Fósseis de um pequeno animal
encontrados na região da atual Catalunha, Espanha, acabam de mudar o que se
imaginava sobre a divergência evolucionária entre os chamados primatas
superiores ou grandes primatas – grupo da família dos Hominídeos, que inclui
orangotangos, gorilas, chimpanzés e seres humanos – e os primatas inferiores,
da família Hylobatidae, representados hoje pelas várias espécies de gibões da
Ásia. Todos pertencentes à superfamília dos Hominóideos, até agora os cientistas
acreditavam que o último ancestral comuns dos atuais e extintos primatas
superiores e inferiores viveu entre 15 e 20 milhões de anos atrás, mas os
restos da nova espécie, batizada Pliobates cataloniae, datados em 11,6 milhões
de anos, apresentam características dos dois grupos, numa indicação de que esta
divergência aconteceu muito mais tarde.
- A descoberta destes fósseis
nos forneceu um capítulo que estava faltando no início da história dos primatas
e humanos – destaca Sergio Almécija, professor de antropologia do Centro paraEstudos
Avançados da Paleobiologia Humana da Universidade George Washington, nos EUA, e
um dos autores de artigo sobre o achado, publicado na edição desta semana da
revista “Science”. - Achávamos que os primatas inferiores tinham evoluído a
partir de outros primatas com corpos maiores, mas esta nova espécie nos diz que
pequenos e grandes primatas podem ter coexistido desde a origem do Hominóides.
Outra explicação alternativa é que o Pliobates indique que os primatas
superiores evoluíram a partir de ancestrais com o tamanho dos gibões.
Pesando entre quatro e cinco
quilos quando vivo, tamanho similar ao dos menores gibões encontrados
atualmente, o Pliobates exibe uma mistura de traços considerados mais
primitivos na história da evolução dos primatas com outros associados a
espécies mais modernas. A anatomia de seus braços, por exemplo, apresenta ossos
do punho e as juntas entre o úmero e o rádio com o mesmo desenho básico visto
nos Hominóides existentes hoje. Além disso, análise filogenética baseada em
mais de 300 características coloca a nova espécie próximo da divergência entre
primatas superiores e inferiores na linha evolutiva dos Hominóides, sugerindo
que o último ancestral comum das duas famílias pode ter sido mais parecido com
os atuais gibões do que com os grandes primatas, como se pensava até agora.
- A origem dos gibões era um
mistério devido à falta de registros fósseis, mas até agora a maior parte dos
cientistas achava que seu último ancestral comum com os Hominídeos deveria ter
sido grande, pois todos os fósseis seguramente de Hominóides encontrados até o
momento eram de animais com corpos grandes – explica David Alba, pesquisador do
Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont (ICP) e líder do estudo,
acrescentando que todos restos de Antropóides (subordem dos primatas que inclui
os chamados macacos do Velho Mundo e do Novo Mundo, além dos Hominóides) com
entre cinco e 15 quilos achados antes do Pliobates tinham um desenho corporal
muito primitivo para serem relacionados com os atuais primatas superiores e
inferiores. - Este achado muda tudo.
O Globo
A ciência cada vez mais libertando mentes presas em mitologias.
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