O cenário não poderia ser pior
para o Brasil. As novas perspectivas globais do Panorama Econômico Mundial
(WEO, na sigla em inglês), do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas
na manhã desta terça-feira, indicam que a economia do país se retraiu em 3,8%
em 2015 e deverá sofrer outra queda de atividade, de 3,5%, neste ano. O FMI
ainda afirma que o país terá crescimento zero em 2017, ou seja, a tão esperada
retomada do ficaria para 2018. Na previsão de outubro, a expectativa era de
recessão de 3% em 2015 e de nova queda de 1% neste ano.
Assim, o Brasil tem as piores
perspectivas entre as nações destacadas pelo Fundo, superando a Rússia, que até
a previsão de outubro tinha piores previsões para 2015 — por causa dos
problemas econômicos após o embargo com a incorporação da Crimeia e sentindo
fortemente a queda do preço do petróleo. O Brasil é apontado pelo Fundo como um
dos responsáveis pela redução da expectativa de crescimento global para os dois
anos. Segundo o FMI, depois de ter um crescimento de 3,4% em 2014, a economia
global avançou 3,1% em 2015 e terá expansão de 3,4% neste ano e de 3,6% em 2017
— os valores de 2016 e de 2017 foram cortados, cada um, em 0,2 ponto
percentual, na comparação com as expectativas de outubro.
“Sobre a composição dos países, as revisões
podem ser atribuídas principalmente ao Brasil, cuja recessão (causada pela
incerteza política em meio ao rescaldo da ininterruptas investigações da
Petrobras) está se demonstrando ser mais profunda e prolongada que o esperado”,
afirma o documento que afirma que toda a América Latina também apresentará
recessão em 2016, “apesar do crescimento positivo na maioria dos países da
região. Isso reflete a recessão do Brasil e de outros países em dificuldades
econômicas”, conclui o documento.
Após a divulgação do documento
do FMI, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse, por meio de
nota, que considera significativas as revisões para baixo das projeções
econômicas para o Brasil e que todas as informações são consideradas nas decisões
do Copom.
"O presidente Tombini
ressalta que todas as informações econômicas relevantes e disponíveis até a
reunião do Copom são consideradas nas decisões do colegiado", segundo
comunicado do BC, no primeiro dia de reuniões para decidir sobre a Selic.
O FMI estima que o crescimento
global será mais gradual que o previsto anteriormente. O Fundo acredita que as
economia avançadas continuarão a viver “uma recuperação moderada e desigual”,
enquanto os países emergentes terão panorama variado, embora sempre com
desafios. Entre eles a desaceleração da economia chinesa — que nesta
terça-feira (noite de segunda no Brasil) anunciou que cresceu 6,9% em 2015, a
menor taxa em 25 anos —, a queda dos preços das matérias primas e “tensões” que
encontram algumas grandes economia emergentes. O documento prevê que o preço do
petróleo, que caiu 47,1% em dólar em 2015, deva retroceder mais 17,6% neste
ano.
“Em 2015, a atividade
econômica internacional se manteve atenuada. Apesar de ainda gerarem mais de
70% do crescimento mundial, as economias de mercados emergentes e em
desenvolvimento se desaceleraram pelo quinto ano consecutivo”, informou o
documento, que também listou como desafios para este ano a queda do preço da
energia e o endurecimento da política monetária dos Estados Unidos, que começou
a elevar seus juros.
Sobre a desaceleração chinesa,
o documento afirma que ela ocorre dentro do esperado, mas que a queda mais
brusca e rápida que o esperado das importações do país asiático, por causa do
abrandamento dos investimentos industriais, juntamente com dúvidas sobre o
desempenho futuro da China, “está contagiando outras economias através dos
canais comerciais e da queda do preço da matéria prima, assim como diante de
uma menor confiança e uma piora na volatilidade dos mercados financeiros”.
O economista-chefe do FMI,
Maurice Obstfeld, afirmou nesta terça-feira em Londres que os mercados
financeiros globais parecem estar reagindo de maneira exagerada à queda dos
preços do petróleo e à China:
— Não é um exagero sugerir que
(os mercados) podem estar reagindo de maneira muito forte às pequenas
evidências em um ambiente de volatilidade e aversão a risco.
O Fundo também apontou quatro
fatores de risco que podem piorar suas previsões: uma desaceleração mais forte
que o previsto do crescimento chinês, dificuldade de empresas endividadas em
dólar com a valorização da moeda americana, aumento exacerbado de aversão ao
risco e aumento das tensões geopolíticas, que poderiam afetar o fluxo
comercial, financeiro e de turismo no mundo.
O Globo
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