Uma investigação aérea revelou que seis milhões de antílopes migram anualmente no Sudão do Sul. É a maior migração de mamíferos terrestres do mundo – o triplo do tamanho da observada entre a Tanzânia e o Quênia, que envolve cerca de dois milhões de zebras, gazelas e gnus.
Como um evento tão grande como
esse passou despercebido até agora? O Sudão do Sul está sendo devastado pela
guerra há décadas, o que impede a realização de pesquisas para conseguir dados
confiáveis sobre seus animais selvagens.
Quatro espécies de antílopes se movem das savanas no sudoeste do país para as áreas úmidas e pantanosas no norte e leste. Uma pesquisa utilizou imagens aéreas de 2023 para investigar os parques nacionais de Boma e Badingilo e a região de Jonglei, coletando os dados da área da “migração do Grande Nilo”, como foi chamada pelos pesquisadores.
A ONG African Parks usou
dois aviões para a pesquisa. Eles sobrevoaram 4 mil quilômetros quadrados da
área onde a migração ocorre, que tem cerca de 122 mil quilômetros quadrados.
Uma câmera gravou tudo que eles viam, tirando uma foto a cada dois segundos.
Esse é um método comum, muito usado para avaliar a distribuição de animais
selvagens em grandes espaços abertos.
Multiplicação de antílopes
As 330 mil fotos produzidas
pelos aviões foram analisadas por pesquisadores da Universidade de Juba, no
Sudão do Sul, e surpreenderam os especialistas porque vão na contramão do que
era esperado. Medições já haviam sido feitas na região nos anos 1980 e 2000,
mas a mais recente foi, de longe, a maior delas. A migração não só sobreviveu à
guerra no Sudão do Sul, como também se expandiu nos últimos anos.
Em 2007, eram só 1,3 milhão de
animais. Hoje, a estimativa mais baixa é de 4 milhões, chegando a 6 milhões na
mais alta. Mesmo considerando o primeiro caso, o valor ainda é o dobro da maior
migração de mamíferos terrestres conhecida até então, de dois milhões de
animais. Ela acontece no Serengeti, parque nacional da Tanzânia.
O Sudão do Sul sofre com
instabilidade política há anos. Em 2011, o país conseguiu a independência do
Sudão após décadas de guerra civil, e a nova nação entrou em um conflito
interno em 2013. Ele foi encerrado formalmente em 2020, mas sem um ponto final definitivo
na violência.
Os especialistas especulam que
talvez a guerra tenha sido o motivo para a multiplicação dos antílopes. Sem
grandes iniciativas de desenvolvimento agrícola ou industrial acontecendo, os
animais foram deixados sozinhos por um período de 10 a 12 anos, e por isso se
multiplicaram.
Fugindo da guerra
Os antílopes tiang andaram
cerca de três mil quilômetros, quase a mesma coisa das renas caribou no Ártico,
que percorrem cerca de 3,2 mil quilômetros.
Para coletar os dados sobre
distância viajada, 126 animais de doze espécies diferentes receberam coleiras
que registram seus movimentos. Os antílopes mais comuns, os cobos, realizam
migrações de cerca de dois mil quilômetros.
As coleiras também revelaram
que os antílopes faziam tudo que podiam para evitar os seres humanos,
circulando em volta de ajuntamentos de pessoas e nunca interagindo com elas. Já
animais que não têm a natureza migratória tiveram declínios grandes nas populações,
por causa do contato com os Homo sapiens. Zebras, búfalos, girafas e gnus
foram todos afetados pela caça, facilitada pelas armas usadas para a guerra.
O movimento migratório dura
quase o ano todo, provavelmente motivado pela disponibilidade de melhores
condições de pasto. Entender o comportamento dessas populações é uma
oportunidade de ouro para a preservação desses animais.
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