Ricos em teor calórico e pobres
em valor nutricional, os alimentos ultraprocessados possuem grandes quantidades
de gorduras, açúcares e sal, além de aditivos químicos sintetizados em
laboratório com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão -
corantes, aromatizantes, realçadores de sabor, e vários aditivos. É consenso
que seu consumo pode prejudicar a saúde no desencadeamento tanto da depressão e
ansiedade, como de outras doenças crônicas associadas a elas.
“Os processos associados a essas doenças estão relacionados à presença de substâncias nocivas, e a ausência de nutrientes com ações antioxidantes. A toxicidade no organismo causada por eles pode ou não ser associada a fatores genéticos e distúrbios de órgãos importantes na regulação da saúde mental e cerebral, como o intestino”, explica a professora doutora Severina Carla Cunha Lima, que atua no grupo de pesquisa “Alimentação, Nutrição e Saúde” da UFRN.
A pesquisadora ressalta o
poder “altamente viciante” dos processados, porque desencadeiam uma cascata de
eventos relacionadas ao prazer e a necessidade de estimular esse prazer
constantemente. “O consumo de alimentos com altos teores de açúcar ativa as
regiões cerebrais ligadas a esse sentimento de prazer a partir das elevadas
concentrações de dopamina (hormônio do prazer) e um aumento no vigor/disposição
devido a rápida transformação do açúcar livre em energia”, explica.
Severina ressalta que quase
100% dos ingredientes que estão na composição de um alimento ultraprocessado
são formulações industriais, químicas e modificações (sem benefícios) de
matérias-primas naturais ou alimentos in natura. São os aromatizantes, corantes
e acidulantes que podem causar problemas de pele, toxicidade no âmbito
genético, transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, entre outros.
A pesquisa “Estudo
Longitudinal Brasileiro de Saúde do Adulto”, realizada pela Faculdade de
Medicina da USP, registrou que o consumo excessivo de ultraprocessados pode
aumentar risco de declínio cognitivo em idosos e adultos de meia-idade. A
pesquisa foi realizada de 2008 a 2017 em seis cidades brasileiras e ouviu 11
mil pessoas. Apesar de o declínio cognitivo ser algo natural do tempo a partir
dos 30 anos, concluiu-se que a má alimentação pode acelerar esse
processo.
Severina destaca que não há
uma alimentação específica que vá melhorar isoladamente o funcionamento da
saúde mental de alguém; ela deve ser pensada como um complemento à qualidade de
vida, à saúde física e mental. “A dieta é, e sempre deve ser individualizada,
tendo como base o equilíbrio e uma variedade de alimentos, pois é a interação
dos nutrientes e dos compostos bioativos presentes nestes alimentos que irão
auxiliar de forma terapêutica”, explica.
“É preciso entender que a depressão e a ansiedade precisam de acompanhamento de um psiquiatra e psicólogo. O nutricionista irá auxiliar na escolha dos alimentos que vão auxiliar no tratamento”, diz. Severina Carla e o aluno mestrando David Bruno Araújo estão desenvolvendo a pesquisa “Insegurança alimentar, condições de saúde e de nutrição em população adulta e idosa de uma capital do Nordeste do Brasil”, estudando a relação alimentar com variados fatores de risco – incluindo os mentais.
A nutrição adequada faz parte da prevenção de doenças crônicas e degenerativas. A nutricionista Fátima Nunes explica que os alimentos ultraprocessados fazem mal à saúde mental por não oferecerem os nutrientes específicos para alimentar ou nutrir os neurotransmissores humanos. A serotonina, por exemplo, é um neurotransmissor que regula o humor, a ansiedade e o sono. A baixa ou a falta de serotonina contribuem para a depressão.
Para elevar o ânimo, Fátima
indica o consumo de carboidratos, magnésio, canela, cúrcuma, gengibre,
pimenta, entre outros. Para baixar a ansiedade, uma dieta com chá de camomila,
erva cidreira passiflora, suco de maracujá com pouco açúcar, e leite. Para
raciocínio e memória: peixe, couve, beterraba, frutas e verduras de um modo
geral, folhas de couve e espinafre, chás calmantes, açaí sem xarope, chocolate
amargo, e banana.
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