A crise política que se
instalou no país nos últimos dias pode atrasar a retomada do crescimento
econômico. Nas contas do analista Marcos Casarin, da Oxford Economics, o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficará pelo menos 0,2 ponto
percentual abaixo do esperado no ano que vem por causa da turbulência causada
pela delação premiada da JBS, que caiu como uma bomba sobre o governo do
presidente Michel Temer. Segundo Casarin, o PIB poderia crescer 2,8% em 2018,
mas deve avançar 2,6%, o que considera uma diferença “significativa”. Para este
ano, sua projeção continua sendo expansão de 0,2%.
A estimativa de Casarin se
baseia principalmente nos efeitos de duas variáveis: juros e câmbio. A partir
da reação do mercado financeiro, ele estimou alta no chamado risco-país, espécie
de seguro contra calote, que sobe em momentos de instabilidade, e
desvalorização do real frente ao dólar. Na prática, a combinação desses dois
fatores interferiria nas expectativas de inflação e no comportamento dos juros.
Assim, empresas e famílias ficariam mais cautelosos e deixariam de gastar,
fazendo a economia perder fôlego.
O economista explicou que a
simulação não leva em consideração uma eventual queda de confiança. Nesse caso,
o cenário poderia ser pior.
— Preferi não poluir a
simulação com o choque de confiança negativa porque não acho que será uma coisa
duradoura. Agora, se o Temer quiser adotar uma postura estilo Dilma, aí
realmente o cenário pode mudar — diz Casarin, lembrando que o processo de
impeachment de Dilma Rousseff durou nove meses.
O fator tempo é fundamental
para a recuperação, destaca Casarin. Em sua avaliação, caso o impasse sobre o
futuro de Temer se prolongue por muito tempo, a situação vai se agravar,
trazendo risco de recessão.
— É óbvio que, se isso
desencadear uma crise de confiança profunda, voltaremos para a recessão. A
recuperação é muito frágil. Qualquer episódio mais duradouro, de um, dois ou
três meses, pode aumentar esse efeito — avalia Casarin.
Essa análise é compartilhada
pelo economista Alberto Ramos, analista de América Latina no banco americano
Goldman Sachs. Segundo ele, o que importa não é quem entrará no governo, e sim
que a chamada governabilidade — capacidade de aprovar medidas no Congresso —
seja garantida:
— Não depende de “Temer fica,
Temer vai”. Qualquer que seja a solução, é importante que se recupere a
governabilidade. Não interessa o nome.
Tanto Ramos como Casarin
contam que a crise política é vista com cautela no exterior.
— Há muita curiosidade, muitas
perguntas, tentando entender quais os cenários possíveis — diz Ramos.
ESTRANGEIROS PENSAM NO LONGO
PRAZO
Para Ramos, nem mesmo os nomes
da equipe econômica são tão importantes assim no cenário atual. O que mais
preocupa são as características de quem vier a assumir esses cargos.
— Quem está na equipe
econômica deve ter a capacidade técnica e as convicções certas. E capacidade de
implementar. Todo mundo achava o Joaquim Levy muito competente, mas a
capacidade de implementação era mínima — diz. — Não interessa se é o presidente
A ou B, se é o ministro A ou B. Quem conseguir continuar a formular e
implementar, acho que o mercado reage bem. Não é uma coisa pessoal.
Casarin, da Oxford Economics,
conta que tinha uma apresentação sobre América Latina para investidores, em
Londres, no dia seguinte à revelação, pelo GLOBO, da delação da JBS. Segundo
ele, houve muita curiosidade, mas o clima não era de desespero. Casarin
ressalta que os investidores estrangeiros pensam a longo prazo:
— Investidor brasileiro ganha
dinheiro no curto prazo, operando a curva de juros. O estrangeiro faz
investimentos de longo prazo. A maioria das casas aqui compra ativos e espera.
Com relação ao efeito sobre o
câmbio, Ramos considera que ainda é cedo para dizer como os mercados reagirão:
— Ou vai para R$ 3,50 porque a
coisa piora, ou volta para a casa dos R$ 3,10.
O GLobo
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