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Foto: Nelson Coelho / Agência
O Globo
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Dirigentes da CBF viajam na
próxima semana para Europa. Trarão na bagagem a pioneira aprovação da
International Football Association Board (IFAB) para o uso do Árbitro de Vídeo
(AV) em jogos da Série A deste ano, a partir de 15 de maio. Após ter o pedido negado
em 2015, o Brasileiro, a partir de maio, será o primeiro campeonato do mundo a
usar imagens para corrigir erros de arbitragem no decorrer das partidas.
– Serão novos olhos para
quando o juiz estiver cego – disse Manoel Serapião, ex-árbitro da Fifa e autor
do projeto da CBF.
AS ETAPAS ATÉ ENTRAR EM VIGOR
Em meio aos sucessivos casos
de erros de arbitragem em 2015, a CBF pediu à Fifa autorização para o uso de
imagens. Teve o recurso negado. Mas abriu a discussão na International Board,
órgão que regulamenta as regras do futebol, que incluiu a votação para
aprovação dos testes na agenda da Reunião Geral, a partir de 5 de março, em
Cardiff, no País de Gales.
Antes, o comitê da CBF vai à
Londres, na próxima terça-feira, apresentar e debater o seu projeto com a IFAB.
Depois, no dia 29, na sede da Fifa em Zurique, na Suíça, uma segunda rodada de
reuniões para fazer os ajustes da proposta final a ser levada a Cardiff, onde,
enfim, será definida a padronização mundial da regra.
Além do Brasil, nove países se
candidataram, mas apenas três matrizes de projeto foram consideradas: a do
Brasil, dos Estados Unidos e a da Holanda. As diferenças entre os três seriam
pequenas, e a tendência é uma fusão.
A aprovação da nova regra na
Reunião Geral da IFAB será feita por meio de voto. A comissão é formada por
Inglaterra, País de Gales, Irlanda e Escócia, além da Fifa. Cada país tem
direito a um voto, enquanto a Fifa tem direito a quatro. Como já teria indicado
a sua tendência a aprovar o teste no Brasileiro, a entidade precisaria de mais
dois votos (3/4) para fazer valer a sua vontade.
– O que mudou, de setembro
para cá, foram os consensos a cada reunião da IFAB. Em uma delas, os membros
disseram que aprovariam facilmente e colocariam em testes já, no Brasileiro,
que será o primeiro campeonato a começar. Se fosse o contrário, jamais entraria
em pauta na Reunião Geral, onde a Fifa precisa de 3/4 dos votos – disse
Serapião.
A primeira indicativa que o
Video Assistant, como a IFAB chama a novidade, seria aprovado surgiu durante o encontro
anual da entidade, em janeiro, em Londres. A diretoria deu uma forte
recomendação para que os testes fossem colocados em prática este ano após a
aprovação em Cardiff.
Para manter o princípio de
igualdade do regulamento, a CBF planeja utilizar equipes nos dez jogos de cada
rodada ao custo de aproximadamente R$ 12 milhões este ano. Cada “time”
instalado em uma cabine especialmente montada nos estádios será composto por um
AV e, ao menos, um técnico para a rápida edição de reprises das imagens, que
serão gravadas para consultas posteriores.
Empresas de tecnologia de
imagens aplicadas em outros esportes, como o vôlei, já foram consultadas e
enviaram orçamentos à CBF. A princípio, seriam até oito câmeras próprias por
jogo distribuídas ao redor dos campos da Série A.
– A ideia é evitar que os
erros da arbitragem sejam tema em 30 das 38 rodadas do Brasileiro – declarou
Serapião.
A atuação do AV não será
indiscriminada e nem precisará interromper o jogo, salvo lances de agressão
fora do campo de visão, pênaltis ignorados e bolas que entraram e o juiz não
viu. E o árbitro de campo não poderá acionar a equipe nas cabines, somente o
contrário, através da comunicação via rádio. O AV estará autorizado a corrigir
erros claros, ao menos para as câmeras, que interfiram no resultado.
