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Foto: Adriano Abreu |
O processo para obter a
Carteira Nacional de Habilitação (CNH) sofreu modificações que passaram a valer
desde o primeiro dia do ano. É que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran)
decidiu tornar obrigatória a utilização de simulador de direção veicular em
Centros de Formação de Condutores (CFC) em todo o Brasil. A regulamentação está
em resolução de número 543 do Contran, publicada no Diário Oficial da União em
20 de julho de 2015, e só é válida para pessoas que se matricularem em
autoescolas a partir do início da vigência da medida.
Neste primeiro momento, apenas
aprendizes que pretendem habilitação categoria “B” deverão cumprir a exigência.
Posteriormente, passará a valer para as demais categorias (caminhões, motos e
ônibus). No Rio Grande do Norte, os CFC’s já estão estão em fase de adaptação à
resolução. São 88 estabelecimentos credenciados ao Sindicato dos Proprietários
de Centros de Formação de Condutores do RN (SIPROCFC-RN). Destes, 50 já dispõem
do equipamento. O restante deverá receber os simuladores até o final de
janeiro.
Conforme estabelece a
legislação, de um total 25 aulas práticas, de 50 minutos cada, cinco deverão
ser realizadas por meio do simulador. Pelo menos uma dessas aulas deve ser em
conteúdo noturno. A utilização do aparelho deve se dar após a conclusão do
teste psicotécnico, das aulas teóricas, com a realização do “provão”, e antes
das aulas práticas com veículo em campo. O equipamento põe os alunos à prova em
diversas situações presentes no cotidiano dos motoristas, como dirigir em meio
a uma forte chuva ou a uma neblina, por exemplo.
A adoção deste novo recurso
culminou com algumas alterações em termos de custos e prazos. Antes da
resolução, se levava de 45 a 60 dias para retirar a CNH, com valor estimado em
R$1.300. Agora, a previsão é de que a habilitação seja entregue, após todos os
testes, em até 75 dias, com custo estimado entre R$1.650 e R$1.700.
De acordo com Fátima Machado,
proprietária e instrutora de uma autoescola localizada no Centro de Parnamirim,
o uso do simulador deverá proporcionar mais qualidade na formação apesar dos
custos que possam implicar. “Eu acredito no resultado final. Na aula prática,
tem que explicar ao aluno sobre painel, troca de marcha, pedais, isso levava
pelo menos quatro aulas para aprender. Com o simulador se economiza tempo. Caso
o aluno tenha dificuldade, o próprio equipamento auxilia”, explicou.
Além disso, na avaliação da diretora,
o aluno ganha mais confiança após concluir os testes no simulador.
“Principalmente para quem não tem conhecimento nenhum do veículo, pois irá
aprender todos os comandos. Quando chegar ao veículo, já terá conhecimento do
equipamento”, considerou.
Mesmo com os benefícios
trazidos pela incorporação do simulador ao processo de aprendizagem, as aulas
ainda não começaram a ser registradas. O funcionamento da máquina se dá por
meio online, em que é necessário estar conectado com o Departamento Estadual de
Trânsito (Detran) de cada estado. No contexto potiguar, o órgão estadual ainda
não estabeleceu ligação online com as autoescolas, para que sejam registradas
as presenças dos instrutores, dos aprendizes e, sobretudo, o desempenho destes
durante as aulas no equipamento.
A reportagem entrou em contato
com o Detran-RN para saber dos motivos para a falta de conexão, bem como de
prazos para sanar o problema, mas não obtivemos retorno até o final desta
matéria.
Custos não inviabilizam
autoescolas
Após a publicação das
primeiras resoluções do Contran que estabelecia a obrigatoriedade do simulador
na formação de condutores em autoescolas, proprietários dos estabelecimentos em
todo o país se mobilizaram contra o decreto. A principal queixa era quanto aos
vultosos custos que demandariam na aquisição e manutenção dos aparelhos. Porém,
esta realidade não se configurou entre as CFC’s do Rio Grande do Norte.
De acordo com o presidente
do SIPROCFC-RN, Eduardo Machado, as
autoescolas do estado que dispõem dos simuladores os adquiriram por meio de
comodato, que é uma tendência seguida por várias autoescolas no Brasil. “Um
equipamento desses custa R$43.000. Então, o custo-benefício em comodato é maior
do que em relação à aquisição de um aparelho próprio”, disse. Se, por um lado,
investir na compra custa caro, a manutenção, por outro, se apresenta mais
custosa ainda. “A CPU desses simuladores fica obsoleto em 6 meses. Para comprar
um novo são mais R$15.000”, explicou Eduardo. O contrato de comodato prevê a
manutenção periódica dos aparelhos.
