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terça-feira, 2 de julho de 2024

Pesquisa da UFRN descobre nova espécie de ave na região do Rio São Francisco


Uma pesquisa feita em parceria com o Instituto Tecnológico Vale (ITV), o Museu Paraense Emílio Goeldi, a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), descobriu uma nova espécie de uma ave, conhecida como choca-do-nordeste-de-cauda-barrada (Sakesphoroides niedeguidonae). Publicada no periódico Zoologia Scripta, o estudo observou que o pássaro possui características genéticas distintas da já conhecida choca-do-nordeste (Sakesphoroides cristatus).

 

A interação do ambiente em que ocorre a choca-do-nordeste foi importante no surgimento da espécie recém-descoberta. Alterações climáticas e mudanças no Rio São Francisco separaram o grupo de aves em duas espécies. Assim, surgiu a ave com cauda barrada: possuindo divergências nas suas penas e até no seu canto. Os pesquisadores também notaram diferenças no próprio organismo das aves — a ponto de observarem uma variação genética de 1,8% entre os grupos de animais.

Os pesquisadores colheram 58 amostras de material genético e analisaram 1079 aves, tendo coletado, ainda, uma fêmea encontrada na Serra Vermelha, em São Raimundo Nonato (PI). Após a coleta dos dados, a equipe responsável verificou 568 registros de ocorrência, entendendo como as linhagens tinham um histórico de parentesco. O resultado do estudo inclui a descoberta de padrões distintos de canto, cuja característica tem relação com a plumagem das aves.

 

“Essa espécie nova, que vive na região mais ao norte e a oeste do Rio São Francisco, pode estar enfrentando uma diferença de perda de habitat maior do que a espécie já conhecida”, atenta Mauro Pichorim, pesquisador da Departamento de Botânica e Zoologia (DBEZ) da UFRN que participou do estudo. No entanto, a ave, endêmica da Caatinga, não está em processo de ameaça de extinção, ainda que alguns animais onde o bioma está sendo alterado já estejam passando por essa situação.

 

Investigando a fauna e a flora

 

Com o apoio do método de regime de amostragem densa e dos dados biológicos do comportamento das aves, Alexandre Aleixo (ITV); Gabriela R. Gonçalves (UFPA); Marcelo Silva (Museu Emílio Goeldi); Mauro Pichorim (UFRN); Pablo Cerqueira (ITV e UFPA); e Tânia F. Quaresma (ITV) tiveram que atentar-se a aspectos importantes da natureza do Rio São Francisco até chegar na ave da cauda barrada.

 

Mesmo as oscilações do clima e alterações no nicho ecológico que a espécie vive foram pesquisados, como forma de entender a variação que levou a descobrir a S. niedeguidonae — nome que faz menção a Niède Guidon (1933-), arqueóloga conhecida por suas pesquisas realizadas na Serra da Capivara.

 

O rio, por sua vez, teve uma mudança de curso que alterou a vida da choca do nordeste. Os pesquisadores afirmam que o tempo de divisão entre a nova espécie e o S. cristatus é consistente com o estabelecimento do novo curso do Rio São Francisco e, como consequência, criou um novo contato entre as espécies na região do Raso da Catarina (paisagem natural com cânion localizado na Bahia).

 

A equipe conseguiu, ainda, traçar o histórico de crescimento da nova espécie. Ambas as variedades das aves ampliaram o número e o alcance da região onde se estabeleceram, desde a Última Era do Gelo (ocorrida há cerca de 20 mil anos).

 

“A Caatinga, no geral, sempre foi vista de forma homogênea: sempre sendo deixada de lado em relação a novidades taxonômicas, filogenéticas, de padrões de evolução [da natureza]”, afirma Pichorim. “Mas, na verdade, o bioma sempre foi muito dinâmico, principalmente nos últimos milhões de anos, com a glaciação, havendo variação do clima”, complementa o pesquisador da UFRN.

 

Climas mais secos, mais úmidos, quentes ou frios, ao longo da história do próprio planeta e do bioma da Caatinga, podem ter ajudado a diversificar outras espécies, além da choca-do-nordeste. “[A formação de] cadeias de serra e de montanhas têm influência na especiação […]. Podem ocorrer mais alguns processos de criação de espécies em áreas mais serranas: em topos de serras e em ‘brejos’ temos dinâmicas importantes”, comenta Pichorim. Segundo o professor, é possível haver especiação de anfíbios, como lagartos e cobras, e mesmo peixes, pelas mudanças naturais e biológicas.

 

Portal da UFRN

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