
O aumento acontece em um ano
marcado pelos massacres em presídios, pelo acirramento de uma briga de duas
facções do crime organizado (Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho),
dificuldades de investimento dos Estados na área e um plano federal de apoio
que avança menos que o prometido.
Em âmbito local, o aumento é
puxado pelas elevações registradas em Estados nordestinos, como Pernambuco. Se
o País teve 1,7 mil homicídios a mais neste semestre, boa parte, 913, se deve à
derrocada do Pacto Pela Vida, programa pernambucano que vinha conseguindo
reduzir os assassinatos na última década, enquanto a região mantinha a
tendência de alta.
A onda de violência tomou as
cidades pernambucanas, assim como foi intensificada no Ceará e no Rio Grande do
Norte. Quatro dos 11 Estados que tiveram aumento no ano estão no Nordeste.
Se as disputas relacionadas ao
tráfico de drogas explicam parte da alta, é necessário, em outra medida,
alertam especialistas, entender como essa dinâmica funciona. O professor da
Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-Minas), e ex-secretário adjunto
de Defesa Social do Estado, Luis Flávio Sapori se debruçou sobre inquéritos de
homicídios de Belo Horizonte e Maceió para testar essa máxima.
Em estudo divulgado neste mês,
chegou a conclusões importantes. “Os dados empíricos apresentados até o momento
confirmam que a principal motivação dos homicídios nas capitais estudadas
deriva de conflitos no mercado das drogas ilícitas. Entretanto, os patamares do
fenômeno são bastante inferiores ao que é geralmente propagado por autoridades
políticas e de segurança pública.”
Ele explica que o tráfico e os
traficantes acabam por gerar uma “difusão da violência”. “Nas relações
afetivas, nas relações familiares, nas relações de vizinhança e na
sociabilidade cotidiana, os comerciantes das drogas ilícitas tendem a utilizar
o mesmo padrão violento de resolução de conflitos vivenciado nas relações
estritamente econômicas com parceiros, com concorrentes, com fornecedores e com
clientes”, diz. “E a posse da arma de fogo é elemento decisivo nesse fenômeno”,
completa.
O professor destaca que as
conclusões, com base nessas duas cidades, podem ser usadas na análise da
realidade do País. “Isso explica boa parte do que está acontecendo nas cidades
brasileiras, onde o tráfico se consolidou como matriz dos homicídios. Mas é
necessário fomentar estudos locais para entender as singularidades e levá-las
em consideração na elaboração de políticas públicas”, diz.
A antropóloga e professora da
Universidade do Estado do Rio (Uerj) Alba Zaluar atribui o aumento da violência
ao “fim do investimento nos projetos e nas polícias estaduais comprometidas”
com a prevenção. Ela lembra os exemplos do Pacto pela Vida, em Pernambuco, o
Fica Vivo, em Minas, o Estado Presente, no Espírito Santo, e as Unidades de
Polícia Pacificadora (UPP) no Rio. “Os efeitos benéficos começaram a ser
revertidos, agora ainda mais evidentes pela ausência de investimento público
neles. Em diferentes porcentuais, as taxas de homicídio voltaram ao padrão
observado em 2009, antes da implementação desses projetos”, escreveu ao Estado.
“Se os projetos queriam ganhar
os jovens atraídos pelos comandos de crime organizado que atuam hoje em todo o
território nacional, seria também crucial fazer com que a atração exercida por
este importante ator nas trevas das atividades empresariais diminuísse.
Infelizmente não diminuiu”, diz. “Nada foi feito para mudar essa atração pelo
negócio ilegal altamente lucrativo. Enquanto nada for feito, vamos ficar
investindo muito para ver todo o gasto ir embora pelo ralo.”
O Ministério da Justiça foi
questionado pela reportagem sobre a elevação do semestre no País, mas não
comentou. Sobre o Plano Nacional de Segurança, destaca que “os investimentos
inicialmente previstos foram revisados e adequados com a realidade financeira
da União e perfeitamente absorvidos pelos Estados, que adaptaram as ações
propostas de modo a atingir os resultados. Paralelo a isso, ações de
capacitação e doação de equipamentos estão sendo realizadas.”
Estadão Conteúdo
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