
A lista foi elaborada pelo
corpo técnico do PPI, com base em rodadas de conversas com vários investidores
(setor financeiro, fundos de pensão e operadores da área de infraestrutura). A
expectativa do governo com a inclusão de mais 57 projetos de privatização é
obter pelo menos R$ 60 bilhões em bônus em 2017 e 2018. Essas receitas vão
ajudar a fechar as contas públicas, de déficit primário de R$ 159 bilhões nos
dois anos.
— São projetos maduros, que já
estão prontos. Há demanda no mercado — disse o ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Moreira Franco.
Sete grupos interessados nas
usinas da Cemig
O caso emblemático do leilão
das usinas da Cemig, que deve ocorrer ainda este ano, apesar da pressão
política contrária, mostra o apetite dos investidores no setor. Segundo uma
fonte do governo, há pelo menos sete grandes grupos estrangeiros com proposta:
o chinês State Power, o mais decidido nas rodadas de conversas; dois fundos de
pensão canadenses; a Brookfield; a empresa italiana Enel e os portugueses da
EDP; além do francês Engie e da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).
Técnicos que participaram dos
estudos da concessão da Lotex revelam que quatro grandes investidores
demonstraram interesse: o grupo americano Scientific Games, o indiano Eagle
Press, o italiano IGT e o austríaco Tatts Group. O governo espera um lance de
R$ 1,5 bilhão e mais receitas com impostos entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões
por ano.
Praticamente todos os
operadores aeroportuários estrangeiros que passaram a atuar no país — e mesmo
quem ainda não participou das rodadas de concessão — já demonstraram interesse
em Congonhas, contou uma autoridade do setor. O potencial com receitas
comerciais no aeroporto mais movimentado do Brasil é o principal atrativo.
Depois do leilão de Congonhas, mencionou a fonte, será difícil manter o Santos
Dumont nas mãos da Infraero.
Para a 14ª rodada de licitação
na área de óleo e gás, prevista para 27 de setembro, a Agência Nacional do
Petróleo (ANP) já habilitou 32 empresas de um total de 36 inscritas. Entre
elas, companhias de vários países, como Rússia, China, Índia, Estados Unidos,
Alemanha, Espanha, Canadá, França e Reino Unido, além de nacionais.
— Os ativos são muito
diferentes, mas os players também são, e atuam em nichos distintos. De certa
forma, todos estão despertando interesse — disse o secretário de Coordenação de
Projetos do PPI, Tarcísio Gomes de Freitas, que precisou interromper a conversa
com O GLOBO anteontem para fazer duas conference calls com investidores
estrangeiros.
Retorno de 8% ao ano com
hidrelétricas
Segundo técnicos envolvidos
nas negociações, a atratividade dos ativos do setor elétrico é a receita
garantida por tarifas. No caso das hidrelétricas da Cemig (São Simão, Miranda,
Volta Grande e Jaguara), que são usinas em operação, não há mais nem risco
ambiental da obra. O retorno para o investidor, de 8% ao ano (real) num cenário
de queda da inflação, é outro chamariz. Os 11 lotes de instalação de linhas de
transmissão em nove estados, que o governo pretende licitar em dezembro deste
ano, levam entre 36 e 60 meses para serem instalados e começarem a dar retorno.
As duas rodovias incluídas na
carteira do PPI, a BR-153 (Goiás-Tocantins) e a BR-364 (Rondônia) também
despertam atenção por causa do agronegócio. Todo ano, sobem quatro milhões de
toneladas de grãos do Mato Grosso para Rondônia, destacou um técnico. O leilão
da Ferrovia Norte/Sul, que pode gerar uma receita para o Tesouro de R$ 1,6
bilhão, também pode ter concorrência, porque o trecho da ferrovia tem sinergia
com a BR-153.
— Até mesmo a Fiol (Ferrovia
de Integração Oeste-Leste), entre Caitité e Ilhéus (BA), que pensávamos que
ninguém queria, identificamos pelo menos três players interessados — disse um
técnico.
Mesmo com o argumento de que a
Casa da Moeda é deficitária porque ninguém mais usa dinheiro em espécie, o
governo pretende faturar com a sua privatização. A propaganda oficial vai focar
nas receitas que o investidor terá com emissão de selos para cigarros e
bebidas.
A Eletrobras, ativo incluído
no PPI na última hora, é outra grande aposta do governo, que já tem como
estratégia usar a experiência com a privatização do sistema Telebras. Mas,
primeiro, será preciso retirar a parte podre da companhia: as seis
distribuidoras do Norte e do Nordeste. Estas fazem parte do grupo “patinho
feio” do PPI. A previsão era vendê-las no segundo semestre de 2017, mas isso
não será mais possível. A ideia agora é flexibilizar as exigências para atrair
competidores, como a meta de perda de energia.
Outro projeto com problema é a
Ferrogrão (MT/PA) — um investimento de R$ 12 bilhões e de alto risco. O leilão
estava previsto para o segundo semestre deste ano, mas os consórcios estão com
dificuldades para obter financiamento. Na melhor da hipóteses, ocorrerá em
março de 2018. Já o leilão de aeroportos em bloco (um no Nordeste e outro no
Centro-Oeste), em que o vencedor da disputa terá que levar junto terminais
deficitários, também é um incógnita, assim como o Parque Olímpico do Rio, que envolve
a prefeitura e a União.
O Globo
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