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Foto: Jorge William / Agência O
Globo
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O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, pediu na quarta-feira ao Supremo Tribunal Federal
(STF) a abertura de um novo inquérito para investigar se o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), usou contas secretas na Suíça para receber
propina e lavar dinheiro desviado de contratos entre a Petrobras e empresas
privadas. O Ministério Público Federal quer investigar também se Cunha cometeu
outros crimes, como sonegação fiscal e evasão de divisas. O peemedebista não
declarou a existência das contas à Receita Federal e à Justiça Federal.
Janot fez o pedido de abertura
do segundo inquérito para apurar o suposto envolvimento do presidente da Câmara
com fraudes na Petrobras a partir de um relatório do Ministério Público da
Suíça. Segundo o documento, Cunha e sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz, têm
quatro contas no Julius Baer, na Suíça, em nome de off-shores sediadas em
paraísos fiscais. O relatório dos suíços põe por terra declaração de Cunha que,
em depoimento à CPI da Petrobras, disse que não tinha contas bancárias na
Suíça.
Os procuradores suíços
suspeitam que Cunha usou as contas para receber dinheiro de propina. Rastreamento
de parte da movimentação financeira do presidente da Câmara indica que uma das
contas, a Orion, recebeu cinco depósitos no valor total de R$ 5,3 milhões do
lobista João Augusto Henriques. Os depósitos foram feitos entre maio e junho de
2011. A série de depósitos começou menos de um mês depois da venda de 50% dos
direitos de exploração de um campo de petróleo da Companie Beninoise para a
Petrobras, negociado intermediado por João Henriques.
O lobista está preso desde o
mês passado em Curitiba. Em depoimento da Polícia Federal, João Henriques disse
que fez os depósitos da Orion a pedido do lobista Felipe Diniz, filho do
ex-deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), já falecido, um dos principais aliados de
Cunha. Os depósitos seriam uma retribuição a pessoas que ajudaram na
concretização do negócio com informações privilegiadas. Só mais tarde ele teria
descoberto que a conta era do presidente da Câmara.
MAIS DE R$ 22 MILHÕES NOS
ÚLTIMOS ANOS
Pelo relatório dos suíços, a
Petrobras depositou US$ 34,5 milhões numa conta do empresário Idalecio Oliveira
em 3 de maio 2011, suposto dono da Beninoise e sócio de João Henriques na
transação com a estatal brasileira. Em 30 de maio, ou seja, menos de um mês
depois, João Henriques usou uma conta da off-shore Acona no BSI para começar a
série de pagamentos a Cunha. Ele teria feito os pagamentos com parte de US$ 10
milhões que recebeu de Idalécio em 5 de maio de 2011, ou seja, dois depois do
desembolso da Petrobras para a Beninoise.
Pelo rastreamento dos suíços,
antes de chegar a conta da Acona, o dinheiro teria passado ainda por uma
segunda conta de Idalecio em nome da Lusitânia Petroleum, no BSI. Para os
suíços, movimentação do dinheiro em várias contas em nomes de off-shores seria
uma clara tentativa de camuflar a origem dos recursos. O relatório do
Ministério Público suíço mostra ainda que as contas de Cunha e da mulher dele,
a jornalista Cláudia Cruz, receberam mais de R$ 22 milhões nos últimos anos.
As quatro contas de Cunha
estão em nomes das off-shores Orion SP (conta 4548.1602), Netherton Investments
Ltd (conta 4548.6752), Triumph SP (conta 4546.6857) e Kopek (conta 4547.8512).
As off-shores teriam sede nas Ilhas Cayman e Cingapura, entre outros paraísos
fiscais. O presidente da Câmara não declarou as contas à Receita Federal e à
Justiça Eleitoral. No primeiro semestre, em depoimento gravado, Cunha disse à
CPI da Petrobras que não tinha contas bancárias, além daquelas informadas ao
Fisco.
Parte do dinheiro da conta da
Kopek, que está em nome de Cláudia, foi usado para pagar despesas com dois
cartões de crédito internacional, um American Express e outro Corner Card, no
valor de U$ 841.731,14 ou RS$ 3,2 milhões, entre 2008 e o início deste ano. Só
entre 5 de maio do ano passado até 2 de abril deste ano, o Corner Card foi
cobriu gastos da ordem de R$ 601 mil. A Kopek foi usada até para pagar US$ 59,7
mil a IMG Academies, academia de Nick Bollettieri, na Flórida. Bollettieiri é
professor de grandes campões de tênis.
Duas das quatro contas de
Cunha e da mulher, a Netherton e a Kopek, estão bloqueadas com saldo de
aproximadamente US$ 2.593.616,93, o equivalente a quase R$ 10 milhões.Outras
duas, a Orion e a Triumph, foram encerradas ano passado, logo depois do início
da Operação Lava Jato, conforme revelou o GLOBO na última sexta-feira. As
contas Netherton e Kopek foram congeladas em abril do ano passado a partir de
uma investigação sobre suposto envolvimento de Cunha com corrupção e lavagem de
dinheiro.
O presidente da Câmara já é
alvo de uma outra investigação em tramitação no STF. Em agosto, Janot denunciou
Cunha por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de receber do
lobista Júlio Camargo US$ 5 milhões para facilitar a contratação de dois
navios-sondas da Samsung Heavy Industries para Petrobras, um negócio de US$ 1,2
bilhão. Em depoimento ao Ministério Público Federal, Camargo disse que pagou
US$ 40 milhões em suborno.
Outros dois acusados de cobrar
propina para facilitar a contratação dos navios da Samsung são o lobista
Fernando Soares, o Baiano, e o ex-diretor da área de Internacional da
Petrobras. Os dois já foram condenados pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara
Federal de Curitiba. Baiano foi condenado a 16 anos e um mês de prisão. Cerveró
recebeu 12 anos e 3 meses de cadeia. O caso de Cunha será julgado pelo STF.
Caberá ao relator do caso, ministro Teori Zavascki, decidir se acolhe a
denúncia de Janot.
O procurador-geral pede ainda
que o presidente da Câmara e os demais acusados de receber suborno devolvam US$
80 milhões aos cofres públicos. São US$ 40 milhões relativos a propina e mais
US$ 40 milhões a título de reparação do dinheiro desviado da Petrobras.
O Globo
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