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O documento, que foi elaborado
pela Delegacia da Receita Federal em São Paulo, aponta que 13 instituições
privadas participaram dessas transações (Foto: Allan Patrick /Flickr /
O Financista)
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A força-tarefa da Operação
Lava Jato, em Curitiba, investiga qual foi o papel de um grupo de bancos
privados, de grande e médio porte, em crimes financeiros envolvendo contratos
avaliados em US$ 15 bilhões entre o grupo Schahin e a Petrobras. Os detalhes
das transações consideradas suspeitas e os argumentos que apontam o
envolvimento dessas instituições constam de uma representação fiscal para fins
penais da Delegacia da Receita Federal em São Paulo, encaminhada ao Ministério
Público Federal.
Segundo o documento da
Receita, 13 instituições privadas participaram dessas transações. Os bancos
fazem parte de grupo de credores que emprestaram US$ 500 milhões ao Schahin e
alegam que ficaram sem receber US$ 350 milhões. Para cobrar a dívida, teriam se
organizado em bloco. Procurados pela reportagem, declararam que não há
irregularidade nas transações com o Schahin.
A Receita listou as
instituições pela ordem de atuação no bloco. Há os “bancos credores”, que
liberaram financiamentos: Itaú BBA, Bradesco, o inglês HSBC, o espanhol
Santander, Votorantim, Bonsucesso, Fibra, ABC Brasil, Bic, Pine, Tricury e
Rural (hoje em liquidação extrajudicial). Os “bancos coordenadores”, que, além
de emprestar o dinheiro, tinham um papel mais atuante nas negociação das
condições dos empréstimos: Itaú BBA, Votorantim e HSBC. Por fim, há o que a
Receita chama de agente administrativo fiduciário e colateral, que fazia a
administração das contas. Essa tarefa, segundo a Receita, cabia ao alemão
Deutsche Bank.
Na avaliação do órgão, há
indícios de que os bancos foram “coautores” do crime de lavagem de dinheiro.
Isso seria possível segundo a Receita, porque os bancos criaram uma estrutura
para emprestar e receber dinheiro em paraísos fiscais que, ao final, abriu
espaço para dar “aparência lícita” a dinheiro que poderia ter sido obtido em operações
ilegais no Brasil, como fraude a licitações e sonegação fiscal, realizadas
entre o grupo Schahin e a Petrobras. Todas as transações – liberação e
pagamento dos créditos – desses bancos eram referentes ao contrato do
navio-sonda Vitória 10.000 – contratação da Petrobras já sob investigação na
Operação Lava Jato.
Como os envolvidos estão em
São Paulo, a fiscalização foi feita pela delegacia regional da Receita no
Estado e as conclusões foram encaminhadas a procuradores da República do
Ministério Público Federal em São Paulo. Ocorre que a representação terminou
ficando sob a responsabilidade do Ministério Público Federal no Paraná, porque
se entendeu que o caso tem relação com as investigações da Lava Jato. Hoje a
representação é uma das provas anexadas ao processo de prisão do pecuarista
José Carlos Bumlai e, segundo informou a assessoria de imprensa do Ministério
Público Federal no Paraná, caberá ao órgão local avaliar se vai instaurar
inquérito contra os bancos.
Fiscalização
As transações que chamaram a
atenção da fiscalização da Receita envolveram operações de crédito que
financiavam o caixa dos negócios de óleo e gás da Schahin. O grupo tem 28
empresas, das quais 15 estão no exterior – são offshores, como se diz no jargão
empresarial.
De maneira genérica, pelo que
está detalhado no documento da Receita, o dinheiro era emprestado pelos bancos
no Brasil para ser usado como capital de giro, ou seja, como caixa nas
operações de rotina dentro do País. O dinheiro saía dos bancos e ia para a
empresa aqui mesmo no Brasil. A partir daí, porém, a titularidade tanto de quem
concedia quanto de quem recebia o empréstimo mudava. O CNPJ – a identidade das
empresas – era alterado. Toda a operação passava a ser feita por subsidiárias
no exterior.
A transação é descrita da
seguinte maneira pela Receita: os bancos aprovavam a liberação do capital de
giro para a Schahin Holding. No entanto, transferiam a titularidade do crédito
para uma filial do banco em um paraíso fiscal. A Schahin fazia o mesmo:
transferia a dívida, escrituralmente, para outra empresa do grupo, a S2
Participações, aqui no Brasil.
A conta, porém, não ficava com
ela. A S2 também transferia a dívida para outras empresas do grupo, localizadas
em paraísos fiscais: a Deep Black Drilling LLC e a South Empire International,
por exemplo, pertencentes a Milton Taufic Schahin e Salim Taufic Schahin, ambos
sócios do grupo. Ao final, era como se a filial do banco no paraíso fiscal
tivesse concedido o empréstimo para a Deep Black Drilling LLC ou para outras
empresas do gênero. Os pagamentos do empréstimo também eram feitos lá fora.
Para a Lava Jato, a Deep Black Drilling não é uma empresa qualquer. O contrato
da sonda Vitória 10.000 com a Petrobras foi firmado por meio dela. Era ela que
recebia pela prestação do serviço, num contrato de US$ 1,5 bilhão com a
estatal.
Eduardo Musa, ex-gerente da
Petrobras, apresentou notas fiscais que mostram o pagamento da propina que
recebeu por ter ajudado na contratação da sonda Vitória. Segundo ele, o
pagamento foi negociada com o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, e com
Bumlai e pago por várias offshores do grupo Schahin. Uma delas foi a mesma Deep
Black Drilling. Bumlai negou a intermediação da propina.
Caminho
No negócio de afretamento é
comum as empresas usarem estruturas no exterior, já que as sondas são
geralmente produzidos fora do País. Mas o Fisco está contestando o uso dessas
estruturas quando os navios são usados para prospectar petróleo no Brasil de
forma generalizada, e não somente nas operações da Schahin. A própria Petrobras
já foi autuada.
No caso da Schahin, os fiscais
entendem haver indícios de ilegalidades também nos empréstimos e na própria
licitação feita pela estatal. No início de outubro, a Receita Federal divulgou
que bloqueou R$ 4,6 bilhões do grupo Schahin por sonegação de impostos e fraude
e avisou que poderia ir em busca de mais recursos no exterior. As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.
Estadão
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