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Hipocampo do cérebro de
camundongo saudável (esq.) e infectado por zika (dir.) (Foto: H.K Narang (NGH))
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Um grupo de cientistas
realizou em 1971 um experimento no qual camundongos infectados por zika
apresentaram graves problemas no sistema nervoso. Durante 45 anos, a informação
permaneceu enterrada nos arquivos da literatura médica, até o vírus se tornar
um problema de saúde pública.
O trabalho, analisado em
retrospectiva, é provavelmente o primeiro registro sugerindo que o patógeno
transmitido por mosquitos pode causar problemas de desenvolvimento neurológico
como a microcefalia.
O experimento, realizado pelo
grupo do virologista Harash Narang, do Hospital Geral de Newcastle
(Inglaterra), foi descrito em estudo na revista alemã "Archiv für die
gesamte Virusforshcung" (Arquivos de Virologia Geral). Até a epidemia de
zika se tornar um problema de saúde global, porém, o artigo só havia sido
citado seis vezes.
O que Narang fez junto de dois
colegas foi injetar o vírus no cérebro de camundongos adultos (com cinco
semanas) e recém-nascidos. Os cientistas relatam ter observado que o zika
conseguia se reproduzir dentro do cérebro, provocava inflamação e causava a morte
de neurônios no hipocampo, estrutura cerebral essencial para a formação de
memórias.
"A replicação do vírus em
neurônios indica que sua destruição, vista de modo claro sob a luz em
microscópios, se deve especificamente à infecção por zika", escreveram Narang
e seus colegas.
O zika foi descoberto em 1948,
em macacos na Uganda, e passou quase duas décadas anos gerando pouco interesse
de cientistas. Com os primeiros casos em humanos descobertos em 1964, o
interesse no patógeno aumentou um pouco, mas naquela época não havia evidência
de que o zika pudesse interferir com o desenvolvimento neurológico.
O trabalho de Narang, porém,
não pareceu particularmente alarmante, porque uma injeção intracraniana não é
um modelo totalmente adequado para simular uma infeção real por zika, que entra
pela corrente sanguínea. Não estava claro se, em camundongos, o vírus seria
capaz de cruzar a chamada barreira hematoencefálica, que separa o cérebro da
circulação sanguínea.
Já havia o relato de que, em
humanos, o zika conseguia cruzar a barreira hematoencefálica, mas os casos
conhecidos até então não eram acompanhados de dano neurológico.
Redescoberta
O experimento de Narang foi
relegado então aos porões da história da ciência até que, no final de 2015,
Jason Tetro, biólogo canadense que estuda a história da microbiologia,
encontrou seu estudo.
Em artigo publicado em janeiro
de 2016 na revista médica "Microbes and Infection", quando a ligação
entre o zika e a microcefalia já havia sido noticiada pela imprensa de
virtualmente todo o mundo, Tetro descreveu a história da pesquisa do vírus
anterior a sua reemergência de 2007, mencionando Narang. O estudo de 1971
começou então a ser mencionado por outros cientistas e, em dois meses, recebeu
o mesmo volume de atenção que havia demorado quatro décadas para acumular.
Desde o fim do ano passado,
cientistas estão usando camundongos para tentar simular a infecção por zika.
Nenhum trabalho teve resultado publicado até agora. Estudos de infecção usando
métodos mais sofisticados, como aglomerados de neurônios cultivados em tubos de
ensaio, já mostraram que o vírus é capaz de afetar o sistema nervoso.
Bem Estar-G1
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