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Histórico: Robben ajuda Holanda a humilhar Espanha em Salvador
Foto: AFP
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A vingança é um prato que se
come frio, estragado, envelhecido, largado por quatro anos quando se trata de
um jogo entre Holanda e Espanha. É um prato que se come com goleada, com raiva.
Com humilhação. Os vice-campeões mundiais souberam esperar, souberam mastigar a
derrota na final de 2010 para nesta sexta-feira, na Arena Fonte Nova, em
Salvador, destruir seu antigo algoz com vitória por 5 a 1, de virada, na
largada do Grupo B da Copa do Mundo. Não é título, não rende taça, mas é uma
vitória histórica - um daqueles jogos que entram para o imaginário de um país.
O jogo não poderia ter sido
mais emblemático. Robben, vilão em 2010, fez dois gols. Van Persie, tão
discreto quatro anos atrás, fez mais dois. E Casillas, o herói do Soccer City,
falhou feio – em um lance por cima, com possível falta de De Vrij, e no último,
quando largou a bola nos pés de Van Persie. Diego Costa, muito vaiado, muito
xingado, cavou o pênalti que rendeu o gol da Espanha, marcado por Xabi Alonso.
A torcida se mostrou muito
favorável à Holanda, como acontecera com os adversários da Espanha na Copa das Confederações.
Até olé gritou - aumentando o massacre moral. E ajudou a colocar sob risco a
situação dos campeões mundiais. A Espanha volta a campo no dia 18,
quarta-feira, no Maracanã, contra o Chile. Precisa vencer. A Holanda, no mesmo
dia, encara a Austrália no Beira-Rio.
Holanda maquiavélica
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Xabi ALonso faz 1 a 0 de pênalti
Foto: Reuters
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Quando um carequinha apareceu
diante dos olhos de Casillas, aos sete minutos do primeiro tempo, parecia que
Espanha e Holanda tinham entrado em uma daquelas engenhocas futuristas e
voltado no tempo – mais precisamente, quatro anos. Mas com um porém, talvez
fruto de pequeno defeito na máquina: desta vez, era Sneijder quem perdia o gol,
não Robben, como na final de 2010. Casillas, porém, foi o mesmo, com defesa
muito parecida com aquela do título mundial espanhol. Ao repetir o gesto
salvador, o capitão pareceu lembrar a Fúria de quem ela é, pareceu acender o
aviso de que um campeão do mundo precisa agir como campeão do mundo. E aí a
Espanha passou a dominar a Holanda.
A Espanha foi a Espanha em
alma e identidade. Deu mais do que o dobro de passes do adversário. Chegou duas
vezes mais do que oponente com perigo ao ataque. Teve 60% de posse. Mas seu
controle do jogo teve algo de plano maquiavélico da Holanda. A equipe laranja
montou um ferrolho: ao se defender, postava o time em um pouco habitual
5-2-1-2, com uma linha de cinco defensores mais dois volantes; ao atacar,
pendia para o 3-4-1-2.
A questão é: por que essa
tendência suicida de chamar tanto a Espanha para seu próprio campo? De bobo,
Louis van Gaal nada tem. Ele sabia que tentar atacar com a mesma intensidade da
Espanha faria seu time ceder espaços que o adversário não cede. O negócio era
apostar no contra-ataque. Era usar seu trio espetacular de frente: Sneijder,
Robben e Van Persie, que precisariam ser sustentados necessariamente por uma
equipe sistemática, que funcionasse feito relógio, que tiquetaqueasse
perfeição.
O plano quase ruiu. Aos 25
minutos, Diego Costa, tão vaiado, recebeu na área, acossado por De Vrij, e foi
ao chão. A arbitragem marcou pênalti – em decisão no mínimo duvidosa. Xabi
Alonso bateu e fez: 1 a 0 Espanha.
O interessante é que o gol não
mudou as convicções da Holanda. Os campeões do mundo seguiram atacante,
seguiram controlando o jogo, e quase ampliaram quando Iniesta, genial, deixou
David Silva na cara do gol. O camisa 21 tentou encobrir o goleiro Cillessen,
mas não levou. A bola saiu por pouco.
E aí começou a funcionar o
plano holandês, sua tática de serpente – escondida até dar um bote rápido,
fatal. Blind encaixou longo lançamento para Van Persie, que foi mais ágil que
Sergio Ramos e encobriu Casillas: 1 a 1.
Ooooooooooolé
Chame como quiser: um
massacre, uma surra, uma tunda, uma humilhação, um passeio: uma enorme goleada.
A Holanda destruiu a Espanha. Esmagou a campeã mundial entre seus dedos.
Aplicou à grande geração multicampeã da Fúria seu maior vexame. Só no segundo
tempo, foram quatro gols. E Robben engoliu Casillas.
Foi o craque do Bayern de
Munique quem fez o terceiro. Ao receber na área, em outro lançamento de Blind,
fatalmente lembrou de quatro anos antes. Desviou do goleiro para fazer 2 a 1.
O terceiro saiu em lance
duvidoso. De Vrij disputa no corpo com Casillas e manda para o gol. O goleiro
subiu mal, mas sofreu choque do zagueiro holandês. A Espanha reclamou muito de
uma jogada que depois viraria apenas mais um detalhe macabro da goleada
holandesa.
É incrível como os heróis de
ontem podem ser os vilões de hoje. E vice-versa. Casillas, com a bola nos pés,
permitiu que Van Persie a roubasse. Não poderia ter falhado na frente de alguém
tão frio. O atacante avançou área adentro e aumentou o placar: 4 a 1.
E não era tudo. Robben recebeu
lançamento longo, ganhou de Sergio Ramos em uma arrancada impressionante e fez
o quinto. Incrível: massacre na Fonte Nova.
A parte holandesa e brasileira
da torcida entrou em surto. Enquanto a Holanda perdia chances de ampliar ainda
mais a goleada, o público gritava aquele termo tão característico dos toureiros
espanhóis: “Oooooooolé! Ooooooooolé! Oooooooolé!”.
Que jogo. Que tarde em
Salvador. Que vingança da Holanda. Quando a dor é grande, quando ela é dor de
final de Copa do Mundo, nem quatro anos podem estragar um prato, nada pode
tirar o sabor dele.
Globo esporte
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