Há cinco empresas no país
certificadas pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para a
fabricação e distribuição dos simuladores. Todas elas com sede nas regiões
Sudeste e Sul. A legislação obriga estas empresas a disponibilizarem filiais em
cada estado, para prestar serviço de suporte técnico às CFC’s que adquirirem as
máquinas das respectivas empresas.
A mesma lei não obriga as
autoescolas a adquirirem o simulador, embora estas reconheçam a importância
pedagógica da ferramenta. Nesta situação, os alunos são encaminhadas para outra
CFC que possua a máquina para que as aulas práticas tenham continuidade.
Os gastos parecem não
inviabilizar o trabalho das autoescolas. Para o presidente do SIPROCFC-RN, é
necessário modernizar os centros de formação. “Enquanto outras indústrias
avançam, como a própria automobilística, nós estamos parados no tempo”,
afirmou. Machado acrescenta que há uma preocupação constante com a qualidade da
formação. “Estamos lidando com vidas. O Brasil fez um acordo na ONU para
reduzir os índices de acidentes nas estradas. Então, a preparação dos alunos
nos simuladores tende a contribuir para uma boa formação e, portanto, reduzir
os números”, pontuou.
Motorista de primeira viagem
O repórter que assina esta
matéria topou o desafio de experimentar o simulador de direção, conforme
descrito no relato que se segue:
Confesso que recordei-me dos
tempos em que eu tinha contato com outro tipo de simulador, o dos shoppings.
Não tinha a preocupação em ultrapassar velocidade, bater em outros veículos,
chegar ao game over. Entretanto, neste caso, a brincadeira era coisa de gente
grande, além de séria, muito séria. O game over não poderia ser tão banal
quanto em um videogame.
Não possuo carteira de
motorista. Portanto, sou leigo no assunto. Até arrisco alguns nomes como
direção, câmbio, freio, acelerador, embreagem... Mas saber a hora de usar cada
uma é que foi o verdadeiro teste de fogo. As aulas com o simulador contam com a
presença de um instrutor, que repassa ao aprendiz as primeiras noções. Em
seguida, é só reproduzir os comandos. Deixa a marcha em ponto neutro, gira a
chave, solta o freio de mão, pisa na embreagem, passa a marcha. Agora é só
curtir o passeio.
Aliás, para um motorista de
primeira viagem não tinha como curtir a paisagem. Primeiro, pela ansiedade em
ter que guiar um carro (mesmo que simulado). Segundo, estava de noite, só se
via os farois dos demais veículos. Luminosidade alta, inclusive, um notório
desrespeito ao código de trânsito, tão fiel à realidade. Pelo menos de
legislação mostro que entendo um pouco.
De volta ao simulador, a
reprodução da realidade se apresenta fidedigna desde a composição das peças do
veículo. Pisava fundo no acelerador e na embreagem, assim como passava a marcha
com a mão cerrada. Não era necessário. Com o aperfeiçoamento da indústria
automobilística, e, pelo que parece, dos simuladores também, bastava um leve
toque nos pedais ou dois dedos para mudar de câmbio.
Passar da 2ª para 5ª marcha,
ou até esquecer de passá-la, dirigir em alta velocidade em trechos não
permitidos, foram alguns exemplos de minha imperícia ao volante. Dá para
relevar. Ao mesmo tempo, uma voz feminina me orientava durante meu passeio em
zigue-zague. Mas não era uma orientação do tipo GPS, era um aviso para ligar a
seta sempre quando mudasse de faixa. E quando eu ligava, sempre indicava para
sentidos opostos a qual eu me dirigia. Uma confusão só. O resultado dessa
salada, foi a “bela” de uma colisão contra uma placa de sinalização. Acabei com
o pára-brisa. Ainda bem que o Detran ainda não está recebendo os desempenhos
dos alunos, porque baseado nessa experiência eu estaria ferrado.
De modo geral, nada que a
prática para adquirir o aprendizado e a firmeza necessária para conduzir um
automóvel. Desde que, evidentemente, orientado por profissionais capacitados.
Em um trânsito cada vez mais insano nas grandes cidades, e que Natal se inclui,
faz-se necessário ter uma formação adequada. O simulador, mesmo com os custos e
a demora que possa exigir na obtenção da CNH, pode ser uma etapa importante
para a formação de motoristas conscientes e cumpridores das leis de trânsito,
além de nos preparar para todo tipo de situação decorrente do trânsito.
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