– Por exemplo: o jogador é
puxado fora da área, mas cai dentro, e o juiz, equivocado, marca pênalti. O
vídeo está mostrando claramente que é fora. O juiz é informado e, ao invés de
marcar o pênalti, revê a sua decisão para marcar falta fora da área. E não
precisa parar o jogo, porque o pênalti já estava marcado e, naquele meio tempo
entre um lance e outro, o árbitro será avisado – explicou Serapião.
Os árbitros de vídeo serão
treinados a partir de março. O perfil é o de juiz experiente, que já tenha
atuado em campo e sido instrutor da CBF. Durante o treinamento, Serapião dará
exemplos do que pode ou não valer a interferência do AV, mostrando vídeos de
lances polêmicos em partidas nacionais e internacionais. Ele fez uma coletânea
de erros grosseiros recentes, como o gol de Lampard, da Inglaterra, contra a
Alemanha, na Copa de 2010, ignorado pelo juiz mesmo com a bola tendo
ultrapassado a linha em 33cm.
– No Brasileiro de 2015, durante
um Fla-Flu, o zagueiro Wallace ajeita com a mão a bola, que sobra para Emerson
Sheik marcar o gol, que foi validado pelo juiz Ricardo Marques (MG). O juiz
marcou o gol para o Flamengo porque não viu, tinha a visão obstruída ou estava
desconcentrado. Nesse caso, O AV diz para ele invalidar o gol devido à jogada
ilegal – declarou Serapião.
O AV não irá dar informações
ao juiz de campo em caso de lances de interpretação, quando há contato físico
que terminem em falta ou pênalti, mas que sejam discutíveis. A medida visa a
manter a autoridade do juiz principal.
– Um lance no qual há contato
físico que descamba para o campo da interpretação, o AV não interfere. Se o
jogador é puxado pela camisa até a linha do pênalti, cai antes, mas a imagem
não revela com clareza, o AV não interfere, não opina se não houver discussão,
porque ele não poderá tomar uma decisão que possa ser contestada depois –
afirmou Serapião.
ERROS GROSSEIROS
Os exemplos de equívocos da
arbitragem ao longo da história são variados. Injustiças foram cometidas em
lances capitais de partidas importantes, até em decisão de Copa do Mundo. Como
no caso de Espanha x Holanda, na final do Mundial da África do Sul, em 2010.
Uma entrada extremamente violenta do holandês De Jong no espanhol Xabi Alonso foi
punida apenas com o cartão amarelo. O auxílio do vídeo poderia ter feito o
árbitro americano Howard Webb usar mais rigor no lance, ocorrido na metade do
primeiro tempo. A Espanha foi campeã na prorrogação, mas com um homem a mais
poderia ter tido uma vitória mais tranquila.
Quando usar o vídeo
AGRESSÃO AO ADVERSÁRIO
Dois jogadores se embolam na
linha de fundo, e, discretamente, um deles chuta o rosto do outro. O vídeo
ajuda a mostrar o que o juiz não conseguiria ver.
DENTRO DA ÁREA OU FORA DA
ÁREA?
A bola é lançada para
Balotelli, em Itália x México da Copa das Confederações de 2013. Na corrida,
ele é puxado e cai. Pênalti ou falta na entrada da área?
COTOVELADA EM LANCE PELO ALTO
Um tipo de lance que costuma
ser complicado para o juiz: bola está sendo disputada no alto e de repente
escapa um cotovelo. A câmera está lá para acusar.
DIVIDIDA OU FALTA?
Muita vontade na jogada às
vezes vira “uso de força excessiva”, como gostam de dizer os comentaristas de
arbitragem. No detalhe da imagem fica mais fácil elucidar o caso.
PÊNALTI OU CHOQUE NORMAL?
O goleiro sai para dividir com
o atacante, que dá o drible da vaca. Os dois se chocam, e o atacante cai. O
vídeo ajuda a saber se houve falta ou apenas uma trombada inevitável.
O Globo
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