Pouco depois do voto decisivo
da ministra Rosa Weber, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou,
resignado, com um grupo restrito de pessoas que acompanhavam com ele o
julgamento de seu pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF):
“não iam dar o golpe para me deixarem ser candidato”.
A frase foi interpretada por
dirigentes e lideranças petistas como uma admissão de que está fora da disputa
eleitoral, embora o PT publicamente insista em manter o discurso sobre a
manutenção da candidatura à Presidência, mesmo que o ex-presidente vá para a
cadeia. “Isso foi para tentar tirar o Lula da eleição, mas podemos registrar a
candidatura dele, mesmo preso. Acredito que Lula vai ficar pouco tempo na
prisão”, afirmou o deputado estadual José Américo Dias (PT).
Enquanto isso, petistas
começaram a postar nas redes sociais a hashtag #LulaValeALuta. O objetivo é
evitar que o desânimo com a derrota no STF contamine a militância e o
eleitorado do petista.
O abatimento tomou conta das
cerca de 500 pessoas que lotavam o salão principal do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC logo depois do voto de Rosa. Antes, a cada intervalo, os
apoiadores de Lula dançavam, faziam batucadas ou se manifestavam em defesa do
petista. Depois, ficaram em silêncio durante vários minutos, até que a
organização tocou nos alto-falantes a música tema das caravanas de Lula. Muitos
foram embora.
Segundo relatos, o clima
também ficou pesado no segundo andar do sindicato, onde o petista passou o dia
ao lado de apoiadores. Entre eles, estavam a presidente cassada Dilma Rousseff,
os governadores Wellington Dias (PI), Tião Viana (AC) e Fernando Pimentel (MG),
além do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
Conforme pessoas que estavam
no segundo andar, o clima descontraído estimulado pelo próprio Lula durante
todo o dia foi substituído pela tensão à medida em que Rosa proferia seu
intrincado voto.
Até então, Lula tentava
demonstrar tranquilidade. Posou para fotos, recebeu ex-colegas da direção do
sindicato na década de 1970, contou histórias sobre as greves de 1978, 1979 e
1980, elogiou o golaço de Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, e demonstrou
otimismo ao dizer que o Corinthians vai vencer o Palmeiras por 2 a 0 na final
do Campeonato Paulista.
O petista passou a maior parte
do tempo em uma sala reservada, sem TV, ao lado de Dilma e aliados mais
próximos. Ele era informado sobre o andamento do julgamento por assessores. Nos
poucos momentos em que esteve na frente do aparelho de TV, não prestou atenção.
“Não vou acompanhar isso aí”, disse.
Nesta quinta-feira, 5, a
direção nacional do PT se reúne, pela manhã, para traçar as estratégias daqui
para a frente. À tarde, a cúpula do partido em São Paulo também deve se
encontrar para definir uma manifestação na cidade. A ideia é denunciar supostas
arbitrariedades no processo que condenou Lula e mostrar que o ex-presidente
sofreu um julgamento político.
Estadão
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