
A estimativa de Casarin se
baseia principalmente nos efeitos de duas variáveis: juros e câmbio. A partir
da reação do mercado financeiro, ele estimou alta no chamado risco-país, espécie
de seguro contra calote, que sobe em momentos de instabilidade, e
desvalorização do real frente ao dólar. Na prática, a combinação desses dois
fatores interferiria nas expectativas de inflação e no comportamento dos juros.
Assim, empresas e famílias ficariam mais cautelosos e deixariam de gastar,
fazendo a economia perder fôlego.
O economista explicou que a
simulação não leva em consideração uma eventual queda de confiança. Nesse caso,
o cenário poderia ser pior.
— Preferi não poluir a
simulação com o choque de confiança negativa porque não acho que será uma coisa
duradoura. Agora, se o Temer quiser adotar uma postura estilo Dilma, aí
realmente o cenário pode mudar — diz Casarin, lembrando que o processo de
impeachment de Dilma Rousseff durou nove meses.
O fator tempo é fundamental
para a recuperação, destaca Casarin. Em sua avaliação, caso o impasse sobre o
futuro de Temer se prolongue por muito tempo, a situação vai se agravar,
trazendo risco de recessão.
— É óbvio que, se isso
desencadear uma crise de confiança profunda, voltaremos para a recessão. A
recuperação é muito frágil. Qualquer episódio mais duradouro, de um, dois ou
três meses, pode aumentar esse efeito — avalia Casarin.
Essa análise é compartilhada
pelo economista Alberto Ramos, analista de América Latina no banco americano
Goldman Sachs. Segundo ele, o que importa não é quem entrará no governo, e sim
que a chamada governabilidade — capacidade de aprovar medidas no Congresso —
seja garantida:
— Não depende de “Temer fica,
Temer vai”. Qualquer que seja a solução, é importante que se recupere a
governabilidade. Não interessa o nome.
Tanto Ramos como Casarin
contam que a crise política é vista com cautela no exterior.
— Há muita curiosidade, muitas
perguntas, tentando entender quais os cenários possíveis — diz Ramos.
ESTRANGEIROS PENSAM NO LONGO
PRAZO
Para Ramos, nem mesmo os nomes
da equipe econômica são tão importantes assim no cenário atual. O que mais
preocupa são as características de quem vier a assumir esses cargos.
— Quem está na equipe
econômica deve ter a capacidade técnica e as convicções certas. E capacidade de
implementar. Todo mundo achava o Joaquim Levy muito competente, mas a
capacidade de implementação era mínima — diz. — Não interessa se é o presidente
A ou B, se é o ministro A ou B. Quem conseguir continuar a formular e
implementar, acho que o mercado reage bem. Não é uma coisa pessoal.
Casarin, da Oxford Economics,
conta que tinha uma apresentação sobre América Latina para investidores, em
Londres, no dia seguinte à revelação, pelo GLOBO, da delação da JBS. Segundo
ele, houve muita curiosidade, mas o clima não era de desespero. Casarin
ressalta que os investidores estrangeiros pensam a longo prazo:
— Investidor brasileiro ganha
dinheiro no curto prazo, operando a curva de juros. O estrangeiro faz
investimentos de longo prazo. A maioria das casas aqui compra ativos e espera.
Com relação ao efeito sobre o
câmbio, Ramos considera que ainda é cedo para dizer como os mercados reagirão:
— Ou vai para R$ 3,50 porque a
coisa piora, ou volta para a casa dos R$ 3,10.
O GLobo
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