Cárcere privado em Capim Macio já é um dos mais
longos da história no RN, diz Maurílio
Passadas mais de trinta e cinco horas desde o
início do cárcere privado, a Polícia Militar do Rio Grande do Norte ainda
negociava a rendição do agente penitenciário aposentado Francisco José de Assis
Guimarães, de 52 anos, na manhã deste sábado (14). O homem mantém refém seu
enteado, de 14 anos, desde o início da madrugada da sexta-feira (13), dentro do
apartamento da família do jovem. Apesar do tempo transcorrido, os negociadores
tentavam contornar a situação contando com o cansaço do agressor.
Segundo o delegado aposentado da Polícia Civil,
Maurílio Pinto, que também foi subsecretário de Segurança e trabalhou em várias
negociações do tipo durante a sua carreira, esse é um dos crimes deste tipo
mais longos na história do Rio Grande do Norte. “Desse tipo, esse já é o mais
longo. Normalmente as negociações duram até 24 horas”, considerou.
A maior parte das exigências feitas por
Francisco José foi atendida pelos negociadores. O sequestrador pediu
alimentação para ele e o adolescente, energia no apartamento e insulina, visto
que é diabético. A polícia, no entanto, não está disposta a negociar a entrada
da esposa e da enteada do homem. “Isso não tem como negociar”, considerou o
major Rodrigues, comandante do 5º Batalhão da PM, que conduzia as negociações.
O sequestrador negociava com a polícia usando
contato visual e telefone. “Em alguns momentos ele utiliza o próprio garoto
para falar o que quer. A gente ouvia ele ditando o que queria dizer”, narrou o
comandante. O fato de o aposentado ter servido às forças armadas e ser agente
penitenciário dificulta as negociações. “Ele também é treinado para situações
como essa. Conhece os procedimentos, tem consciência dos ritos, de cada etapa,
do que vai ser feito”, conta o major.
A polícia considerava, no início do dia, que o
homem se mostrava mais propenso à negociação. Desde o princípio do caso, ele
teria demonstrado picos de lucidez e tranquilidade que eram substituídos por
tempos de “desorganização das ideias e demonstração de violência”. Segundo os
moradores do condomínio Serra do Cabugi, a tensão aumentou na tarde de sexta,
quando o homem gritava e também chamava pela companheira.
No meio da manhã de hoje Francisco José
concordou soltar um cachorro, animal de estimação de sua enteada, que também
estava dentro do apartamento. O bloco onde o apartamento fica foi esvaziado.
Segundo os funcionários do condomínio, os moradores passaram a noite em casa de
familiares. A polícia, no entanto, permitia a subida de moradores para pegar
roupas e objetos deixados. Já nos outros blocos, a vida segue normalmente,
segundo os funcionários.
Sem previsão
A Polícia Militar não dava previsão para o fim
do cárcere. “Pode durar minutos ou dias, não podemos prever. Nosso objetivo é
preservar a vida de todos”, argumentou o comandante do 5º BPM. O local estava
isolado também pelo Batalhão de Choque (BPChoque) e o de Operações Especiais
(Bope).
O cárcere começou entre o fim da noite de
quinta e o início da madrugada, após uma briga familiar. O homem não morava
mais no apartamento. Ele e a mãe do garoto têm uma relação de 12 anos, que
estaria conturbada. Após a briga a mulher conseguiu deixar o apartamento e o
adolescente foi feito refém. Francisco José já foi preso por porte ilegal de
armas e por agressão, através da Lei Maria da Penha.
O delegado aposentado Maurílio Pinto concorda
com a negociação da polícia. “Tem que ter calma. Dar tempo ao tempo. Muitas
vezes nossos policiais queriam acabar, invadir logo, mas temos que ter calma. A
polícia está fazendo certo”, argumentou. O delegado lembrou de um caso que
aconteceu entre o final da década de 1980 e o início de 1990, quando um gerente
de banco passou três dias sobre o poder de criminosos. Porém, o delegado lembra
que o caso começou em Assu e terminou em outro estado. Como esse de agora,
dentro de um apartamento, nunca vi um mais longo”, colocou.
Filho de vereador preso
Um homem identificado como Bruno Garcia da
Silva, de 23 anos, foi preso por ter invadido o bloqueio policial na Rua Dirce
Coutinho, onde fica localizado o condomínio, logo no início da manhã. Ele
dirigia um carro tipo Siena em alta velocidade e por pouco não atingiu alguns
profissionais da imprensa que estavam no local. Marca das frenagens ficaram no
local. Segundo a polícia ele tinha sinais de embriaguez. Uma garrafa de bebida
alcoólica foi encontrada dentro do veículo.
Bruno foi conduzido para a Delegacia de Plantão
da Zona Sul e foi liberado após pagamento de fiança. De acordo com a PM ele é
filho de um vereador de Natal.
Jornal de Hoje
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