível. No INSS, falta esse tipo de iniciativa.
Quando o novo modelo estiver funcionando, o trabalhador
que tiver um acidente de trabalho, quebrar uma perna enquanto estiver exercendo
sua profissão, por exemplo, terá de procurar uma seguradora caso seu empregador
tenha optado pela cobertura do setor privado.
Ele não deverá mais procurar a agência do INSS. O mesmo
valeria para gestantes e dependentes de trabalhadores que morrem em acidentes
no caso do requerimento de pensão por morte.
Integrantes do governo garantem que os trabalhadores não
ficarão desprotegidos porque os benefícios estão previstos na Constituição e
não poderão ser alterados.
Além disso, o projeto de lei vai prever critérios para
garantir o atendimento aos segurados, como o tipo de seguradora que poderá
oferecer o produto, patrimônio e reserva para emergência, como ocorre com os
bancos.
A regulação e a fiscalização ficarão a cargo da super
agência a ser criada com a fusão da Superintendência de Seguros Privados
(Susep) e a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), que
cuida dos fundos de pensão.
Projeto de lei em 2020
Por isso, o governo enviará primeiro o projeto da nova
agência, o que deve ocorrer nos próximos meses. A proposta que mudará o
funcionamento dos benefícios de risco será encaminhada no início de 2020. Ela
ainda está sendo formatada. No caso dos trabalhadores autônomos, a tendência é
que eles fiquem com o INSS.
Em 2018, o valor médio pago a segurados por benefícios de
risco foi de R$ 1.353,15.
Na semana passada, o instituto anunciou a meta de zerar
os pedidos de benefícios em análise, como aposentadorias e pensões, até o fim
do ano. Há 1,3 milhão de processos com prazo superior a 45 dias.
Para Ana Carla Abrão, sócia da consultoria Oliver Wyman,
a medida deve gerar resistências no Congresso, mas, se o mercado for bem
regulado, com regras claras de fiscalização, todos sairão ganhando:
– Diante da deterioração do serviço público, não vejo
razão para o INSS continuar como única alternativa. No momento em que você abre
o mercado e que as empresas vão concorrer para ofertar um seguro menor,
perícias mais eficazes, haverá ganho para todos.
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previdência? Clique na calculadora que simula o valor final , considerando
também o acúmulo com a aposentadoria
Segundo Paulo Tafner, especialista em Previdência, a
medida segue padrão internacional, adotado em países como Estados Unidos,
Canadá, Inglaterra e Áustria. Ele explicou que a tendência é segregar a
poupança previdenciária (aposentadoria e pensão) dos benefícios de risco:
— Não vejo problemas para o segurado. Os benefícios
continuarão existindo, e o INSS terá que se tornar mais eficiente para competir
no mercado.
O Globo
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